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Donos de uma Pequena Grande Casa, o casal Ricardo Pereira e Mafalda Fernandes construiu um lar peculiar na freguesia dos Fenais da Luz, em Ponta Delgada, nos Açores. Sustentável na construção, através da escolha de materiais locais e reaproveitados, e sustentável no funcionamento, já que está completamente “fora da rede”, com sistema de compostagem, painéis solares e filtragem da água da chuva. O exemplo que o planeta precisa.

Ricardo Pereira, de Beja, e Mafalda Fernandes, de Lisboa, encontraram o seu lar em S. Miguel. Sempre com o orçamento contado, venderam a carrinha Volkswagen e compraram um terreno onde deram largas à imaginação despoletada pelo casal de amigos suecos já conhecedor das andanças das tiny houses. “Eles estavam cá a passar férias e tinham feito uma tiny house em madeira para colocar em cima de uma carrinha com o objectivo de dar a volta à Europa. Ficámos amigos e falámos imenso sobre este tipo de construção. O entusiasmo foi tão grande que começámos à procura de soluções nesse sentido para o nosso terreno”, conta Ricardo Pereira. Ajudaram as formações prévias de Mafalda Fernandes em construção natural e a certeza de que “seria possível não estar ligado à rede. Sempre achei que iria viver numa carrinha ou numa casa de madeira, e aconteceu”, afirma Mafalda Fernandes.

A construção começou em Maio de 2017 e terminou em Dezembro de 2018, pouco a pouco, consoante o tempo e a disponibilidade financeira do casal. A reboque do pequeno Fiat 600, que naquela altura se transformou em oficina, a tiny house causou espanto entre os habitantes locais quando se deslocou sobre rodas pelas estradas açorianas. “Que raio de coisa, uma casa a andar”, lembra Ricardo Pereira, rindo. Os familiares e amigos acharam que eles eram “um bocado malucos. Sempre foram muito cépticos, mas nós sabíamos que não era nada que já não tivesse já sido feito. As tiny houses são um movimento forte nos EUA, Austrália, Canadá. Neste sítio, era a primeira vez”, diz. A comunidade on-line ajudou muito em todo o processo de construção e por isso hoje o casal mantém a página A Pequena Grande Casa aberta para retribuir toda a ajuda que lhes foi dada. “Gostamos de retribuir para quem quer fazer o mesmo, podem contar connosco para qualquer ajuda”, afirma Ricardo Pereira.

A casa, de 45 metros quadrados, foi toda feita com madeira da ilha, utilizando “o máximo de materiais em segunda mão possíveis”. A energia é produzida a partir de painéis solares e baterias de carros elétricos recicladas que foram instaladas, permitindo o acumulamento da energia durante o dia e sua utilização à noite. Para o esgoto, começaram com uma sanita seca mas passaram para um sistema de compostagem. “Funciona igual ao que temos numa casa normal mas em vez de ir para a fossa, vai para dentro de um tanque de minhocas e elas fazem o tratamento desses resíduos”, explica Ricardo Pereira. Já a água vem da chuva, reaproveitada através de um sistema fechado de tratamento com filtros de sedimentos, carvão, luzes UV. “De resto, temos uma vida completamente normal”, afirma. Sempre, claro, com consciência. “Tentamos comprar produtos locais, a granel, para reduzir o número de embalagens, temos esses cuidados”, acrescenta Mafalda Fernandes. Têm uma horta de onde retiram “especialmente os verdes” mas gostam da rotina de ir ao mercado visitar os amigos. “Faz parte de uma saudável coabitação com os pares, é bom sermos interdependentes uns dos outros e não independentes só a olhar para o nosso umbigo. Todos dependemos de todos”, salienta Ricardo Pereira.

As tiny houses são o futuro? “Será obrigatoriamente o caminho, quer as pessoas queiram quer não. Ou a mudança é feita com cabeça e vontade ou o próprio planeta nos vai obrigar a mudar”, diz Ricardo Pereira. A casa, essa, será sempre um work in progress. “Há margem para melhorar”, dizem os dois, rindo, lembrando a fachada, os móveis, o sistema da água, que ainda precisam de trabalho. “Há sempre muita coisa para fazer e outras coisas que vamos inventando”, atira Mafalda Fernandes. Sobre as aprendizagens dos filhos com este conceito, esperam que se tornem seres humanos “resilientes, criativos, proativos, cooperantes e, sobretudo, felizes e conscientes da forma como vivem e do impacto que têm na Natureza”.

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