Cristiana Augusto não tem qualquer formação na área da decoração de interiores, mas o gosto e talento inatos levou a que criasse a página The Wonder Home, onde expõe pedaços da sua mais recente obra: a nova casa. Com a ajuda do marido e da filha, construiu um espaço à medida dos três, com predominância dos tons pastel e onde, sempre que entra, consegue ver cada gota de suor e horas despendidas num processo longo mas recompensador.
“A decoração é um gosto que vem de pequena”, diz Cristiana Augusto, explicando que embora “em casa dos pais não tenhamos tanto espaço para expressar o gosto pessoal”, ela acabava por fazer do quarto o seu refúgio. “Os meus pais sempre me deram liberdade para decorar e lembro-me que cheguei a ter uma parede com flores e também a pintá-la com uma cor excêntrica, como verde-lima”, recorda. Um gosto que andou sempre a par com o da moda. “A decoração acompanha-me desde cedo, mas não é o meu primeiro amor. Tenho uma veia criativa e gosto de ir mudando e por isso a moda foi o meu primeiro amor e a decoração veio por arrasto e intensificou-se com a compra da minha primeira casa, com a vontade de sentir que era meu, de colocar um bocadinho de mim em cada cantinho e de sentir que quem visitava a minha casa, via que era a minha cara”, afirma.
Acabou por seguir sociologia, mas manteve a moda e a decoração como paixões de segundo plano. “Sempre gostei de estar atenta aos estilos, devorava revistas de moda e hoje devoro revistas de decoração”, revela. Por isso também gosta de ir experimentando com diferentes tendências. “Não é só em relação à casa, sinto essa necessidade com tudo. Já tive o cabelo preto, loiro, com madeixas. Não consigo definir um estilo pessoal específico porque gosto de muita coisa, mas consigo criar uma harmonia entre aquilo que eu gosto e daí nasce um estilo próprio”, refere. Com a idade e a experiência, aprendeu a ser mais ponderada nas decisões. “No início, olhava para uma peça e pensava ‘gosto muito, vai ficar bem na minha casa’ e comprava por impulso. Com a idade, vem a consciência e agora penso muito, por exemplo, se aquele móvel ou peça vai ficar bem em mais do que uma divisão da casa, penso na versatilidade da peça e se a compra é consciente. Não compro logo, vou para casa e se ficar a pensar naquilo é um sinal que tenho de comprar. Faço sempre esse exercício e a carteira agradece”, diz, entre risos.
Sonho individual tornou-se sonho conjunto
Cristiana Augusto nunca teve o sonho de viver numa moradia, tendo residido sempre em apartamentos, mas o marido carregava com ele esse desejo. “Não era um sonho meu, mas passou a ter um sonho nosso. O meu marido viveu em moradia em criança e dizia sempre ‘quero que a nossa filha cresça com mais espaço’. Além disso, nós gostamos de receber pessoas e a verdade é que temos mais liberdade numa casa”, enumera, admitindo que acabou por “embarcar na aventura”. Uma aventura, a de construir casa, que começou em 2020 e foi um processo “desgastante. Desde o início da construção até fazermos a mudança passou um ano e meio. Não foi muito tempo, mas pareceram três anos. Tivemos discussões que nunca tivemos antes porque, emocionalmente, é um processo que tira muito de nós. Corremos atrás de tudo, escolhemos tudo, alteramos tudo, foi difícil… Mas agora estamos como queríamos, é um sonho tornado realidade”, afirma. Um sentimento de pertença completamente novo. “No nosso apartamento anterior, embora tivesse a decoração ao nosso gosto, não tínhamos sido nós a escolher a pedra da bancada, as torneiras, os materiais, e isso faz toda a diferença. Se a base não estiver ao teu gosto, mesmo que gostes do apartamento, não és tu. Para esta casa, foram dias e noites a ver opções, a pesquisar sites, a ler revistas, foi muito tempo até chegar a este resultado”, revela. A pandemia só serviu para atrapalhar. “Não tinham o produto para entrega, ou naquela cor não sabiam quando iam fabricar, ou faltava uma peça que vinha não sei de onde… Acabámos por ter de ser muito decididos nas nossas escolhas, sabíamos o que queríamos e o que não queríamos e decidíamos facilmente porque sabíamos o que estávamos à procura”, afirma.
As cores, por exemplo, tinham de ser neutras. “Na nossa primeira casa, tive móveis pretos e eu adoro preto na decoração para dar destaque, mas acredito que com o tempo torna o ambiente pesado. Não é para mim, eu preciso dos brancos e dos beges para me transmitir paz e tranquilidade”, refere, exaltando “a cozinha e a sala” como espaços de eleição e elogiando a parede de vidro que facilitou a criação de um hall improvisado. “Gosto muito daquilo que conseguimos criar aqui. Sabíamos que queríamos qualquer coisa para delimitar quando entramos em casa, não temos hall e temos uma janela enorme, quase seis metros, que dá imensa luz. Não queríamos retirar a luminosidade, então fizemos a parede de vidro e acabou por ser aquele elemento diferenciador da nossa casa”, afirma, acrescentando que o frigorífico verde-água também é um elemento apaixonante. “Era uma paixão de criança, eu dizia que quando tivesse a minha casa teria um frigorífico com cor. Acho que não tenho divisões preferidas, mas sim elementos que traduzem o meu gosto pessoal”, declara.
