Vera Ferreira da Cunha aproveitou uma má experiência internacional para uma boa ideia de negócio. O bichinho do empreendedorismo já a acompanhava, fruto do contacto próximo com o pai empreendedor, mas foi ao regressar de uma viagem que todo o processo de registo, pesquisa de mercado e implementação da ideia começou. A Let’s Go Baby nasceu para facilitar as viagens das famílias que precisam de equipamentos e outros serviços destinados às crianças e o aumento de clientes ano após ano é a prova do sucesso da empresa. Um caminho nada fácil e muito solitário, mas que vai sendo trilhado com muitas conquistas e lições.
Imaginou desde cedo como seria ter o próprio negócio ao ver o pai que durante uma década criou de raiz um projeto no qual acreditava. A inovação e o fazer a diferença estiveram presentes em trabalhos anteriores, mas foi depois de uma viagem a Berlim em família que Vera Ferreira da Cunha encontrou um nicho de mercado por explorar. “Viajámos para Berlim com o Francisco, o nosso primeiro filho, tinha ele três meses, e foi caótico. Só levámos o ovo e chassis e fez-nos falta uma alcofa para o Francisco passear e dormir enquanto conhecíamos a cidade, e um berço no hotel. Durante essa viagem, pensei ‘e se alguém pudesse entregar tudo o que precisamos?’. Quando voltámos para Lisboa, não larguei a ideia, criei o logótipo e registei a marca”, conta. Mais uma viagem, desta vez a Milão, e a necessidade fez-se sentir novamente: “um carrinho de passeio partido na companhia aérea, a rent-a-car deu-nos uma cadeira para crianças mais velhas e a casa que alugámos não podia ser mais insegura e pouco prática para uma criança. Quando regressámos, comecei a trabalhar a fundo no projeto, em paralelo com o trabalho a full-time que tinha na época”, lembra.
Assim nasce a Let’s Go Baby, depois de uma vasta pesquisa de mercado. “Iniciei um levantamento exaustivo de empresas que existiam em Portugal e no estrangeiro, analisei os modelos de negócio e, mais focado em Portugal, fiz também uma análise aos serviços que os hotéis e alojamentos locais ofereciam a famílias com crianças. A partir daqui, foi a grande velocidade que comecei a criar o website, tratar de toda a parte burocrática da abertura da empresa e contactar marcas de puericultura que nos quisessem apoiar no que toca a inventário. Não esperei por ter tudo pronto a 100%, o essencial era ter o website pronto e totalmente funcional e o material de bebé/criança do meu lado”, enumera. A parte mais difícil de todo o processo? “Sem dúvida a solidão de se trabalhar sozinho. Ser apenas uma pessoa a ter todas as funções dentro de uma empresa tira-nos muito tempo. Fez falta o brainstorming e, claro, a divisão de tarefas para acelerar o processo. Gostava muito de poder ter tido, em 2018, alguém a full-time no projeto. Também foi difícil sentir na pele os poucos apoios que existem para pessoas que querem implementar uma ideia de negócio e empreender e ver a quantidade de desinformação”, aponta Vera Ferreira da Cunha.
Meta: ser empresa de referência na área
A meta era clara: “ser a empresa referência para famílias com crianças e ajudá-las a viajar para Portugal mais leves, sem preocupações e com o máximo de conforto. Somos, e queremos continuar a ser, um serviço chave na mão para as famílias estrangeiras que visitam o nosso país”, afirma. No primeiro mês de actividade, conseguiram logo um contacto de um hotel de Lisboa. Outro mês passado, a primeira família fazia um pedido de equipamento. “Desde aí, o número de famílias que nos contactam tem vindo a aumentar ano após ano. O feedback é incrível, dizem que fomos a melhor parte da viagem, que somos ‘a melhor amiga’ das famílias, que ajudamos em toda a logística de viajar com os mais novos, que oferecemos um serviço conveniente e rápido que torna a viagem muito mais fácil. Nunca tivemos uma avaliação abaixo das 5 estrelas e 100% afirma que superámos as expectativas”, revela a empreendedora. 90% dos pedidos são “por vontade própria da família na fase de pré-planeamento da viagem”, reservando apenas 10% para situações de emergência.
Quando a empresa completou um ano, Vera Ferreira da Cunha decidiu expandir a oferta. “A decisão surgiu depois de um ano de trabalho intenso, de contacto muito direto com todas as famílias que servimos e atendemos e de percebermos que os nossos clientes não precisam apenas de ajuda com o aluguer de material, mas também com todos os serviços que actualmente os ajudamos a contratar. Como é que uma família estrangeira sabe onde encontrar uma babysitter de empresas confiáveis? Como é que decide que empresa de transfers contratar? Como é que encontra refeições caseiras que sejam adaptadas a bebés e crianças? Como é que garante que tem à sua porta, no dia da chegada, todas as compras que precisa para o primeiro dia? Conseguimos acrescentar mais valor ao nosso serviço, à nossa missão e aos nossos clientes”, explica a empresária, frisando que “a transformação para family concierge service acontece em plena pandemia” quando houve tempo para “alterar o modelo de negócio e prepará-lo para quando o turismo retomasse. Creio que se não tivéssemos passado pela pandemia, não estaríamos a oferecer tudo o que oferecemos hoje, ou pelo menos estaríamos bastante atrasados nessa implementação”, acredita.
Actualmente, os serviços mais procurados da Let’s Go Baby são o aluguer de material, transfers privados e babysitting e os maiores clientes são famílias estrangeiras, sendo que também existe alguma procura por famílias portuguesas emigradas. Questionada sobre conselhos para empreendedores que queiram implementar a sua própria ideia de negócio, Vera Ferreira da Cunha deixa algumas palavras sábias: “Olhando para o meu percurso, posso partilhar vários conselhos. Aceitar que, por tempo indeterminado, podem não ver os resultados que esperam. Ter noção que é preciso abdicar tempo – tempo com a família, os amigos, a fazer o que se gosta – para poder trabalhar no negócio. Estar constantemente atento e à procura de informação, sobre o mercado, sobre os clientes, sobre empreendedorismo, sobre novos negócios. Não há um dia em que eu não olhe ao meu redor e não encontre um detalhe ou uma oportunidade que não possa trazer para a minha empresa e negócio. O quarto conselho prende-se com a importância das decisões que precisamos, e devemos, tomar, que muitas vezes nos podem levar a falhar, mas devemos aceitar essas falhas como parte da construção do negócio. Finalmente, ter a humildade de ouvir e receber feedbacks, bem como alterar o negócio a qualquer momento se tivermos provas de que não está a funcionar ou precisa de melhorias. É preciso muito esforço, sacrifício e resiliência”, conclui.