Desde pequena que via a mãe a divertir-se a combinar padrões e formas e ganhou gosto pela área da moda e pelo conceito de que a roupa é apenas mais uma maneira de as pessoas se exprimirem. Susana Pires Trigo é consultora de imagem e considera um “privilégio” poder contribuir com as ferramentas certas para que as clientes possam melhorar o seu dia-a-dia.
Estudou design gráfico e styling mas quando surgiu a hipótese de aprofundar conhecimento sobre consultoria de imagem, Susana Pires Trigo aproveitou o que acabaria por ser a ponte para trabalhar directamente com o cidadão comum. “Trabalhei em revistas e produções de moda mas faltava-me a conexão com pessoas. Nos exercícios práticos da formação, apaixonei-me pela ideia de trabalhar com mulheres reais”, revela. Demorou a deixar o styling, até porque na altura havia a filosofia das peças essenciais que serviam para todos os corpos e ela “não se revia nessa linha de pensamento. Ao aprofundar os estudos, percebi que existiam várias linhas de actuação e que podia ensinar a utilizar a roupa como uma forma de comunicação e expressão em vez de restrição”, refere.
Assim, começa um caminho que, na verdade, foi impulsionado pela mãe. “Lembro-me de crescer entre revistas de moda que a minha mãe encomendava, ela era exímia a misturar padrões e formas e cresci a observar tudo isso pelos seus olhos. Mandava fazer quase toda a sua roupa, tinha vários armários (nunca deitava nada fora) e adorava ir a todos e misturar peças. Desde cedo, olhei para a roupa como forma de expressão”, recorda. Parte de uma geração “inundada pelos filmes e séries sobre o mundo da moda e pelos traumáticos programas de mudança de imagem em que deitavam um guarda-roupa inteiro para o lixo”, apostou na consultoria de imagem um pouco a medo mas “cheia de entusiasmo. Parece uma profissão leve mas sempre senti o peso do impacto que as nossas palavras podem ter numa cliente”, salienta.
Quando se entra na casa de uma cliente, diz Susana Pires Trigo, “estamos a ser convidados para o seu ambiente íntimo. A roupa, especialmente para mulheres, pode ter uma carga de insegurança e dúvidas e há que ter um enorme respeito e cuidado com a cliente e as palavras utilizadas. É o momento dela, tem de existir um ambiente livre de julgamentos e opiniões pessoais, não estamos a opinar sobre o que fica bem segundo o nosso gosto, mas sim a prover estratégias práticas para alinhamento de desejos e necessidades de guarda-roupa”, declara. Uma profissão em que “a experiência de atendimento ajuda a aliar o cuidado com a linguagem, ferramentas e conhecimento que são necessários transmitir”.


Traduzir em roupa as necessidades
Com um “crescimento acentuado” em Portugal, a consultoria de imagem, acredita Susana Pires Trigo, foi potenciada pelo “cada vez maior impacto” que a forma como nos apresentamos tem na sociedade actual. “Existe um maior cuidado com a imagem e a necessidade de alinhar quem somos com o que vestimos e nos representa”, sublinha. As clientes que a procuram, estimuladas pelos “resultados que vêem nas amigas ou colegas”, normalmente estão a passar por “uma mudança de vida pessoal ou profissional em que sentem alguma dificuldade em traduzir em roupa as suas necessidades: uma estudante que ingressa no mercado de trabalho, uma mulher que se tornou mãe recentemente, uma mudança ou avanço na carreira”. Procuram, também, “funcionalidade. Cada vez mais existe a vontade de simplificar o momento de vestir no dia-a-dia, mantendo uma imagem cuidada e coesa”.
O processo de consultoria de imagem é “sempre sobre a cliente. É uma descoberta de desejos, necessidades, prioridades e objectivos através de exercícios e a tradução deles em roupa. É uma aprendizagem para a cliente e exige trabalho da sua parte de forma a chegar ao melhor resultado possível”, explica Susana Pires Trigo, salientando que “a consultora apresenta as ferramentas e estratégias necessárias, mas idealmente a cliente acaba a consultoria a ser a sua melhor conhecedora em termos de guarda-roupa”. Para Susana Pires Trigo, o estilo pessoal foi evoluindo com a idade. Em jovem, “apreciava um estilo mais criativo e recheado de tendências” e com “o tempo, estilo de vida e conhecimento na área” definiu mais concretamente “o que gosta ou não gosta” e “dá primazia à qualidade de tecidos, mistura de texturas e linhas clean com um toque de fluidez”.
“É possível ter um estilo consistente com pontos de interesse diferentes”
Intenção, conforto e acessórios
Na ajuda no processo de transformação de imagem, Susana Pires Trigo deixa alguns conselhos. A evitar, um guarda-roupa “não adequado à vida que se tem”; a escolha de tamanhos de roupa errados, que “acontece mais do que seria de esperar”; e vestir o mesmo look todos os dias. “É possível ter um estilo consistente com pontos de interesse diferentes”, diz. Não defende peças-chave mas sim acções como a intenção na compra, para que esteja alinhada com os objectivos pessoais; sentir-se “confortável e confiante” com o que se está a vestir; e, sobretudo, “acessorizar. Os acessórios são muito desvalorizados e podem transformar um look e dar uma sensação de união visual”, refere.
O futuro na área da consultoria de imagem passará sempre pelo trabalho com clientes individuais, seja “presencial ou on-line. É um privilégio conseguir proporcionar ferramentas que facilitam o dia-a-dia de uma mulher de uma forma exponencial e é o que quero continuar a fazer. Gostava cada vez mais de mostrar que a consultoria pode acrescentar a qualquer pessoa, não é um serviço só para alguns, pode ser para todos, adaptado às suas necessidades”, revela. Em termos de desafios, propõe-se a promover eventos de grupo, um plano adiado de 2020, e, acima de tudo, “crescer na profissão e aprender continuamente de forma a disponibilizar o melhor serviço possível às clientes nesta área em constante evolução”.