Carla Simões herdou do pai este bichinho da construção ao acompanhá-lo nas obras onde trabalhava. A casa é o lar para onde quer voltar todos os dias, onde guarda “apontamentos que fazem sorrir” e que por isso se torna um prazer poder proporcionar o mesmo tipo de alegria a outras pessoas. Gosta de decorar principalmente os espaços onde se relaxa e nada bate o momento em que o projeto sai do papel para a realidade.
“Parte da minha infância foi passada nas obras. Quando não estava de férias na casa dos meus avós, estava nas obras com o meu pai, ele levava-me a mim e à minha irmã para não ficarmos sozinhas em casa. Por isso, desde muito cedo, vi nascer casas, espaços novos! A construção sempre foi um tema recorrente em casa e acredito que por isso, tanto eu, como a minha irmã, seguimos por caminhos dentro desta temática”, conta Carla Simões, sobre uma paixão que cresceu com ela. “Independentemente do tipo de dia que cada pessoa tem, a nossa casa, o nosso espaço, acolhe-nos e dá-nos a energia que precisamos. É muito importante, para o nosso bem-estar termos um sítio onde nos sintamos bem e em harmonia. A importância que a nossa casa tem sobre nós é impressionante e poder ajudar as pessoas nesta área é sem dúvida um prazer”, confessa.
Não tem um estilo de decoração predilecto mas gosta da simplicidade, do “leve e despretensioso, que passe harmonia e leveza do espaço. Utilizar cores claras, texturas e apontamentos que nos façam sorrir e pensar em coisas boas”, explica. Foi precisamente esta filosofia que levou para a construção do seu Piso Zero. “Os sonhos começaram numa folha em branco. Mesmo quando queremos fazer alterações num simples espaço, existe o sonho de começar algo de novo, do zero, de criar novas experiências e novas vivências naquele espaço. Assim como uma casa nasce do zero, com a construção do primeiro piso, também os sonhos nesta área partem do zero. Quem tem o desejo de ter um lar, começa pelo sonho, começa do zero, daí o nome Piso Zero”, revela, nome esse que deu à página do Instagram onde faz partilhas sobre arquitectura e decoração.
Salas, quartos e espaços de criança são os predilectos
Se tivesse de escolher os espaços que mais gosta de decorar, ele “salas, quartos e espaços de criança” porque são “espaços que usamos para relaxar e carregar energias”. Uma boa decoração, para Carla Simões, tem antes de tudo “uma base neutra. Vai fazer com que não nos sintamos tão cansados daquele espaço. Muitas vezes, sentimos cansaço e nem sabemos bem explicar de onde vem, e o espaço que nos acolhe pode ter essa influência sobre nós. Os maiores erros, são sem dúvida a falta de planeamento, a escala errada das principais peças de mobiliário e elementos a mais”, aponta. Tem participado em muitos projectos de decoração, sobretudo à distância, em regime on-line, e destaca o projecto feito para a florista da sua cidade. “Das maiores conquistas é quando juntamente com a arquitetura, faço também toda a escolha de acabamentos e depois decoração. Poder ver o projeto sair do papel é, sem dúvida, aquele momento em que vimos a nossa ideia ganhar forma”, conta.
O maior desafio continua a ser a própria casa. “É na minha casa que vou testando as ideias que me vão na alma e não são poucas…e por isso a dificuldade é não estar sempre com as mãos na massa a mudar coisas! E por ver tantas opções, também se torna difícil projectar para mim própria, digamos que sou uma cliente difícil”, brinca. Começou por partilhar on-line as suas criações para construir “uma espécie de portefólio” que lhe permitisse divulgar o trabalho mas com o passar do tempo não quis mais “guardar o que sabia. “Não adicionava nada às pessoas mostrar o que fazia, mas sim mostrar como também elas o podiam fazer. Comecei então a partilhar ideias e formas de ver a nossa casa e isso fez com que as pessoas passassem a olhar mais à sua volta e a perceber que muitas vezes, de forma simples, podem facilmente mudar algo nas suas casas. Hoje em dia, partilho sobretudo dicas de decoração e mudanças que vou fazendo na minha casa”, afirma. A comunidade recebeu essas dicas de braços abertos. “Continua a ser estranho falar com pessoas que não vejo e fico sem palavras para o carinho que recebo do outro lado. As pessoas não têm noção da companhia que me fazem! Muitas das pausas ao longo do dia de trabalho não são para ir tomar o tal cafezinho, são sim para falar com quem está do outro lado e perdeu cinco minutos do seu dia para me ver e falar comigo. E o facto de alguém que só me conhece através das redes sociais ter esse carinho e esse cuidado, deixa-me muito agradecida. Todo o feedback que recebo do outro lado, tem muita importância no meu dia e no trabalho”, salienta.
As mensagens que mais chegam vêm acompanhadas de fotografias de espaços com a famosa pergunta “Como mudar?”. “Questionam como podem mudar a cabeceira de cama, como mudar um móvel sem o pintar, qual a mesa que deveriam comprar, etc. Mas se fosse assim tão fácil de mudar um espaço… qualquer um o fazia! Mudar um espaço implica conhecer a dinâmica, a vivência e as necessidades de quem vai habitar um espaço! Quando se tem muito a necessidade de estar sempre a mudar é porque se vive num espaço que não foi bem pensado e/ou que não está em harmonia com a pessoa. O planeamento é a chave, é o ponto de partida de qualquer espaço! Com planeamento, sabemos o caminho que devemos percorrer, sem nos perdermos. Não existem receitas prontas e rápidas. Cada espaço é único, pois quem o habita também é único”, frisa. Quando começou a fazer projectos de arquitectura, Carla Simões sentiu “uma lacuna na área. Não bastava desenhar uma sala, uma cozinha, sem pensar nas possibilidades de decoração, de layout que esse espaço iria permitir. Por isso, tirei um curso de decoração de interiores. A partir daí a paixão por decoração foi aumentando e claro que tenho algumas ideias que faltam colocar em prática. O que me falta sobretudo é criar recursos digitais, que realmente ajudem o maior número de pessoas, a serem felizes nas suas casas”, refere, deixando no ar projectos futuros nesta área que não vai deixar escapar.
