Ela de Vila Nova de Gaia, ele de Santarém, conheceram-se em Albufeira quando ambos desfrutavam do trabalho e das festas da noite algarvia. Um mês depois de começarem a namorar, estavam noivos e todos acharam que o relógio estava demasiado acelerado. Eles não quiseram saber. Compraram um cão e foram viver juntos. Quando a época alta terminou, ficaram sem trabalho e receberam uma proposta aliciante: co-gerir um hotel nos arredores de Londres. Com seis meses de relação, Nikita e Joaquim Botelho partiram à aventura. Este ano, regressaram à terra natal dela, casados e com um bebé a caminho. Esta é a história deles.
Conheceram-se em 2015, ambos no “ponto zero”, como lhe chamam, sem amigos e conhecimentos em comum, apenas o facto de trabalharem juntos num bar em Albufeira durante aquele Verão. Estavam a fugir de situações complicadas nas respectivas terras natais, ela de Vila Nova de Gaia, ele de Santarém, e queriam um escape. “Não estávamos à procura de uma relação”, garantem, e apesar de todos conseguirem ver a química entre os dois desde o início, eles próprio demoraram um pouco até perceberem que a ligação que os unia ultrapassava a amizade. Quando o perceberam, contudo, não podiam ter sido mais rápidos. Um mês depois do início do namoro, o dono do bar onde trabalhavam descobriu a relação e proibiu-os de dormirem no mesmo quarto. “Como não íamos dormir em quartos separados, arranjamos um apartamento e um cão”, diz Nikita Botelho, pedida em casamento em tempo recorde. “Nem dá para explicar, pareceu tudo sempre natural. Éramos dois miúdos sem grandes planos”, afirma.
“Éramos dois miúdos sem grandes planos”
Quando a época alta terminou, nenhum dos dois queria regressar a casa e eis que surge uma proposta inesperada: co-gerir um hotel nos arredores de Londres, Inglaterra. Com apenas uma mochila de roupa para cada um, sem saber o que os esperavam, o casal, que contava apenas com sete meses de relação, aceitou a oportunidade e emigrou, à procura de novas experiências e crescimento pessoal e profissional. “Já tínhamos saído de casa mas tinha sido sempre temporadas. O maior desafio foi começar a nossa vida adulta, com renda para pagar, ter de fazer planos, nós que nunca fizemos planos para nada”, afirma Nikita Botelho, sublinhando que emigrar ensina sobretudo “com quem podemos contar. Só quando estás longe é que vês quem te liga, quem te manda mensagem, quem procura”, refere. O mais difícil de gerir? “As saudades”, revela Joaquim Botelho, ao que a esposa acrescenta: “Quando alguém diz o teu avô está doente, a tua melhor amiga faz anos e tu pensas eu não posso ir a Portugal agora, este dinheiro que temos de lado não é para isso. A vida de emigrante não é para toda a gente. Estivemos 3/4 anos emigrados, crescemos imenso a nível profissional”.

Em Janeiro deste ano, decidiram regressar à terra natal dela, Arcozelo, Vila Nova de Gaia. Nikita Botelho ainda trabalhou duas semanas antes da pandemia os fechar em casa. O confinamento, contudo, foi “abençoado”. “Estávamos na casa da minha mãe quando isto começou: eu, o Joaquim, o meu pai, a minha mãe e a minha irmã. Foi espectacular. Planeávamos os almoços e jantares, revessávamo-nos nas idas às compras, jogávamos, parecia que estávamos num campo de férias. O Joaquim até começou uma horta”, atirou Nikita Botelho. “Não a terminei”, revela o marido. Hoje, já têm uma casa só sua, que aproveitaram para redecorar quando ambos apanharam Covid-19. “Um mês fechados em casa? Pintamos as paredes!”, diz, entre risos, Nikita Botelho. Ambos têm os seus hobbies, ela as artes manuais, com a página de instagram insta.sewhat, ele a guitarra e respeitam o espaço um do outro. “Conseguimos fazer tudo juntos sem atrapalhar o espaço um do outro”, afirma Joaquim Botelho.
“Conseguimos fazer tudo juntos
sem atrapalhar o espaço um do outro”
Durante seis anos, trabalharam sempre lado a lado, passavam 24 horas juntos, e habituaram-se a esta cumplicidade muitas vezes causadora de confusão aos olhos dos outros. “Por muito que para os outros possa parecer a altura errada, já lá vão seis anos, as coisas têm acontecido ao nosso próprio ritmo”, diz Joaquim Botelho. “Não queremos saber o que os outros pensam. Desde cedo temos a nossa família, primeiro pensamos em nós”, complementa Nikita Botelho. E assim tem sido, o yin e o yang, ela mais nervosa e ansiosa, ele mais calmo e ponderado. Ambos, porém, com os pés na terra. “Não somos ingénuos ao ponto de pensar que isto é um conto de fadas e dura para sempre. Dura enquanto formos felizes e trabalharmos para isso. Há alturas em que as coisas não estão tão bem e é preciso trabalhar”, afirma Nikita Botelho. “Tem de haver compromisso, temos de pensar “vou querer mudar a pessoa que sou para acompanhar o crescimento do outro ou vou ser arrogante e crescer no meu caminho sozinho?”. Nessas alturas, tem de se perceber o que se quer e lutar por isso”, diz Joaquim Botelho.
Hoje, lutam acompanhados. Nikita está grávida de cinco meses. “Nunca quis ser mãe, nunca fez parte dos meus planos, até que fez”, revela Nikita Botelho. “Encontrar alguém não estava planeado, ir viver para um país diferente não estava planeado, pedir alguém em casamento não estava planeado, ter uma criança nunca esteve planeado”, diz Joaquim Botelho, entre risos. Este “Covid baby” será uma menina. “A minha melhor amiga está grávida com mais 1 mês que eu, a minha outra amiga teve agora bebé há 1 mês, uma amiga em comum tem um bebé de 1 ano, estamos na bolha de bebés”, diz. A palavra do momento? “Estabilidade”, afirmam. Sem nunca forçar nada. “Deixamos as coisas fluírem, é o que fazemos e tem funcionado”.
