No Instagram, chama-se Sorrialista, mas na vida real é Bárbara Moreira, mãe do Bernardo, da Matilde e da Madalena. Ficou conhecida pelas suas ideias criativas para actividades dentro de casa, durante o confinamento imposto pela pandemia, e o seu dia-a-dia e família conquistaram milhares de seguidores. Agora, juntou-se à causa ‘A Infância Não se Repete’, que levanta a voz sobre as restrições a que as crianças ainda estão sujeitas e que poderão ter repercussões na construção da identidade das mesmas.
“Desde muito nova que afirmava, com toda a certeza, que o meu maior sonho era ser mãe… de três”, conta Bárbara Moreira, a Sorrialista que conquistou milhares de seguidores no Instagram com as suas dicas de actividades caseiras. Em Abril do ano passado, quando todos nos fechávamos em casa para fugir a um vírus altamente transmissível, Bárbara Moreira deu aso à imaginação e traçou um plano para entreter os três filhos, Bernardo (7), Matilde (5) e Madalena (3) de forma didáctica e lúdica. Para isso, bastava reutilizar objectos já existentes em casa, não exigindo a saída de casa. As actividades, primeiro, suscitaram o interesse das amigas, depois deram origem a uma partilha pública em página própria para que “outras mães pudessem passar o tempo de forma divertida com os miúdos” e acabou por gerar uma comunidade forte e que se apoia nos bons e maus momentos. “Quando dei por mim, estava apaixonada pelo Instagram e pela minha comunidade. Rimos, choramos e partilhamos as nossas vidas. Tenho muita sorte”, confessa.
Além desta “vocação” inesperada da criação de conteúdos sobre dicas, parentalidade consciente e receitas rápidas, Bárbara Moreira vive feliz com o seu papel de mãe. Nunca teve “falsas expectativas sobre a maternidade. Desejava tanto ser mãe e esse desejo preparou-me para tudo, para o amor avassalador, mas também para a loucura e cansaço que se sente, principalmente nos primeiros anos”, conta. Se gostaria de ter sabido mais? “Não, às vezes informação a mais só atrapalha”, brinca. As gravidezes foram “todas iguais”, com muitos enjoos no primeiro trimestre – “até o perfume do meu marido enjoava” – uma agradável sensação de bem-estar no segundo e quando chegava ao terceiro começa a incontinência. “No último, imensa azia, tinha de dormir praticamente sentada”, lembra. Tudo isso, garante, não faz atenuar as “saudades”, até porque, revela, os “partos foram de sonho”.
Bloquear o mau e recordar o bom
Momento mais marcante? “Sempre o momento em que os sinto, vejo e cheiro pela primeira vez, encostados ao meu peito. Pensar que fizemos aqueles seres que há segundos estavam dentro da minha barriga… é avassalador!”, afirma. Mais difícil é, sem dúvida “a privação de sono. Tive três filhos que durante os primeiros nove meses acordavam de duas em duas horas e é de facto muito cansativo. Acabava por me culpar pela falta de energia que não conseguia ter nem para o bebé, nem para os irmãos. Mas, felizmente, ao fim de um ano começam a dormir melhor e volta tudo ao normal”, diz Bárbara Moreira. Com a escolha da aposta na “memória selectiva”, o truque é “bloquear os momentos mais difíceis e só recordar as coisas felizes. Acho que isso ajudou a que tivesse três filhos de seguida”, brinca.
Nesta viagem da maternidade, o mais desafiante é “acalmar o coração e sentir que estão a fazer o melhor pelas crianças. O mais desafiante é fazer o certo. Quero muito que sejam seres humanos maravilhosos e que se possam orgulhar de mim”, revela. Sente-se a mesma, apesar de ter entrado recentemente nos “enta”, apenas “mais feliz e realizada”. Sobretudo, aprendeu a “agradecer, relativizar e descomplicar”. Às recém-mamãs, aconselha a que “acreditem sempre no instinto e não ouçam mais nada a não ser o coração”. Questionada sobre “o que ninguém pergunta às mães que elas gostariam de responder?”, não hesita: “Queres que fique com os teus filhos enquanto vais aproveitar um tempo só para ti, porque mereces?”
A Infância Não se Repete
A pandemia, porém, não trouxe só coisas boas, como a página da Sorrialista e as actividades que reuniram tantos entusiastas. Bárbara Moreira não esconde o desagrado com as restrições ainda impostas mas, sobretudo, com a “incoerência” entre as liberdades permitidas aos adultos e não permitidas às crianças. Por essa razão, juntou-se ao movimento ‘A Infância Não se Repete’. “Os meus filhos felizmente estão em escolas onde a principal preocupação é o bem-estar e a saúde mental. Têm imensos cuidados, mas sem colocar em causa o interesse superior da criança. Quando penso nas centenas de relatos que recebi, fico com coração apertado e não consigo ficar de fora a observar”, salienta.
Sobre estes relatos, enumera: “o facto dos parques infantis estarem fechados durante praticamente toda a pandemia enquanto os adultos já conviviam em esplanadas, hotéis, cinemas; não permitirem que os pais acompanhem os filhos na adaptação à escola, obrigando-os a entregar o filho a chorar a uma pessoa estranha de máscara num local onde nunca entraram; a imposição do uso de máscara em contextos absurdos, como as aulas de ginástica; não permitirem a entrada na escola de um boneco de conforto ou de uma bola de futebol; obrigarem as crianças a comer as refeições de casa na rua”. Ainda, acções de “segregação” entre alunos vacinados e não vacinados e crianças que usam e não usam máscara. “Aqui a questão é a falta de coerência. Os adultos podem tudo e as crianças não”, aponta.
Sobre estes acontecimentos, Bárbara Moreira receia que se estejam a formar “crianças com medo por natureza, crianças com receio do toque ou do abraço, porque podem contagiar ou ser contagiadas. Crianças confusas com as incongruências das medidas. Como é que eu explico ao meu filho que os adultos podem estar em discotecas e as crianças não podem brincar com o amigo da outra turma? Dizem que as crianças se adaptam, mas a que custo?”, refere.