Alavanca para mostrar gosto pela decoração
A construção da casa acabou por ser a “alavanca” que ela precisava para mostrar a paixão pela decoração. “Estava em teletrabalho e decidi ir mostrando este gosto pela decoração, a construção da casa, a escolha de materiais, fui mostrando as nossas dúvidas e conquistas, é um processo desgastante mas que no fim compensa porque estás a criar algo que é teu e que foste tu que deixaste ali o teu suor, lágrimas, festejos. Custa muito, avanços e recuos, mas crias algo à tua medida, é muito gratificante”, diz Cristiana Augusto, para quem a página de Instagram The Wonder Home trouxe um sentido de comunidade. “Tenho conhecido muitas pessoas que também estão a construir e que também passam pelas mesmas coisas que eu passei e falamos bastante, trocamos ideias, perguntam-me como fiz, o que senti, o que aconselho, é muito bom. A par disso, tenho conhecido muitas marcas que surgiram naquela altura, gente batalhadora, com projectos que merecem ser apoiados, há pessoas a fazer coisas lindas”, salienta.
Publica consoante o “estado de espírito”, sem ceder a pressões. “Publico quando faz sentido. Se tiro uma foto e só gosto mais ou menos dela, não publico. Gosto que a página tenha bom conteúdo e gosto de um feed harmonioso. Se hoje me apetecer publicar a cozinha, publico. Se me apetecer fazer uma mesa, faço. Não há regras”, afirma, admitindo saber que há espaços que geram “mais interacção. Sei que as pessoas são loucas pela casa-de-banho social, tenho muito bom feedback dessa casa-de-banho. Também gostam muito da cozinha, gostam de um dos móveis que mudo muitas vezes, mas eu mostro um pouco de tudo, mostro aquilo que gosto. Dá-me gozo receber o carinho, um comentário a dizer ‘está bonito’, uma mensagem a perguntar ‘como conseguiste fazer isto?’. É isso que me motiva”, revela, confessando que nem sempre obtém o feedback desejado. “Só quando temos uma página é que percebemos o trabalho que dá. As pessoas pensam que é só tirar uma fotografia, mas é precisar pensar na fotografia, fotografar 10 ou 20 vezes, e há dias em que se publica e não se recebe nada do outro lado… Preciso de sentir aquele retorno, é para isso que todos trabalhamos”, comenta.
Filha também deu contributos
Muda constantemente os objectos de lugar e cria novos espaços com os mesmos artigos. “No meu apartamento não era assim, se calhar não o sentia tanto meu porque não tinha sido eu a criar. Aqui, já perdi a conta às vezes que mudei o aparador, o móvel da TV. A versatilidade das peças dá essa possibilidade, essa liberdade, de ir mudando, é aquele bichinho”, confessa, em relação à casa que ficou exactamente como queria. “As pessoas perguntam-me qual foi o maior falhanço e eu quase respondo ‘não há’ porque conseguimos melhorar e adaptar a casa às nossas necessidades. Colocamos tudo o que precisávamos: uma lavandaria, um quarto extra para fazer de escritório ou quarto de brinquedos, fizemos a cozinha e sala em open space, porque é o coração da casa, é onde passamos mais tempo. Do projecto até ao resultado final, ficou bem melhor, conseguimos um óptimo resultado”, diz, orgulhosa.
Para este resultado, contribuiu a filha de seis anos. “Ela também acabou por ficar com este gostinho. Está na idade das princesas, do rosa, das purpurinas, mas ela sabia que isso não tem nada a ver comigo, que não seria fácil para mim entrar no quarto dela e ver uma parede rosa choque. Se calhar chegaremos a isso mais tarde…”, afirma, sorrindo, Cristiana Augusto. A filha “habitou-se a escolhas mais neutras”, mas decidiu, pela própria, os artigos a incluir, como a cama e o baloiço. “Dei-lhe essa liberdade porque o quarto é dela e é importante que tenha voz. Não te brinquedos no quarto para não criar confusão, para ser um refúgio e um espaço para relaxar, mas tem os brinquedos no quarto extra. Acabou por ser um processo fácil, ela percebeu a diferença. Tem um armário no quarto dela com Legos dentro e quando quer brincar, tira os Legos e vai brincar com eles no quarto dos brinquedos”, explica.
Harmonia vs Arrojo
Cristiana Augusto gosta que “a casa transpire a mesma harmonia em todos os espaços. Não conseguiria ter um estilo marroquino na sala e um minimalista no quarto”, diz, mas isso não significa que não goste de arriscar. “No Natal, por exemplo, mostrei o meu lado mais arrojado. Pela primeira vez, decorei a nossa árvore de Natal com tons de vermelho, foi uma novidade cá em casa, mas gostei do que consegui criar. No próximo Natal, é provável que me desafie, pode ser que escolha um rosa ou um verde-água”, atira, revelando que lhe dá muito prazer experimentar com a criação de novos espaços. “Não sei se um dia a decoração não será o meu caminho porque me deixa realmente feliz. Já tive, por exemplo, amigas a pedir-me para ajudar a decorar o quarto do bebé que vai chegar e faço-o com gosto, quem sabe um dia não será a minha profissão. Ainda não deu aquele clique”, afirma.
Para quem está a pensar construir casa ou para quem começou agora o processo, ela deixa apenas um conselho: “paciência. Não estamos preparados para o processo, é muito exigente. Quando temos um orçamento infinito, as coisas são mais tranquilas; mas quando temos um orçamento para gerir, é preciso jogo de cintura e às vezes abrir mão de coisas que pensávamos que eram mesmo importantes para nós. É difícil lidar com a frustração de abdicar de algo que queríamos tanto, com o qual sonhámos, em função de outra coisa mais importante. É tudo uma questão de paciência e ir gerindo os obstáculos que vão surgindo. As coisas acabam por acontecer, não tão rápido como queremos, mas tudo na altura certa. Deixem fluir, não se desgastem demasiado, tudo o que é feito com amor vale a pena. Lutem pelo que vocês querem, dêem tudo de vocês, porque é o vosso cantinho, não há nada que pague isso”, remata.