No mês em que se celebram as conquistas das mulheres que, ao longo da história, lutam pelos seus direitos e contra o preconceito, destacamos uma série de projectos e pessoas que traçaram como objectivo primordial minorar os problemas que o público feminino enfrenta e atenuar as desigualdades de género numa sociedade com um carácter paternalista vincado na sua base estrutural. Nas áreas da cultura, moda, saúde, sexualidade e economia, descobrimos mulheres de valor que lutam pelo verdadeiro sentido de feminismo.
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Leitura
Quatro mulheres – Alice, Juliana, Maíra e Tainé – juntam-se em prol da leitura naquele que é um projeto originário do Brasil. Leia Mulheres expandiu-se pela terra de Vera Cruz instalando-se, desde 2014, em várias cidades, mas chegando, pela primeira vez, ao estrangeiro, em 2018, nomeadamente ao Porto, através de uma ex-mediadora, com o grande objectivo de “impulsionar e pôr em prática a leitura de obras de autoria feminina”.
“Sempre adorei ler e fui muito incentivada pelos meus pais, que também são ávidos leitores. Para mim, os livros são a forma de me conectar com o mundo, as histórias que leio ajudam-me a crescer, acolhem-me, transportam-me para outros universos e para outras visões. A partir dos livros, consigo entender e relacionar-me melhor com o outro, ver além das diferenças que muitas vezes nos separam e perceber aquilo que nos une enquanto humanos”, diz uma das mediadoras, Alice, para quem a leitura ensina “empatia. Auxilia na compreensão do outro, mas também de nós mesmos. Permite explorar outras vivências, viajar para outros lugares e conectar com ideias semelhantes às nossas. É uma poderosa ferramenta de descoberta de si mesmo e de expansão do universo subjectivo”, afirma.
Leia Mulheres Porto tem encontros mensais em que são debatidos conteúdos previamente seleccionados pelas moderadoras em referência ao livro e/ou retrospectiva da autora daquele mês. “Partilhamos informações que gerem interesse e possam enriquecer o nosso conhecimento sobre o título/escritora (podem também orientar discussões: um podcast sobre o livro/autora, uma resenha, uma entrevista, um artigo, etc.). Partilhamos ainda outras coisas que achamos relevantes dentro daquilo a que o clube se propõe (por exemplo: um evento que terá participações de uma determinada escritora – conteúdo que temos partilhado mais através da nossa newsletter mensal que é sempre acompanhada de uma resenha do livro do mês)”, explica Alice.
O feedback dos leitores tem sido “muito positivo. As discussões expandem-se sempre para além do livro, permitindo conectar as leituras com outros livros e autores e com assuntos do quotidiano. Como temos um grupo diverso, cada um traz a sua interpretação e todos são incentivados a falar, deixando o debate sempre muito rico. O clube tem uma movimentação grande, cada mês recebemos novos leitores, mulheres e também homens, que são atraídos pela leitura específica do mês. Já leitoras e leitores fixos, temos cerca de oito que nos acompanham nos encontros presenciais, e cerca de 15 quando o evento é on-line, porque nessa configuração recebemos muitos participantes do Brasil”, conta. As leituras são individuais, cada um lê no seu tempo e reúnem-se no final do mês para discutir o livro.
Questionada sobre o porquê da aposta em livros de autoria feminina, Alice aponta a “disparidade aguda entre o incentivo à leitura escrita por homens e à que é dada à literatura escrita por mulheres. Basta relembrar as leituras escolares para nos recordarmos que os livros pelos quais aprendemos a ler e a adquirir o gosto pela leitura são maioritariamente escritos por homens. Assim como há, historicamente, um preconceito com a literatura feminina, que é geralmente vista como inferior na sua temática e estilo”, salienta, acrescentando que “basta olhar para a proporção de prémios literários lusófonos atribuídos a mulheres e a homens”. Para Alice, “falta que a igualdade de género exista em todas as esferas. Importa, principalmente, que olhemos para a intersecção entre género, raça e classe, priorizando o apoio – com políticas públicas e organizações sociais – às mulheres em maior vulnerabilidade, onde se regista uma maior desigualdade com consequências como piores condições de vida, de trabalhos, salários e oportunidades de crescimento”, refere.
