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Filho de mãe chinesa e pai português, David Chan Cordeiro dedicou-se desde cedo às artes marciais. Fascinado pelos filmes de acção que viu em criança e adolescente, rumou, assim que fez 18 anos, aos EUA para aprender a fazer acrobacias. O sonho sempre foi trabalhar em cinema e depois de muito “treino, suor e disciplina”, conseguiu alcançar reconhecimento nacional e internacional, marcando presença com a sua empresa Mad Stunts, a maior empresa de duplos portuguesa e pioneira na forma de trabalhar no mercado, em algumas das produções mais conhecidas do público, como Uncharted, Warrior Nun, Glória, Capitão Falcão e Lua Vermelha.

Como surge o interesse pelas artes marciais?

A minha paixão pelas artes marciais foi despoletada pelos filmes de Kung Fu dos anos 80, mais precisamente pelo filme ‘Ninja Squad’ que o meu irmão trouxe para casa em VHS. Fiquei imediatamente agarrado ao ecrã, boquiaberto com as acrobacias e as coreografias de luta daqueles ninjas. Imaginem o que é para uma criança de seis anos (antes de existir YouTube, Instagram, TikTok) ver pela primeira vez um grupo de indivíduos com máscaras a lutar com espadas enquanto fazem mortais e fliques.

Com que idade começa a praticar?

A primeira modalidade foi o Kung Fu aos nove anos. Após muita insistência da minha parte, a minha mãe deixou-me inscrever e por lá fiquei durante três anos. Aos 12, comecei na ginástica acrobática pois achava mais divertido aprender a fazer mortais e outros movimentos. Uma escolha que não me trouxe grande popularidade pois o meu uniforme era um maiô enquanto a maioria dos rapazes jogava futebol ou praticava outras modalidades mais apelativas na altura. Aos 15 anos, inscrevi-me no Full-Contact e foi aí que dei o salto. Actualmente, continuo ligado a artes marciais como o Jiu-Jitsu Brasileiro e o Krav Maga.

Como surge a oportunidade de ir para os EUA fazer um workshop de iniciação às acrobacias?

Desde que comecei a praticar artes marciais que sonhava trabalhar em cinema. Portanto, era uma ambição que me acompanhava diariamente. Recordo-me, aos 16 anos, de pesquisar na Internet formações na área dos duplos e encontrei um workshop em Seattle, nos EUA. Esperei até completar 18 anos, juntando o máximo de dinheiro entretanto, e no Verão de 2000 lá fui com um amigo, de mochila às costas, para os EUA participar nessa formação de quatro semanas. Não se forma um profissional, seja em que área for, num espaço dum mês, mas essa formação serviu foi uma sementinha que me deu alento para continuar a investir no meu treino.

Os filmes que o fascinaram em criança foram uma mais-valia nesta área?

Sem dúvida! Mais do que uma mera inspiração, foram como um segundo professor/mentor. Eu era viciado em filmes de acção, mais especificamente nos filmes de Kung Fu dos anos 80 e 90. Via e revia vezes sem conta qualquer filme com o Jackie Chan, sabia os movimentos e as falas de cor, tentava imitar em frente ao espelho e muitas vezes replicava as coreografias com amigos. Sonhava em ser como aqueles performers. Ganhei um prazer genuíno pelas acrobacias e stunts independentemente de serem executadas por protagonistas, vilões ou personagens secundários. Se um movimento fosse impressionante e causasse um sentimento de dor ou espanto no público, eu estudava-o ao pormenor. Admito que hoje em dia ainda é um dos meus guilty pleasures.

O que o leva a criar a sua própria empresa de duplos?

A criação da Mad Stunts foi o resultado de um conjunto de factores. Estive algum tempo sem trabalho e fartei-me de esperar que me chamassem para trabalhar. À medida que as minhas reservas financeiras foram escasseando, decidi fazer-me à estrada e começar do zero e inscrevi-me numa agência de figuração. Ao mesmo tempo, procurava contactos de produtores e realizadores para quem o que eu tinha a oferecer pudesse ser uma mais-valia. Fui fazendo networking e, de repente, deu-se o efeito bola de neve. Acabei por ser contactado para coordenar as lutas e rigging da Lua Vermelha e o resto é história. O facto de eu ter uma visão muito específica, em grande parte influenciada pela experiência nos EUA, juntamente com a inspiração do cinema asiático, aliado ao facto de não me identificar com a forma como os duplos eram representados em Portugal, fizeram com que eu criasse a minha própria empresa.

Quais foram os principais desafios?

Os maiores desafios no início foram aprender a lidar com as questões burocráticas, obrigações fiscais, gestão de orçamentos, contabilidade, negociação, etc. Ao mesmo tempo, tive de aprender a gerir uma equipa numa indústria com pouca tradição e experiência em trabalhar com duplos e, como tal, houve um período de aprendizagem por parte dos clientes. Felizmente, hoje em dia, quando me contactam, já conhecem (ou ouviram falar) da minha forma de trabalhar, o que simplifica imenso o processo de negociação e venda.

Qual foi a sensação de finalmente conseguir o primeiro grande trabalho em Portugal, Lua Vermelha?

A Lua Vermelha foi, sem dúvida, a rampa de lançamento da empresa. Devido à longa duração do projecto, conseguimos crescer enquanto empresa, errar e aprender com os erros, alcançar estabilidade financeira e solidificar a nossa presença no mercado. Foi um balão de oxigénio especialmente numa fase tão embrionária da Mad Stunts. Sabemos que 90% das empresas não sobrevivem aos primeiros três anos de existência e um projecto desta envergadura permitiu-nos ultrapassar quase um terço dessa estatística.

