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Marta Teixeira, mais conhecida como Miss Curly, é uma tricologista natural do Porto que emigrou há alguns anos para o Reino Unido, para trabalhar como enfermeira, e abriu agora o seu próprio consultório, onde recebe clientes que chegam “desesperadas” com os seus problemas de cabelo. Uma conversa sobre o mundo dos cabelos naturais, os maiores erros para a saúde capilar e o caminho que ainda falta percorrer em Portugal.

Tricologista. Uma palavra que ainda soa estranho à maioria da população mas que é fácil de descrever. “A tricologia é a área que estuda o cabelo e o couro cabeludo”, explica Marta Teixeira, enfermeira anestesista do Porto recentemente formada em Tricologia e com o seu próprio consultório no Sul de Inglaterra. “Em Inglaterra, os dermatologistas não são tão focados em cabelo, então tira-se uma formação à parte mais específica sobre doenças de cabelo e couro cabeludo. Aqui, esses profissionais de saúde chamam-se tricologistas, em Portugal esta profissão não existe, o que existe são dermatologistas com esta formação”, refere, acrescentando que o seu trabalho é “ajudar os utentes a encontrar soluções para os problemas de cabelo e couro cabeludo e, nos casos mais graves, encaminhar para um dermatologista”.

O interesse por esta área começou por mero acaso através da sua experiência pessoal. Durante anos, Marta Teixeira achou que o seu cabelo era um “liso estranho” e, seguindo o exemplo da mãe que o alisava semanalmente no cabeleireiro, adoptou o hábito de esticar o cabelo, às vezes múltiplas vezes por dia. “Não sabia de todo cuidar do meu cabelo, não gostava de ver sequer um bocadinho de frizz. Estava tão danificado, porque alisei durante muitos anos, e para piorar um dia deu-me para fazer californianas. O procedimento na cabeleireira não foi bem feito e o cabelo ficou metade loiro e metade moreno, um verdadeiro corte químico, cada vez que eu tocava ou penteava, ele quebrava. Aí percebi que não podia continuar a alisar o cabelo porque eventualmente ia ter de cortá-lo todo”, lembra.

Uma transição que se viu obrigada a fazer e que ainda incluiu alguns “produtos para alisar (séruns, cremes que prometiam alisar), tudo em vão”. A solução, lembrou-se, podia estar em “encaracolar o cabelo”. Surgem então, nas suas pesquisas, “as divas do cabelo encaracolado, as mulheres brasileiras, e as suas imensas técnicas e produtos. O meu cabelo sem creme é um liso estranho, não fica encaracolado e todo este processo de experimentação foi uma descoberta, descobri um cabelo diferente”, conta. Eventualmente, “toda a parte estragada do cabelo cresceu, foi cortando e ficou com ele completamente natural e encaracolado. As minhas amigas começaram a perguntar o que tinha feito, desconhecidos abordavam-me no aeroporto, no banco, para perguntar “o que usas no teu cabelo?”, conta. O clique aconteceu – “se calhar devia partilhar isto com mais gente” – e assim nasce a Miss Curly, uma página de Instagram com dicas para aprender a cuidar e “amar o cabelo natural”.

“Se começarmos a ver páginas de cabeleireiros com fotografias de cabelos naturalmente secos é um bom começo”

Mães e cabeleireiras sem conhecimentos capilares abrangentes

Mas qual a causa de tanta desinformação sobre cuidados de cabelo natural? Marta Teixeira acredita que a explicação reside em dois factores. “Vem dos nossos pais. O que passa de geração em geração é cuidar do cabelo como se fosse liso. Lembro-me da minha mãe me pentear o cabelo em seco em criança e doía tanto. As nossas mães nem sempre sabem ver que é um cabelo naturalmente ondulado ou encaracolado”, refere. Nem as mães nem os cabeleireiros. “A formação deles é muito direcionada para cabelos lisos. No final dos procedimentos, levam sempre a cliente a alisar o cabelo e a sair do estabelecimento com o cabelo liso. Já me disseram ‘daqui não sais com cabelo natural, não parece bem’. É mais fácil para eles cuidar de cabelo liso e por isso levam a cliente a fazer alisamentos e progressivas”, explica.

