
Jornalista RTP
O encanto da arquitetura ultrapassa estética de linhas, arrojo da criatividade e a forma como ela incorpora a ordem natural das coisas e as torna funcionais. Ela fascina também a neuroestética, campo da ciência cognitiva em que neurocientistas examinam como a beleza no ambiente é vital à sobrevivência e à saúde do Homem e como o cérebro entende o mundo através dos sentidos.
A beleza arquitetónica, como expressão de felicidade, socialização e interação da espécie pode, se houver vontade política, ser o melhor da sociedade. O governo vai doar a 25 municípios 710 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para o Programa de Habitação Acessível, para apoiar mais de 14 mil famílias. Além da questão ética, disponibilizar casa para todos e a preços acessíveis é um desígnio nacional e dever do poder público. Ter casa é pressuposto basilar para a viabilidade das economias.
Observado pelo prisma da arquitetura, o mundo pode ter uma fisionomia mais inclusiva, mais recentrada no outro, mais bonita. Porque a arquitetura representa o que ajuda a reorganizar o visível e a nossa maneira de ver. Ela pode ser um esboço para a edificação de nós mesmos, enquanto indivíduos e sociedade. Ainda que verdadeiras transformações comecem por plantas espantosamente modestas, imaginem o poder transformador de vidas alicerçadas, afagadas e com pilares fixos na possibilidade de ser e de fazer! Ou não fosse cada ser humano uma possibilidade arquitetónica!