Qual a conquista que mais se destaca neste percurso de empreendedor?

Nunca alcancei qualquer prémio ou distinção, talvez pela natureza da minha actividade e por ser uma micro-empresa, portanto a única conquista que destaco é a longevidade da empresa que celebra 13 anos de existência este ano e que, até hoje, sempre apresentou lucro. A segunda conquista é sentir que construímos uma marca e, como consequência, muitos dos clientes novos que chegam até nós vêm por referência de outros com quem já trabalhámos.

O que é mais gratificante em gerir o próprio projecto e ter contribuído para a mudança deste sector em Portugal?

A liberdade criativa é algo que me motiva imenso. Mais do que prestar um serviço, quero sentir que estou a adicionar valor de produção ao meu cliente e a contribuir para o storytelling. Isso talvez não fosse possível se eu fosse apenas um duplo ou um performer. Quanto à contribuição para o sector, sinto que é quase uma obrigação. Gosto de acreditar que, graças ao nosso trabalho, criámos ferramentas para que gerações futuras possam começar um passo mais à frente. Dá-me um gozo tremendo poder criar oportunidades e dar trabalho a outros duplos que, tal como eu, têm os seus ídolos de acção e sonham um dia poder fazer cenas de risco no grande e pequeno ecrã.

Bastidores da série Glória

Quantos duplos tem hoje a Mas Stunts e em quantos projectos participou no ano passado?

Actualmente, a empresa tem cerca de 40 freelancers a quem recorro conforme as necessidades de cada projecto. No ano de 2021, a Mad Stunts forneceu serviços para 12 longas-metragens (nacionais e internacionais) e seis séries televisivas, sendo duas delas para a plataforma de streaming Netflix.

Quais os trabalhos que mais o marcaram a nível internacional e nacional?

A nível internacional diria que o ‘Uncharted’ e o ‘Warrior Nun’ foram os que mais me marcaram devido à escala dos projectos e pela experiência em si. A nível nacional, ‘Capitão Falcão’, ‘Glória’ e ‘Lua Vermelha’ são os três projectos que guardam um lugar especial porque foram projectos inovadores, cada um à sua maneira.

Como concilia a gestão da Mad Stunts com o trabalho como duplo individual e o próprio risco que a profissão acarreta?

Tem sido um longo processo de aprendizagem em que vou fazendo ajustes de ano para ano. Costumo alocar tempo para a gestão da empresa e tempo para o meu treino pessoal. Tenho objectivos gerais e específicos, conforme o fluxo de trabalho da empresa ou o projecto em que estou a trabalhar no momento, e por norma tento não aceitar muitos projectos em simultâneo a não ser que consiga delegar para outros elementos da equipa. Quando estou em rodagem (seja como coordenador ou duplo), o meu foco é 100% no trabalho que estou a fazer e muitas vezes informo os meus clientes que só estou disponível a partir de x horas ou que me contactem via WhatsApp caso seja urgente. Sou um ávido adepto de rotinas, portanto faço questão de tirar todos os dias pelo menos uma hora para o meu treino independentemente de onde estou. Se estiver a viver num quarto de hotel e sem acesso a um ginásio, arranjo forma de conseguir treinar com as ferramentas que tenho disponíveis. Nesse aspecto, sinto que a ginástica me ajudou imenso, pois com muito pouco consigo inventar um esquema de treino. Em relação ao risco, faz parte da natureza da profissão. Quem vem para esta área, tem de aceitar isso, caso contrário sugiro que escolha outro ofício. O truque reside em mitigar esse risco com treino, investigação, troca de informação junto de pares, etc.

Que conselhos deixa a quem quer criar um negócio próprio?

Partilho quatro conselhos com base na minha experiência de 12 anos como gestor da Mad Stunts:

  • Identifico-me bastante com o provérbio: “A melhor altura para plantares uma árvore foi há vinte anos. A segunda melhor altura é hoje!” Costumo sofrer de paralysis by analysis, isto é, fico à espera do timing e das condições perfeitas para lançar os meus projectos. Entretanto, alguém com metade dos recursos e da capacidade já está a lavrar o terreno e a plantar sementes enquanto estamos a olhar para um computador a desenhar o plano perfeito.
  • Esvazia o teu copo, aprende com os erros dos outros e não tenhas vergonha de fazer perguntas ‘parvas’. É normal termos milhares de questões no início portanto não te coíbas de falar com pessoas que têm mais experiência do que tu. Ao contrário do que possas pensar, os teus mentores e ídolos são muito mais acessíveis do que julgas, especialmente nesta era em que todos têm redes sociais. O pior que pode acontecer é ignorarem as tuas perguntas, mas acredita que não és o único com dúvidas. “Relax. No one else knows what they’re doing either” – Ricky Gervais
  • Cria rotinas e hábitos e sê consistente com as mesmas. Bruce Lee disse que “consistência a longo prazo triunfa sobre intensidade a curto prazo”. Eu não ligo muito a talentos e dons, aliás, eu nunca fui extraordinário. Não fui o melhor artista marcial nem o melhor ginasta e sempre me considerei um slow learner. Mas sou teimoso e consistente, portanto, estou habituado ao sacrifício e suor, essa é a única realidade que eu conheço. Acredito piamente em rotinas de sucesso e disciplina. Recomendo que leiam sobre a filosofia japonesa Kaizen.
  • Nós somos por natureza seekers, eternos insatisfeitos à procura de mais e mais. É algo intrínseco ao nosso cérebro. Como consequência, estamos sempre à procura de novos objectivos e estímulos e ficamos tão focado em chegar ao final da corrida que ignoramos o caminho, mas está mais do que provado que o gozo está no processo. “I love to travel, but hate to arrive” – Albert Einstein.

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