O coração parte a cada palavra que escrevo. O grande sonho profissional termina passados dois anos de empenho e 12 edições concluídas. A Magafone foi o que prometeu, uma inovação no mercado da comunicação social e um quebrar de barreiras instituídas que habitualmente apenas dão palco às mesmas vozes, às mesmas caras, aos mesmos assuntos. Aqui falamos de racismo, de cancro, de luto parental, de bullying, de desperdício alimentar, de Alzheimer. Aqui falamos de assuntos cortantes, que muitas vezes nos fazem querer olhar para o outro lado, mas que no fundo sabemos que ter conhecimento sobre eles é fundamental para esta experiência a que chamamos vida.
A Magafone permitiu-me realizar profissionalmente o que até então não tinha conseguido atingir no jornalismo, total liberdade de tratar temas que precisavam de ver a luz da mente dos leitores, e permitiu-me também, inesperadamente, estender a minha atuação na área da comunicação através de convites e trabalhos pelos quais nunca pensei enveredar. A Magafone trouxe-me projeção e foi essa projeção que me garantiu, enquanto empresária e enquanto jornalista, sobrevivência nestes últimos dois anos, e não o retorno financeiro que com esta publicação consegui. Infelizmente, o mundo do jornalismo é tudo menos rentável, o modelo das notícias disponibilizadas gratuitamente impôs uma cultura de “não pagar para ler” e os monopólios dos grandes grupos que detêm os principais órgãos de comunicação social continuam a encerrar sobre eles grande parte dos patrocinadores que ainda investem nesta área, mas que não vêem nada à frente a não ser lucros, o que implica que pequenos projectos cheios de valor acabem por ser confinados aos poucos recursos que os seus impulsionadores detêm.
Assim, e com o trabalho em comunicação fora da revista a aumentar a cada dia, amarrada pelos constrangimentos absurdos que a CCPJ impõe, e sendo que o tempo despendido com a Magafone nunca é pouco, vejo-me obrigada a escolher, e infelizmente o ser humano tem necessidades básicas para suprir que exigem algo mais do que o valor emocional. Suspendo a Magafone com tristeza, uma tristeza, porém, recheada de orgulho pelo que alcancei neste tempo, pela comunidade entusiasta que à volta desta publicação se reuniu, pelos temas que pude fazer chegar até aos leitores, pelas pessoas que graciosamente me deram o seu tempo e me abriram as suas almas para contar histórias verdadeiramente tocantes, por toda a gente que ajudou a levantar este projecto que começou com uns gatafunhos num guardanapo. Dei tudo de mim nesta década que dediquei ao jornalismo desde que concluí a minha formação, e dei ainda mais, muito mais do que algum dia pensei dar, nestes dois últimos anos, mas chegou o momento de dizer adeus. Afinal, mesmo os grandes amores, quando não são recíprocos, têm um dia de acabar.
Daniela Castro Soares
Directora Editorial Magafone