Produzido a partir de borracha de pneus usados, o aerogel é uma alternativa de mercado mais ecológica e económica destinada ao isolamento térmico e acústico de edifícios.
Investigadores de engenharia civil e engenharia química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra juntaram-se para produzir um novo tipo de isolamento térmico e acústico para edifícios, com a perspetiva da economia circular, e o resultado foi um aerogel com matriz homogénea de sílica e borracha. O novo material superisolante é uma alternativa mais ecológica e económica às existentes no mercado.
Reflectindo sobre o facto de que, anualmente, são produzidos na Europa cerca de 355 milhões de euros e visando contornar os preços dispendiosos dos aerogéis, os investigadores apostaram em desenvolver este material através do aproveitamento da borracha de pneus usados. O projeto Tyre4buildins, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, foi desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos envolvendo várias etapas de teste até os cientistas atingirem o objetivo final. A tecnologia já foi submetida a processos de patenteamento nacional e internacional.
«Tivemos de vencer muitos obstáculos ao longo do projeto. No início, foi extremamente difícil introduzir a borracha, reduzida a grânulos de um milímetro, dentro do aerogel, mas, após vários estudos complexos, encontrámos uma solução de desintegração química da borracha ou desvulcanização, com recurso a um ácido que torna a borracha líquida. Assim, conseguimos abrir uma nova porta”, diz a coordenadora da equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Química da FCTUC, Luísa Durães, sobre o processo de encontrar um “material inovador e altamente eficaz”. As vantagens? “Além de ter um preço praticamente nulo porque é um desperdício, a borracha é hidrofóbica, isto é, repele a água, o que é benéfico na secagem dos aerogéis. Por outro lado, a borracha tem caraterísticas de grande estabilidade térmica e química”, enumera.
Desenvolvido o aerogel a partir de borracha reciclada e realizados testes através de múltiplas técnicas, observou-se que o novo produto apresenta um elevado desempenho, com “caraterísticas de um superisolante térmico. Assim, conseguimos ter um produto premium em termos de isolamento térmico e, em simultâneo, estamos a contribuir comuma nova aplicação para reduzir os resíduos dos pneus, porque as aplicações atuais estão a esgotar em relação à quantidade de borracha que é produzida”. O novo produto foi depois comparado com isolantes atuais do mercado, tendo sido comprovado que o aerogel, já por si um ótimo isolante, torna-se ainda melhor com a introdução da borracha. “O aerogel com borracha conseguiu até 77% de redução de transferência de calor no protótipo de parede testado. Foi também realizado um teste de envelhecimento com humidade e temperatura e verificámos que o nosso isolante, em comparação com os materiais comerciais testados, era aquele que mantinha todas as propriedades ao longo dos ciclos de envelhecimento”, refere Luísa Durães.
No âmbito deste projeto, foi ainda desenvolvido um estudo exploratório, aplicando o aerogel na absorção de poluentes, com o objetivo de alargar o leque de aplicações do novo produto. Devido à sua capacidade de absorção, o novo aerogel pode ser aplicado na limpeza de águas residuais com diversos poluentes, como óleos e solventes orgânicos.