Joana Luís é arquitecta de interiores e conta, no seu portefólio, com dezenas de trabalhos que evidenciam uma marca latente: linhas simples e pragmatismo. Até ao final do ano, revela, a agenda já está cheia, depois de projectos que geraram um impacto substancial, como as lojas da Mahrla e da MyMinimoon. Uma profissional que gosta de abrir o lado pessoal na página de Instagram para gerar empatia e conexão com os clientes.
“Foi um caminho muito claro até chegar à Arquitectura”, diz Joana Luís, arquitecta de interiores de Vila do Conde, que sempre “gostou de alterar as coisas em casa e tratar das decorações. Tinha essa sensibilidade para tudo o que fosse visual e espacial”, conta. Depois de concluir o curso, estagiou num gabinete de Arquitectura e daí saiu para integrar a empresa de construção civil do pai. “Não tinha muito a ver com Arquitectura de Interiores mas deu-me uma bagagem muito grande a nível de obra. Aprendi imenso no terreno”, refere.
O bichinho da decoração permanecia forte e Joana Luís ia alimentando com trabalhos paralelos de “projectos controlados” para família e amigos. Quando nasceu a filha Margarida, decidiu abrir uma página de Instagram em nome pessoal para mostrar o trabalho como arquitecta de interiores mas também partilhar um pouco do seu dia-a-dia. “A minha casa foi toda desenhada por mim e, à medida que ia mostrando, percebi que as pessoas tinham muito interesse. Comecei a abrir um pouco mais e através das redes sociais estabeleci uma rede de contactos que gerou pedidos de pequenos projectos de decoração de interiores”, revela.
No ano passado, o volume de trabalho intensificou-se e recebeu dois convites que elevaram a fasquia: desenvolver o espaço da Mahrla, marca portuguesa de roupa da empreendedora Sílvia Pinto Pereira, e desenhar um projecto de raiz para uma amiga que queria abrir um espaço comercial. “Estava cheia de medo, eram dois espaços comerciais, um nível completamente diferente, mas ficaram dois projectos muito interessantes, tiveram bom feedback e isso fez-me perceber que este caminho paralelo devia ser o principal”, conta Joana Luís. O empurrão que faltava para “dedicar-se a 100%. No final do ano passado, em plena pandemia, deixei a empresa do meu pai. Foi uma decisão muito difícil, largar o certo por incerto, abrir uma empresa minha com encargos e responsabilidades, toda a vertente emocional de deixar a empresa do meu pai que tinha traçado um percurso para mim. Mas estou muito satisfeita, agora sim sinto-me completamente realizada”, afirma.
Conexão com o cliente e linhas simples
A partilha do seu lado pessoal, através da página de Instagram criada, ajudou a potenciar o alcance do seu trabalho. Joana Luís acredita que esta plataforma lhe permite desenvolver uma conexão diferente com os clientes. “Tenho necessidade de criar uma relação com o meu cliente, gosto que as pessoas confiem em mim, que sintam que o meu trabalho não é só desenhar, mas sim desenhar algo importante para elas, espaços onde vão passar muito tempo. Para desenhar bem, tenho de os conhecer bem, tem de haver uma relação próxima. As pessoas que me seguem no Instagram percebem como eu vivencio os espaços e procuram-me por isso. As redes ajudam muito nesse aspecto porque as pessoas começam a ter empatia ainda sem conhecerem. É importante para que percebam quem está do lado de cá do ecrã”, explica.
A maioria dos projectos que recebe, diz, “são de pessoas que querem reconverter um espaço em casa, já têm o projecto de arquitectura aprovado e vão iniciar obra, mas precisam de uma pessoa que faça a ponte com o empreiteiro, para ajudar na escolha dos materiais, pontos de luz, desenhar móveis fixos, etc.. Joana Luís conta que as pessoas “sentem-se um pouco perdidas” porque “a escolha é tanta. Vêem na Internet e chegam cá com imagens fabulosas do Pinterest mas depois não sabem pegar nessas imagens e passar para casa delas porque as áreas e alturas são muito diferentes. Eu faço esse acompanhamento”, refere. Apesar de apaixonada pelo seu trabalho no cômputo geral, há uma divisão da casa que lhe rouba o coração. “Pedem-me imensas cozinhas, sou completamente apaixonada por cozinhas”, confessa.
Um elemento está sempre presente em todos os seus trabalhos: “sou muito prática. Nada é bonito se não for prático. A casa tem de responder às nossas necessidades do dia-a-dia. Não podemos ter uma casa muito bonita que depois nos deixa reféns dela. Gosto de aproveitar ao máximo o espaço consoante as características da família”, salienta. Além disso, a marca Joana Luís é sinónimo de “linhas simples. As pessoas descrevem a minha marca com as palavras elegância, simplicidade e bom gosto”, revela. Tudo conjugado com os desejos do cliente faz com que o trabalho seja sempre “desenvolvido em simultâneo”.