A Miss Curly conhece bem a dificuldade que é “encontrar um profissional que saiba dar dicas e ajude” as encaracoladas. “Recebo muitas mensagens de meninas a pedir dicas de cabeleireiros”, revela. Conjugados, estes dois factores levam a um boom de alisamentos porque as mulheres não sabem cuidar dos cabelos e acreditam que o cabelo liso é mais fácil de arranjar. “Há pouca informação em Portugal”, salienta. Uma das razões que a fez aprofundar os conhecimentos e estudar Tricologia. “Percebi que havia muitos mitos e isso fez com que eu começasse a estudar mais cientificamente esta área e descobri que existe uma profissão que liga ciência a cabelo e tive de tirar este curso”, afirma. Marta Teixeira acredita que, com o tempo, os salões de cabeleireiro começarão a incluir nos seus portefólios mais cabelos encaracolados. “Há cabeleireiras que me seguem e me dizem que aprendem comigo, e isso é fantástico. O caminho faz-se devagarinho. Se começarmos a ver páginas de Instagram de cabeleireiros com algumas fotografias de cabelos naturalmente secos é um bom começo”, diz.

Primeiro erro: Alisar

Sobre erros no cuidado do cabelo, Marta Teixeira é clara: “alisar constantemente. Não sou de ditaduras, se quiserem alisar de vez em quando tudo bem, mas alisar muitas vezes danifica o cabelo. Eu alisei tantas vezes com o ferro que já estava a ficar com a minha linha da raiz bastante fraca, tinha entradas grandes, estava a ficar com pouco cabelo na zona da franja”, revela, alertando que “quando o fio danifica, não há nada que o recupere. Mesmo que publicitem máscaras com proteína, etc., não recupera. Podemos esconder com produtos cosméticos mas ao lavá-lo volta a ter o aspecto danificado. A única coisa a fazer então é deixar crescer e ir cortando”, afirma. Outros dois erros são “pentear o cabelo em seco”, pois estamos a perder a oportunidade de, ao penteá-lo no banho, “descobrir ondas e caracóis que nem sabíamos que existiam”; e “usar diariamente penteados que traccionam muito o cabelo”, como tranças e rabos-de-cavalo muito apertados.” O cabelo vai começando a sair se estiver preso com muita força e pode levar à alopecia por tração”, aponta.

E danos irreversíveis? “Penteados apertados, alguns tipos de extensões, se não se parar na altura certa, podem causar danos irreversíveis. Na comunidade negra, é muito habitual as mulheres usarem tranças e certas perucas e muitas acabam por ficar com alopecia cicatricial porque o fio de cabelo foi arrancado tantas vezes que depois o folículo não produz mais e fica a cicatriz”, explica. Marta Teixeira não se cansa de avisar sobre os perigos dos procedimentos agressivos – descolorações, alisamentos, progressivas – numa base regular. “O ferro passa várias vezes na mesma madeixa. Fazendo um paralelo, nós normalmente não pomos um bolo a 200º no forno porque, se o fizermos, vai queimar. Os utensílios estão, muitas vezes, a essa temperatura e isso leva à desnaturação da proteína no cabelo”, elucida. Para uma boa saúde capilar, é preciso “diminuir a utilização destes utensílios quentes, ter uma boa alimentação (com proteína e ferro) e fazer exercício físico. Além disso, ter bons cuidados de cabelo em casa é meio caminho andado para um cabelo saudável: usar bem o champô (colocar só mesmo no couro cabeludo, não é preciso envolver o cabelo todo na espuma), ter cuidado a desembaraçar o cabelo (começar nas pontas com o pente e depois ir subindo) e usar máscaras, condicionadores, o nosso cabelo adora esses produtos, são eles que vão preencher as falhas e ajudar a dar um aspecto mais saudável e bonito ao cabelo”, revela Marta Teixeira.

“As quedas de cabelo normalmente acontecem dois/três meses após um acontecimento traumático”

Vitaminas para a queda só em casos de falta de nutrientes

Um dos grandes motivos que leva as clientes a procurar ajuda chama-se “eflúvio telógeno”, ou seja, quando o cabelo começa a cair em mais quantidade do que é habitual. Neste caso, Marta Teixeira avalia se se trata de uma situação aguda ou crónica. “Pode ser stress, pós-parto, cessação da toma da pílula, pós-operatório, anemia… Para o corpo, o cabelo é o que menos importa. Numa anemia, por exemplo, dada a falta de nutrientes, o nosso corpo pensa ‘não preciso de levar tanta coisa para o cabelo, levo para onde importa: cérebro, coração, pulmões’. Logo, o cabelo é afectado”, explica. Quando se trata de uma queda aguda, normalmente dura 3 a 4 meses e depois o corpo ultrapassa e para. “As quedas normalmente acontecem 2/3 meses após um acontecimento traumático e o corpo tem de processar. Podemos fazer procedimentos estéticos para estimular o crescimento, mas não conseguimos fazer nada para que o cabelo pare de cair. Ele vai cair e temos de aceitar”, afirma. Nas quedas crónicas, os casos são referenciados para o dermatologista. “A minha sugestão para avaliar a queda é fazer bolinhas com o cabelo e ver se é sempre a mesma quantidade e também analisar se há perda de densidade, isto faz-se amarrando o cabelo e vendo se o diâmetro do rabo-de-cavalo é sempre o mesmo. Se sim, não há motivo para preocupação”, explica.

