Aos 15 anos, os meus pais inscreveram-me numa escola de pintura sem eu ter pedido ou falado de uma qualquer vontade, motivação ou interesse pelas Artes. Não sei porque tomaram essa decisão que veio a definir o meu percurso artístico e, mais do que isso, a minha forma de estar no mundo. A pintura faz-me falta e espero que faça falta aos outros a partir do momento em que a adiciono ao mundo. Não sei se a pintura pode exigir a quem a vê a dedicação e as horas demoradas de quem a fez, mas conto que a minha pintura consiga convidar o espectador a abrandar o olhar e a morar dentro da pintura.
É exatamente isso que a minha pintura pretende ser: um convite a nos demorarmos em lugares imaginários que, no entanto, nos parecem tão familiares. A arquitectura está sempre presente e desenha a paisagem, embora disfuncional, errada e impossível. No entanto, seduz o espectador para uma experimentação sensorial e física destes lugares e da própria pintura e, para isso, privilegio dois elementos fundamentais: a cor como elemento visual e expressivo pelo qual desenvolvi um fascínio e obsessão e que me apresenta desafios diários na manipulação e gestão das suas relações e tensões; e a tridimensionalidade, volume e corporalidade da pintura, que pretende sair de si mesma e, talvez, tornar-se objecto, escultura ou arquitectura.
Deste modo, a minha pintura assume diferentes escalas, materiais e processos para dar forma ao meu elemento de eleição: a casa e, mais recentemente, a casa da árvore enquanto contexto experiencial alternativo e sedutor ao qual podemos aspirar como refúgio, fortaleza ou, em última instância, um novo ponto de vista sobre o mundo. A pintura pode evidenciar a sua componente sedutora associada ao prazer da experimentação, ao impacto visual e à beleza. Quero, acima de tudo, que a pintura faça a diferença, que faça sentir e reflectir. Quero poder continuar a pintar.