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Vestuário
Peryod nasceu do sonho de quatro amigas que desejavam “passar uma mensagem e construir algo maior do que elas com um impacto positivo no mundo. Temos um percurso profissional na área da moda e por isso fez todo o sentido expressarmo-nos através dela. Em 2020, impulsionado pela pandemia, começaram a vir cada vez ao de cima inquietações e, portanto, enchemo-nos de coragem e começamos a trabalhar neste sonho, a Peryod. Lançámos a marca no Dia Internacional da Mulher e desde então sentimos que temos conseguido passar as nossas mensagens e contribuído para um mundo mais justo”, conta a manager da marca, Mafalda Vilela. A Peryod é uma marca de roupa que se distingue pelo facto de ser “mais que uma marca, uma causa. Quem opta por comprar uma peça Peryod sabe que, mais do que estar a comprar uma peça de roupa ou acessório, está a contribuir para a normalização do feminismo e está também a ajudar uma mulher em necessidade, pois por cada venda doamos 1€ a uma associação que trabalhe com mulheres/raparigas em situação de vulnerabilidade”, revela Mafalda Vilela. Actualmente, trabalham com quatro instituições: Lar Jorbalan, Vida Norte, Diaconia e Fundação Fenômenos, mas querem alargar o espectro da ajuda.
As peças da marca pretendem “passar uma mensagem clara de empoderamento e amor próprio. Numa das nossas peças mais emblemáticas (a t-shirt Amelia) temos inclusivamente estampados os nossos valores: igualdade, sororidade, empoderamento, liberdade de escolha e amor próprio. E esta é mesmo a nossa missão – a de empoderar as mulheres e de normalizar o feminismo”, refere a responsável da Peryod. Tudo isto feito com o cunho da sustentabilidade ambiental. “Não poderia ser de outra forma. A consciência ambiental é algo que está no nosso ADN. As nossas peças de roupa são produzidas com materiais como o algodão orgânico e utilizando técnicas sustentáveis. Temos sempre a preocupação de diminuir a nossa pegada ambiental”, afirma Mafalda Vilela. Altamente inspiradas pelas “grandes mulheres da história e da actualidade que quebram barreiras, lutam por nós e tornam o mundo um lugar mais justo”, dão esses nomes às peças que produzem: Amelia Earhart, Olympe de Gouges, Sojourner Truth, Betty Robinson, Maria Montessori, Rosa Parks, Komako Kimura e Joan D’arc. “São tantas as mulheres que gostávamos de homenagear que o nosso caminho ainda tem muito para percorrer”, comenta.
Sobre a igualdade de género, Mafalda Vilela acredita que “ainda falta um longo caminho. Basta pensarmos na necessidade que existe em fazer legislação que garanta a igualdade de género (e mesmo essa não é respeitada) para percebermos o longo caminho que temos pela frente. Quando pensamos na escala global, então aí o caminho é tão longo que chega a ser assustador. Temos conquistado muitas vitórias ao longo da história que devemos celebrar, mas também devemos lembrar-nos que essas estão longe de serem suficientes e por isso não nos podemos resignar. Daí a grande importância do dia 8 de Março ser lembrado como um dia de luta”, aponta a responsável da Peryod.
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Saúde
Desde a adolescência que Susana Pinho “desejava como profissão algo que permitisse dedicar os dias à saúde da mulher. Decidi ser enfermeira e posteriormente enfermeira especialista em saúde materna, obstetrícia e ginecologia. Quando terminei o curso, a concretização deste sonho tornou-se mais real com a oportunidade de poder trabalhar na sala de partos”, conta. Permaneceu ligada à Saúde da Mulher durante vários anos, acumulando funções noutras áreas, como o ensino. “Mas, no meu dia-a-dia, sentia que havia muito mais a fazer pelas mulheres que chegavam até mim. Trabalhar num hospital limitava a forma como eu podia colocar em prática tudo aquilo que aprendera ao longo da minha formação académica pois o foco do meu trabalho estava sobretudo no tratamento da doença e não na promoção da saúde, onde se tem em conta as três dimensões da mulher (física, mental e espiritual) na prática do cuidar. Embora desse o meu melhor, sentia que o meu trabalho ficava incompleto”, revela.
Assim, em 2014, “para o piloto automático e reconecta-se consigo mesma, com a sua essência e propósito. Aos poucos, (re)aprendi a escutar-me e a perceber as minhas necessidades, físicas e emocionais. Reencontrei-me com tudo aquilo que me tinha feito seguir a carreira de Enfermagem e iniciei uma jornada de desenvolvimento e transformação pessoal, seguindo a minha intuição e criando o meu projecto pessoal na área da Saúde da Mulher”, explica. Um projecto que lhe permite “conjugar todo o conhecimento que adquiriu com uma abordagem integrativa da Mulher. Com este projecto, pretendo que a mulher se conecte com o seu corpo e aprenda a escutá-lo, se conheça física e emocionalmente e, assim, possa tomar decisões informadas, conscientes e empoderadas em relação à sua saúde, rumo à vida que realmente quer para si, de forma satisfatória e totalmente alinhada com os seus valores”, elucida.
