Não foi preciso a hecatombe dos “Morangos com Açúcar” para toda a gente perceber que crianças e jovens viviam facilmente à mercê dos ecrãs.
Vamos direitos ao assunto naquilo que muitos defendem como uma necessidade inadiável, incluindo eu: a educação para os media. Esta urgência deve-se à representatividade que os media têm na vida das pessoas e, concretamente, na vida das crianças.
Educar para um uso crítico, ativo e seletivo dos media advém de uma multiplicidade de fatores que vão desde o uso que deles é feito, passando pela própria influência que os meios exercem nos comportamentos e na personalidade dos mais jovens.
Os “novos media” classificam a Internet, os computadores ou os jogos on-line como incentivadores à atenção e sensibilidade dos indivíduos, povoando o seu dia-a-dia, no trabalho e em casa. Na verdade, as crianças e os jovens são seus “clientes” entusiásticos e até mesmo as mais pequenas, com três ou quatro anos de idade, já sabem o que é a televisão ou um jogo de telemóvel. Na idade do pré-escolar, atos como ligar uma televisão ou jogar playstation não são novidade nem, tampouco, tarefas difíceis de aprender e realizar. Basta observar atentamente e recuar (poucos) anos para registar o boom de youtubers e influencers que rapidamente passam do telemóvel para os palcos reais; somam milhões nas bilheteiras e faturam outro tanto em publicidade.
Nesta “aproximação do que está longe” (Abrantes, 1998), reside, talvez, um dos maiores fascínios dos media: as crianças, sonhando com o seu super-herói numa galáxia distante, conseguem vê-lo ali, tão perto, através da televisão ou do telemóvel. Nesta relação nada efémera, há que acionar mecanismos para analisar, compreender e registar os contextos de receção; a importância que cada um dos diferentes meios detém nas suas vidas; de que forma é estabelecida esta relação e as suas consequências mais profundas. Só assim se implementará, efetivamente, um plano de educação para os media. É nesta mudança que se faz devagar, mas que vai dando sinais de crescimento – como a constituição de observatórios de educação para os media; a existência crescente de estudos demonstrativos que a literacia mediática é urgente ou a constituição de grupos organizados de cidadãos das mais diversas áreas que se dedicam a sensibilizar comunidades para esta questão – que reside uma esperança e uma confiança.
A Esperança, sempre, num mundo melhor, mas, e sobretudo, a confiança nas atitudes cívicas, participativas e pró-ativas; na capacidade seletiva e crítica dos nossos filhos e no cliché que faz todo o sentido: a inteligência e a competência dos homens e mulheres de amanhã para sermos melhores e vivermos com mais Amor.