Olá MAGAFONE   Click to listen highlighted text! Olá MAGAFONE
  • Please insert widget into sidebar Customize Righ Home 2 in Appearance > Widgets

Mariana Martins tem apenas 22 anos, mas já com 10 dizia que ia ser a primeira mulher licenciada em guitarra portuguesa. Uma década depois, cumpriria o feito, marcando lugar num mundo dominado por homens. O som do instrumento cativou-a com os primeiros acordes e hoje tenta passar essa paixão aos alunos, não deixando de sonhar com concertos ou até a criação de uma escola.

A paixão pela música ficou clara desde cedo e mal surgiu a oportunidade de seguir por essa via, Mariana Martins agarrou-a. Ingressou, no 5.º ano, no ensino articulado da música, em Odemira, e na altura de escolher um instrumento, embora estivesse inclinada para o violino ou bateria, de que gostava bastante, acabou influenciada pela mãe e professora que eram fãs da guitarra portuguesa. “Não é habitual existir guitarra portuguesa em conservatório, mas lá havia então decidi experimentar e adorei, apaixonei-me logo pela guitarra. Ainda nem conseguia tocar com os pés no chão quando estava sentada com a guitarra e punha os braços em volta dela quase a abraçá-la para tentar segurar, mas adorava”, lembra.

O som da guitarra portuguesa, “que não estava habituada a ouvir”, assim como “a forma de tocar e todas as particularidades” do instrumento contribuíram para o amor que se desenvolveu, potenciado pelas aulas do professor José Alegre. “Ainda hoje, é como um segundo pai para mim. A forma dele de ensinar foi um grande exemplo e eu dizia que queria dar aulas e ser professora como ele para poder inspirar crianças a seguir o caminho da guitarra portuguesa. Graças a ele, percebi que a guitarra portuguesa tem um vasto horizonte. Muita gente pensa que apenas acompanha fado, mas também pode tocar muitas outras coisas. É como o saxofone, não tem sempre de tocar jazz”, explica. José Alegre foi o primeiro licenciado de guitarra portuguesa na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco (ESART), encontrando-se a concluir o curso na altura em que Mariana Martins começou a ter aulas de guitarra portuguesa. “Com 10 anos, eu dizia que ia ser a primeira [mulher] licenciada. Era uma brincadeira, mas com o passar dos anos tornou-se real”, afirma.

Dedilhar na guitarra a ver Morangos com Açúcar

Desde que começou a ter aulas, nunca mais largou a guitarra. “A guitarra portuguesa tem 12 cordas, todas de aço, para uma criança é difícil. Mas eu gostava de tocar, adorava o reportório, queria sempre tocar mais e mais”, revela. Mesmo quando fazia algumas das suas actividades preferidas, não dispensava a habitual companheira. “Na altura dos Morangos com Açúcar, lembro-me que enquanto estava no sofá a ver, tinha a guitarra ao colo e dedilhava nas cordas. Estava sempre a treinar. Quando vinha no autocarro de Odemira até minha casa na Boavista dos Pinheiros, treinava o dedilhar nos cadernos com argolas, passava os dias assim, tal e qual o meu colega do acordeão, que também vinha no autocarro a treinar nas pernas”, diz, entre risos. Mariana Martins confessa que “estava sempre agarrada à guitarra” porque é “um instrumento único e, como é nosso, toca ainda mais no coração”.

No 9.º ano, viu-se obrigada a sair de Odemira e a mudar-se para Lagoa para seguir os estudos. “O ensino articulado acabou em Odemira e o meu professor veio dar aulas para Lagoa. Vim morar sozinha, não conhecia ninguém, foi um processo de adaptação, mas nunca desmotivei”, salienta. A guitarra, essa, não saía do seu lado. “Sempre soube que a guitarra ia comigo, andava com ela às costas para todo o lado, mesmo nos dias em que chovia e eu fazia o percurso entre Odemira e Lagoa com guitarra, mala, computador, mochila”, recorda. Sempre contou com o apoio da família, sem o qual, garante, não teria continuado, e dos colegas da Banda Filarmónica de Odemira, que torciam para que fizesse história. “Os meus colegas acarinharam-me e encorajaram-me imenso. À volta, sempre tive um ninho de amor”, diz, sorridente. Não invalida, claro, o aparecimento ocasional de vozes menos positivas. “Há sempre pessoas que não vão concordar com o que estamos a fazer. Tive um professor que dizia ‘a guitarra portuguesa não é para meninas’. Eu simplesmente tentava não dar atenção a essas pessoas. Ignorei e ainda bem porque continuei e agora estou aqui”, afirma Mariana Martins, triunfante.

Inspirar mais mulheres para a guitarra portuguesa

A primeira mulher licenciada em guitarra portuguesa pela Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco (ESART). “É uma responsabilidade muito grande. Já tinha sentido que era um grande feito quando o meu professor terminou a licenciatura dele. Quando eu concluí os estudos, muita gente me mandou mensagem a dizer ‘não sabia que havia esse curso, gostava de seguir’. Há mais pessoas interessadas, está a evoluir, fico muito contente”, diz Mariana Martins. O que é realmente importante, para ela, é divulgar a guitarra portuguesa e não tanto a conquista feminina. “Ainda é um espanto uma mulher tocar guitarra portuguesa. Quando terminei a licenciatura, não estava à espera do mediatismo. Estava tão feliz por finalmente acabar a licenciatura em algo que eu queria tanto. Fico contente por poder representar outras mulheres que queiram seguir este caminho, mostrar que este percurso existe, mas na verdade ser mulher é só uma característica, o importante é o instrumento”, salienta.