Através da sua página de Instagram, disponibiliza “acompanhamento especializado e individualizado na área da saúde da mulher (Ciclo Menstrual, Fertilidade, Gravidez e Pós-parto). Este acompanhamento é feito através de sessões de coaching individuais totalmente desenhadas à medida de cada mulher e tendo sempre em conta os pilares da Saúde da Mulher”, afirma Susana Pinho. As mulheres que a procuram fazem-no “pelas mais variadas razões. Na maioria dos casos, precisam de uma visão e cuidado mais holísticos em relação a determinada patologia com que foram diagnosticadas, nomeadamente, endometriose, Síndrome do Ovário Poliquístico e miomas, mas também por irregularidades ou desconfortos relacionados com o ciclo menstrual”, enumera. Já na área da obstetrícia, a maior procura é para vigilância e preparação para parto.
Mais do que diagnosticar e tratar ou apenas mascarar sintomas, a enfermeira acredita que é preciso “capacitar a mulher para ser o seu próprio detective e, acima de tudo, para ter capacidade de opinar e decidir sobre o seu corpo, porque ninguém a conhece como ela própria. Já foram dados largos passos na educação para a saúde, mas ainda há um longo caminho a percorrer nesta área e o trabalho deve começar desde cedo, com adolescentes. É aqui que podemos começar a fazer a diferença no que diz respeito ao empoderamento da mulher. Há que desmistificar crenças associadas ao ciclo menstrual, à mulher e ao seu corpo, e há que passar a informação correcta aos nossos adolescentes, raparigas, mas também rapazes”, frisa Suana Pinho, para quem “quanto mais cedo a mulher tiver plena consciência do seu corpo e de como pode potenciar todas as suas capacidades, mais empoderada se vai sentir e quanto maior o empoderamento feminino maior será a igualdade de género”.
Outros projectos meritórios
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Sexologia
Duas mulheres que se dedicaram à área da psicologia e, mais especificamente, à sexologia, ganhando notoriedade e quebrando tabus através das redes sociais. Tânia Graça é formada em Psicologia Clínica, Sexologia e Life Coaching e define como missão empoderar mulheres através do desenvolvimento da sua autoestima e sexualidade. Abre Consultórios do Amor na sua página de Instagram com regularidade semanal, onde todos podem deixar as suas dúvidas e perguntas, e faz, em conjunto com a radialista Ana Markl, o podcast Voz de Cama, na Antena3. Já Vânia Magalhães é Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde com dupla especialização avançada em Terapia de Casal e Sexologia Clínica. Os seus reels divertidos e informativos que publica na sua página de Instagram explicam de forma sucinta e apelativa questões comuns da área da sexualidade.
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Empreendedorismo
O nome dela é Joana Sá e desenvolveu aquilo a que chama uma Escola da Liberdade Digital dedicada ao empreendedorismo no feminino. O objectivo? Ajudar profissionais a desenvolver a sua marca pessoal, lançando produtos digitais como cursos e mentorias. Joana Sá tem formação académica em Publicidade e Marketing e uma experiência de seis anos em agências de comunicação. Deixou o mundo corporativo para criar uma vida segundo as suas próprias regras e, depois de treinos com mentes brilhantes internacionais, tornou-se uma Mastermind Expert e fundou a Girlbosses Hub. Com mais de 500 horas de formação dada e milhares de seguidores, promete ser uma boa aposta para quem quer singrar no mundo digital.
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Finanças
Inês Correia, Susana Rosa, Mafalda Almeida e Sara Rodrigues juntaram-se e fundaram o Finanças no Feminino com a meta de “satisfazer a vontade das mulheres portuguesas de aprenderem mais sobre dinheiro, vendo-o como um aliado na sua vida e não uma fonte de stress”. Para elas, “não existe um verdadeiro empoderamento feminino sem empoderamento financeiro” e a capacidade das mulheres tomarem decisões de forma independente é “condição fundamental para a sua autonomia e crescimento pessoal”. Nesta comunidade, aprende-se sobre finanças pessoais, discute-se ideias e encontra-se soluções em conjunto, ganhando autoconfiança na gestão do próprio dinheiro. As fundadoras do Finanças no Feminino dedicam-se a apoiar mulheres para que giram as suas finanças com segurança e sucesso.