E as tão aconselhadas vitaminas para o cabelo? “Vitaminas só fazem sentido se houver falta das mesmas. Tomar vitaminas porque se está com mais queda… não é por aí. Um mito que existe é em relação à biotina, todos os suplementos de cabelo têm porque ajuda no crescimento do cabelo, mas se as pessoas tiverem uma alimentação saudável é muito raro terem deficiência de biotina, é mais uma estratégia de Marketing do que outra coisa”, alerta, acrescentando que “os estudos que saíram sobre este assunto foram feitos em pessoas que tinham baixa de biotina. Se são saudáveis e têm uma boa alimentação, à partida não há necessidade para a biotina e outros suplementos. Se notarem queda de cabelo, a minha sugestão é ir ao médico e fazer análises para descobrir a causa”, aconselha. Marta Teixeira diz ainda que se as pessoas mudarem o seu regime alimentar, especialmente se decidirem adoptar o vegetarianismo ou o veganismo, devem fazê-lo com acompanhamento de uma nutricionista para não correrem o risco de eliminar nutrientes essenciais a uma boa saúde capilar.

“Há muita charlatice neste mundo porque se aproveitam das pessoas que estão desesperadas”

Mentorias capilares ajudam a melhorar rotina do cabelo

Além das consultas, Marta Teixeira faz mentorias capilares on-line, em que guia as “mulheres a terem uma melhor rotina para o cabelo. Na minha página, recebo bastantes perguntas mas algumas não dá para responder numa só mensagem, preciso de saber qual a rotina, como anda com o cabelo, que produtos usa. Então, tenho a opção de mentorias de 1h/1h30 em que a pessoa envia-me fotografias de vários ângulos do cabelo e couro cabeludo, os produtos que usa, pente, se já fez procedimentos químicos e durante a sessão pergunto tudo ao detalhe e tento descobrir o que se passa para aquela mulher sentir que não tem a melhor rotina”, explica. Já ajudou desde mulheres que “nem sequer sabiam o que era uma finalização” até outras que seguem o método Curly Girl mas “querem uma opinião sobre como melhorar. Vou ajustando consoante a pessoa e no final o melhor é ver que estão felizes e começaram a gostar do cabelo delas”, afirma, tentando sempre “gerir expectativas” de quem quer um cabelo muito diferente do que aquilo que tem. “Mulheres com cabelo ondulado que querem ter caracóis, por exemplo, digo sempre ‘o teu cabelo é bonito como é, todos os tipos de curvatura são bonitos. Podemos potenciar a curvatura e melhorar a rotina capilar, mas vais sempre ter cabelo ondulado”, revela.

A acrescentar ao conhecimento que já tem, quer começar agora a investir em “formações de tratamentos com validade científica. Existe tanta informação falsa em relação a cabelo. Há muita charlatice neste mundo porque se aproveitam das pessoas que vêem o cabelo a cair e ficam desesperadas. Há pessoas que se dizem tricologistas com cursos de fim-de-semana e o consumidor não sabe a diferença. Para lutar contra isso, quero fazer procedimentos baseados em evidências científicas, como o microagulhamento e o PRP capilar”, revela Marta Teixeira, alertando que este último procedimento, muitas vezes visto como uma “cura” universal, não dá para todos os casos. “A evidência científica é conflituosa. Para uma alopecia androgenética faz sentido, mas para uma cicatricial se calhar não. Quero aprofundar conhecimento para encaminhar as pessoas para o tratamento certo e tirar o curso de prescriber para poder prescrever medicação para os casos mais simples”, afirma. A jovem encontra-se, também, a tirar um mestrado em Dermatologia Clínica e foi convidada para ministrar aulas sobre cabelo natural numa pós-graduação de Tricologia de uma universidade brasileira. “Quem sabe um dia possa fazer todo este trabalho em Portugal”, diz, entre sonhos por realizar.

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