Questionada sobre o domínio masculino na guitarra portuguesa, Mariana Martins afirma que estava relacionado com o fado e que se tornou habitual ver homens a tocar guitarra portuguesa. “Não foi propositado, com o passar dos anos tornou-se o normal. Se calhar as mulheres queriam tocar, mas diziam-lhes para serem fadistas e cantarem. Tenho pessoas que me mandam mensagem a dizer ‘ah fadista!’, eu não sou fadista, sou guitarrista”, reforça, tentando dissociar a guitarra portuguesa como instrumento com propósito único deste género. “Não existia a guitarra portuguesa em conservatório, existia mais nos fados, em Coimbra, um mundo de homens, mas temos grandes guitarristas a mudar esse paradigma, como a Luísa Amaro e a Marta Pereira da Costa”, afirma.

Professora, futura mestre e potencial empreendedora

Agora professora de guitarra portuguesa, Mariana Martins já começa a notar essa mudança. “Neste momento, tenho mais alunas que alunos, nove meninas e oito meninos”, refere. As luzes dos seus olhos num percurso profissional que não teve de esperar muito até conseguir. “Comecei a dar aulas há três anos, no 2.º ano de licenciatura, quando tinha 19 anos. Não existem muitos professores de guitarra portuguesa e surgiu a oportunidade de dar aulas no local onde estudei. Estou muito feliz, já tenho horário completo e 17 alunos de guitarra portuguesa no Algarve, estamos a dinamizar a guitarra portuguesa”, afirma, orgulhosa. No início, os medos atormentavam-na, mas a prática deu-lhe confiança. “Aquele medo de falhar… Mas agora já estou mais leve. Desde que comecei a dar aulas, sinto-me mais confiante porque estou a fazer o que gosto e os meus alunos são como eu era, leva-me para quando eu era aluna. Hoje no trabalho que faço com os meus alunos consigo ver o reflexo do meu professor e isso orgulha-me bastante. Não podia estar mais feliz”, revela.

Uma professora de 22 anos que se torna novamente aluna quando entra nas aulas de mestrado. “Estou a tirar Mestrado em Ensino, a minha paixão, e estou a aprender imenso. Gosto de passar a palavra e de dar a cara pela guitarra portuguesa”, afirma. Focada no momento presente, Mariana Martins não descura, contudo, ideias e sonhos de futuro. “Qualquer músico traça como objectivo dar concertos e eu também gosto muito de mostrar às pessoas a voz da minha guitarra, gosto de tocar. Neste momento, não tenho tempo, estou dedicada aos estudos, mas quando terminar vou dar mais tempo a essa vertente”, garante, lembrando como gostou de tocar com Marta Pereira da Costa no festival Santa Casa Alfama 2021. “Foi um privilégio, um dos momentos em que me senti mais confiante, sem nervos, estava calma porque estava com ela. Um mês depois, conheci a Luísa Amaro e toquei com ela no festival Guitarra D’Alma. Foi um ano espectacular”, resume.

A jovem guitarrista levanta ainda o véu sobre um projecto que, por enquanto, mora apenas na sua cabeça. “Criar uma escola onde os alunos aprendessem não só a tocar, mas a construir os próprios instrumentos. Uma escola que abrangesse desde a criação do instrumento – guitarra, viola campaniça, cavaquinho – até aprender a tocá-lo. E tocar de várias formas, com várias técnicas, tornar os instrumentos multifacetados, incluindo, claro, a experiência dos espectáculos. Enfim, é uma ideia”, diz, humildemente, querendo antes disso “ganhar conhecimento, falar com pessoas do fado, de Coimbra” mas também ajudar a “modernizar” a guitarra portuguesa. “Gostava de ter experiências de duos, experimentar com harpa ou acordeão, acho que guitarra portuguesa fica bonita com qualquer instrumento. Tenho conhecido imensa gente com quem sinto que dá para criar algo”, afirma. Ideias que, se conhecemos Mariana Martins, têm grande probabilidade de se concretizar.

Deixe Comentários

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Carrinho
  • Ainda sem produtos no carrinho.

O nosso site utiliza cookies, portanto, coleta informações sobre a sua visita a fim de melhorar a qualidade dos nossos conteúdos para o site, redes sociais e aúncios. Consulte nossa página cookies para obter mais detalhes ou clique no botão 'Aceitar'.

Configurações de cookies

Abaixo, pode escolher os tipos de cookies que permite neste site. Clique no botão "Guardar configurações de cookie" para aplicar sua escolha.

FuncionalO nosso site usa cookies funcionais. Esses cookies são necessários para permitir que nosso site funcione.

AnalíticasO nosso site usa cookies analíticos para permitir a análise de nosso site e a otimização para efeitos de usabilidade.

Redes SociaisO nosso site coloca cookies de redes sociais para mostrar conteúdo de terceiros, como YouTube, Instagram, Twitter e Facebook. Esses cookies podem rastrear seus dados pessoais.

PublicidadeO nosso site coloca cookies de publicidade para mostrar anúncios de terceiros com base em seus interesses. Esses cookies podem rastrear seus dados pessoais.

OutrosO nosso site coloca cookies de terceiros de outros serviços de terceiros que não são analíticos, média social ou publicidade.

Click to listen highlighted text!