Criar lojas dos sonhos dos clientes
O empenho em todos os projectos é igual, mas se tivesse de eleger, “os espaços comerciais e as cozinhas” são os projectos que lhe dão mais gozo. O primeiro “realmente impactante” foi o da loja Mahrla. “A Sílvia não tinha grande ideia do que queria, deu-me carta branca para desenhar e eu consegui interpretar a marca dela e o que ela queria dar aos clientes. Acho que ficou espectacular mas mais do que eu achar foi sentir que era a loja dos sonhos dela”, conta. Outro projecto que Joana Luís destaca é a loja MyMinimoon, no Marshopping, uma loja de criança e puericultura de grandes dimensões que sofreu uma “reformulação total. Nos espaços comerciais, a responsabilidade é maior porque além de estarmos a projectar para o cliente, os clientes da marca também vão ser impactados”, lembra.
Joana Luís gosta quando apresenta um projecto e lhe perguntam “como é que eu nunca pensei nisso?. Nós, arquitectos de interiores, temos uma forma de pensar e visionar o espaço que nos permite ter uma visão que o cliente não tem”, explica, gostando de desconstruir ideias preconcebidas. “Não é preciso ser um projecto extremamente caro para ficar bonito. Com coisas simples, muitas vezes conseguimos chegar lá. O importante é encontrar-se as melhores soluções para o espaço e orçamento em questão”, diz. As expectativas do cliente, confessa, são o que a deixa mais ansiosa. “Estamos às cegas e o meu maior receio é ‘será que estou a corresponder à expectativa do cliente?’. Hoje em dia somos impactados por muitas imagens que vemos na Internet, esspecialmente do Pinterest, as pessoas procuram muito mas a verdade é que muitas dessas ideias que vemos são projectos muito caros e fora do nosso mercado”, alerta.
Mais especial do que desenhar para os outros, é desenhar para si mesma. Joana Luís já tinha desenhado a sua casa de fio a pavio e o próximo projecto próprio foi o atelier. “Desde que entrei neste espaço percebi logo como ia ser, como o queria, fiz um moodboard, com as ideias que tinha, e se virem o moodboard e o espaço como está agora percebem que ficou igual”, garante. O importante é que seja “um reflexo do trabalho que faz” com “linhas simples, claras, elegantes. Queria que as pessoas quando entrassem pensassem ‘isto é a Joana Luís’. Gosto de trabalhar aqui, tem uma luz bonita e sobretudo sair de casa foi muito importante, detestei estar em casa a trabalhar”, salienta. Actualmente, Joana Luís tem uma série de projectos em mãos, suficientes para lotar a agenda para o resto do ano, como a loja By Brazil no Marshopping (a arquitecta já finalizou duas lojas para a marca no Gaia e Arrábidashopping), mais uma loja Mahrla e muitas cozinhas, quartos de criança e outras obras privadas que exigem acompanhamento. “A responsabilidade é muito grande mas está a correr muito bem”, afirma.
Segundo Joana Luís…
3 erros de decoração
- Misturar estilos. A casa deve ter uma linha condutora, os espaços não devem ser pensados individualmente, tem de se definir qual o estilo e linha que se quer seguir.
- Ser bonito mas não funcional. De que adianta ter um tapete claro se a família está habituada a andar de sapatos dentro de casa e o tapete suja-se rapidamente? Ou ter uma prateleira alta para livros no quarto da criança que a impede de lá chegar? O espaço tem de corresponder às necessidades do dia-a-dia.
- Comprar sempre barato. Se investimos pouco numa divisão e passados cinco anos já estamos a fazer alterações, então o barato saiu caro. Às vezes, é preferível fazer um esforço, comprar algo mais caro e saber que, mesmo com bastante uso, continua impecável. As cozinhas, por exemplo, são a área da casa com mais uso e por isso devem ser um investimento.
3 dicas de decoração
- Livros. A maioria das pessoas tem livros em casa e são algo fácil que pode ser usado para decorar cómodas, aparadores, mesas-de-cabeceira. Empilham-se três livros, coloca-se uma caixinha ou uma jarra com flores em cima ou um candeeiro ao lado e está decorado o móvel.
- Quadros. Imagens bonitas e inspiradoras revelam um pouco do que somos e é um elemento que fica sempre bem na decoração, seja pendurado, seja apenas pousado em cima de uma banca ou no chão.
- Elementos verdes. Árvores de interior, flores, trazer um pouco de fora para dentro de casa funciona sempre bem.
Dica extra: Trocar elementos de divisões. “Em minha casa, pego numa cadeira, banco, livros, e vou rodando pela casa toda. Ainda agora fiz isso no quarto das crianças. Mudei a parede da cabeceira das camas, troquei os quadros e já parecia outro quarto. A base estava lá, não fiz qualquer investimento extraordinário e consegui criar um espaço novo para eles”.