Ana Almeida sempre fez questão, desde que o filho Miguel tinha poucos meses de idade, de mostrar que a maternidade não mata a vida social nem o espírito de aventura. Criou o blogue Mamã Overlander, e a página de Instagram homónima, que hoje enche com todos os lugares, histórias e descobertas da família composta pelo casal e os dois filhos. Juntos, já percorreram mais de uma dezena de países em experiências que, espera, criem momentos e memórias felizes.
O aniversário do filho acabou por ser um mote para a partilha das aventuras de Ana Almeida e família nas viagens de que ela nunca abdicou. “A página foi criada com o objectivo de, através das nossas partilhas, mostrar aos outros pais que é possível continuar a fazer aquilo que mais gostamos, no nosso caso, viajar em autonomia, mesmo depois de termos filhos”, explica. Depois de ver tantos exemplos de pais que deixaram partes de si para trás “ou porque acham que são actividades não compatíveis com os miúdos, ou porque, no exemplo das viagens, é muito difícil viajar com os miúdos”, Ana Almeida embarcou nesta missão de “mostrar que não é preciso deixar de fazer as coisas que nos fazem felizes só porque fomos pais. Tudo se faz, com mais ou menos adaptações, mas conseguimos fazer”, salienta.
Assim, começou por levar o filho Miguel em viagens tinha ele apenas poucos meses de idade. Arrecadou, inclusive, o título de “hóspede mais novo” numa das aventuras. “Recordo-me da cara dos recepcionistas do albergue de montanha onde ficámos a dormir quando fomos com o Miguel aos alpes da Eslovénia (2000m de altitude). Estavam incrédulos por termos ido com um bebé, o Miguel tinha cinco meses na altura, disseram-nos que era o hóspede mais pequeno que alguma vez tinham recebido”, recorda Ana Almeida, para quem viajar sem filhos não é uma hipótese. “Porque não os levar? Não fazia sentido ir fazer algo que me faz feliz, que me enriquece, que me deixa realizada e deixar os meus filhos de parte. Quero partilhar tudo com eles, é muito mais especial assim. Poder dar-lhes o mundo, levá-los a subir uma montanha, acampar com eles, fazer uma viagem de bicicleta, são tudo coisas que os vão transformar como pessoas, ajudá-los a crescer com os horizontes abertos”, afirma. Viver aventuras em família é “maravilhoso e inesquecível. São momentos que ficam nas memórias de todos para sempre”, diz.
Uma dezena de países com duas crianças curiosas
Já viajaram de Norte a Sul de Portugal e pelo mundo contam com uma dezena de países percorridos: Espanha, França, Itália, Croácia, Eslovénia, Sardenha, Escócia, Inglaterra, Irlanda, Marrocos, Islândia. Tudo isto e os filhos têm apenas seis anos, Miguel, e três anos, Madalena. “Ambos são muito expressivos e quando chegamos a sítios que eles gostam libertam sempre um ‘uau que lindo’. Fazem muitas perguntas, gostam de saber os nomes das coisas e o Miguel é muito atento às diferentes línguas. São curiosos”, conta Ana Almeida, que acredita que “uma criança que viaja é uma criança que cresce sabendo que o mundo é muito grande e não é só a nossa casa ou o nosso bairro. Ao viajar, há sempre imprevistos e as crianças aprendem a lidar com as mudanças de planos, não sofrem tanto com as alterações de horários ou de itinerário. O contacto com pessoas e culturas diferentes faz com que sejam mais tolerantes à diferença”, salienta.
Viajar é muito diferente de ler sobre lugares distantes em livros. “É sempre diferente aquilo que aprendemos a ler nos livros daquilo que aprendemos a viver e a observar. O crescer na Natureza ajuda a que aprendam e percebam desde cedo a importância de cuidarmos do nosso planeta e de respeitar o meio ambiente. No outro dia, a Madalena perguntou ao pai ‘Sabes de onde vem a lava? Vem dos vulcões’, ela tinha aprendido aquilo na Islândia”, recorda Ana Almeida. O contacto com a Natureza permite também que “conheçam e reconheçam alguns animais, que aprendam a respeitá-los e que observem alguns aspectos da vida deles, como as casas de formigas, as abelhas nas flores ou as carochas que passeiam pela areia. E existem também os benefícios ao nível da saúde e do desenvolvimento. Crescer na Natureza, a subir e descer árvores, a saltar nas pedras ou a escalar rochas ajuda-os a perceber o risco, os limites, a conhecerem melhor o corpo”, salienta.
Os lugares são escolhidos de acordo com a sua “componente cultural e de Natureza. Em todas as viagens que fazemos, para além dos locais novos a visitar, tem de haver a parte de andar de carro fora de estrada, da montanha, de poder fazer uma caminhada. Procuramos muito locais pouco conhecidos, mais isolados, em que é possível estar em contacto com a Natureza no seu estado mais puro”, diz Ana Almeida, satisfeita por poder contar com “a mais-valia dos conhecimentos de navegação e orientação do Mário”, o marido, para poder chegar aos locais. As peripécias em viagens são tantas, desde o Miguel a cantar em cada igreja que entrava porque “achava graça ao eco”, até tentar atravessar um rio na Islândia de bicicleta e acabar “com os pés todos molhados”, um rol de “coisas boas e menos boas” que marcam as aventuras. O grande objectivo é que os filhos “sejam felizes, que criem memórias felizes, que tenham uma infância repleta do máximo de experiências possíveis, que brinquem muito, que aprendam coisas sem ser pelos livros, que vejam pelos olhos deles as diferenças culturais, que o mundo é imenso e que eles vivam ao máximo e se sintam livres para o explorar”.