Cada vez mais em voga, o food styling – ou a prática de embelezar os alimentos a nível visual – vai ganhando adeptos e conquistando seguidores nas redes sociais. Patrícia Ascenso é uma das maiores influenciadoras digitais nesta área e conta à Magafone os meandros deste meio e do trabalho que vem desenvolvendo na sua página de Instagram e canal do Youtube.
O que faz um food stylist?
Food styling é a arte de criar e comer com os olhos. Passa por analisar e perceber os alimentos e os produtos envolventes e tentar, na sua forma mais nobre, criar harmonia, despertar o desejo e suscitar emoções através de uma imagem. Criar beleza e romantizar a comida é fazer food styling.
A prática é recente ou tratava-se apenas de um nicho exclusivo e menos conhecido?
Acredito que a designação Food styling seja recente mas o acto em si, o embelezar um prato, já vem de trás, do início da restauração e dos meios digitais, e tem vindo a ser aprimorado. Actualmente, cada vez mais marcas e empresas procuram melhorar a sua imagem.
Quais são os maiores desafios nesta área?
Quem procura enveredar por este género de trabalho, é essencial que se distinga com boa técnica, boa capacidade criativa e bons equipamentos, mas existe algo mais. Considero fundamental, e este é o maior desafio, criar um bom cenário e descobrir o género fotográfico de cada criador. Várias pessoas chegam até mim revelando dificuldade em compor, editar ou fotografar o melhor ângulo. A prática e a persistência são boas aliadas, mas a formação também serve como um forte pilar.
O que as pessoas ainda não compreendem sobre esta arte?
Essencialmente, que é um trabalho digno e que podemos criar um bom futuro a fotografar receitas/pratos/alimentos/produtos e ser reconhecidos e recompensados por isso. Ainda existe muito o estigma de que não é possível fazer vida com a fotografia, mas quando somos bons a fazer algo, torna-se o nosso foco e missão.
O que a levou a enveredar por esta área?
A paixão pelo meio artístico. Considero o food styling uma arte muito própria, com uma assinatura única e que é incrível quando é bem conseguido. Por outro lado, estava num trabalho que não me realizava a vários níveis e coloquei a mim própria o desafio de começar a criar e a fotografar cada vez melhor. Hoje, vivo constantemente a visualizar cenários na minha cabeça.
Quais os alimentos que mais gosta de fotografar?
Doces e sobremesas. Das coisas que mais gosto de fotografar destaco os bolos pelo seu aspecto altivo, imponente e com uma decoração sóbria. No fundo, são as sobremesas gulosas que me cativam porque além do desejo pelo doce também fica o encanto pela imagem.
Como definiria o seu estilo de food photography?
Diria que romântico e rústico definem bem a mensagem que pretendo passar. As cores, os elementos, as composições devem transmitir a posição do criador, como o seu gosto pessoal, e acho que estas são as palavras certas para o meu trabalho. Romântico por todo o ambiente que crio, a edição de cada fotografia e os adereços que coloco; e rústico porque a maioria dos adereços foram adquiridos em feiras de antiguidades ou até mesmo de casa dos avós, desde a camisa de vestir, os pratos, os talheres, etc.
Qual foi o melhor feedback que já recebeu do seu trabalho?
Recebo diariamente feedback tão bom que se torna ingrato escolher, mas diria que fiquei feliz quando afirmaram que o meu trabalho facilmente se aplicava a um outdoor de rua (entenda-se, exposto a toda a gente) ou então quando chamam obras de arte que fazem sonhar, que são incríveis e maravilhosas.
Quais foram as suas maiores conquistas nesta área?
Conseguir chegar a grandes empresas e fotografar produtos. Com a minha assinatura, com o meu toque pessoal e com total responsabilidade e posteriormente ver as minhas fotografias a viajar pelo mundo fora. É um sentimento incrível. Quero acreditar que ainda muito está por chegar e conquistar.
Quando tira uma fotografia, qual é o seu foco e objectivo principal?
Qualquer food photographer deve ter como principal foco o seu produto, neste caso a comida. Enquanto criadora, quero passar uma mensagem muito para além da receita. Quero levar a viajar, quero provocar o desejo pela receita e essencialmente quero despertar emoções. Acho que tenho essa missão.
É verdade ou mito que muitas vezes as fotografias apetitosas de comida que vemos nos meios de comunicação são feitas com produtos não comestíveis que visualmente funcionam melhor do que o próprio alimento?
Sobre esse tema, não poderei falar muito porque gosto de trabalhar com produtos (alimentos) reais. Mas, por aquilo que sei e que fui aprendendo, existem de facto muitos truques para tudo parecer bonito e perfeito. Por isso, diria que é verdade quando são utilizados meios não tradicionais para mostrar e vender produto.
Que dicas deixa a quem quer enveredar por esta área?
Primeiro, dizer que não é fácil, que não basta clicar no botão da máquina e o trabalho está feito. É preciso muito tempo, muita dedicação e essencialmente muita paixão pela criação. A maior dica que posso deixar é que não desistam, procurem aprender todos os dias, observem o trabalho de outros criadores e pensem ‘se eles conseguem, eu não consigo porquê?’. Este foi o mote que me impulsionou para o meio e que ainda hoje está presente na minha cabeça. Procurem ajuda se necessário, leiam livros, sigam pessoas ligadas à área e absorvam tudo o que elas vos possam ensinar.