Sou a Miaka, nome que remete à minha infânica, a heroína de um desenho animado japonês que me fazia companhia para adormecer. Hoje em dia, com quase 22 anos, uso esse nome para os meus trabalhos artísticos e presença digital. No dia a dia, sou a Francisca, a menina que não seguiu Artes porque não tinha segurança financeira e não queria correr riscos. Desde que me lembro de existir que adoro desenhar. Aos 12 anos, graças à minha irmã mais velha, entrei em aulas de pintura em acrílico num pequeno atelier em S. João da Madeira e comecei a desvendar as infinitas possibilidades que o mundo das Artes tinha para me oferecer. Aos 17 anos, decidi sair por não querer continuar a gastar o dinheiro dos meus pais, num sonho que parecia longínquo, ao escolher seguir uma licenciatura em Economia.
Contudo, o bichinho nunca me deixou. Mesmo tendo muito para estudar, continuei sempre a desenhar. Comprei uma mesa digital e descobri uma nova vertente, a ilustração digital. Durante a pandemia, enquanto uns estavam infelizes com terem de ficar fechados em casa, eu fiquei agradecida por poder ficar a pintar e a desenhar no meu quarto enquanto ouvia as aulas através do Zoom. Ao terminar a minha licenciatura e sem saber o que fazer a seguir, agarrei-me a qualquer tipo de comissão artística que conseguisse arranjar. Investi na minha presença on-line e solidifiquei o meu alter ego, a “Miaka”, com a criação da minha máscara de papel e fita-cola. Agarrei-me às cores das heroínas mágicas que via nos desenhos animados, fiz as pazes com o meu lado feminino, uni-me à criança que ficou para trás e criei a Miaka.
Nunca fui boa com palavras, falar com pessoas não me sai naturalmente, nunca saiu. Por outro lado, mesmo com tremores constantes, as minhas mãos nunca me falharam. Pintar, esculpir, desenhar, costurar, editar, criar é a minha linguagem. Sinto que tudo o que crio é como uma carta de perdão para a criança que queria apenas desenhar e ser uma estrela como as suas heroínas preferida dos desenhos animados. O único vilão desta história é o tempo que não me permite fazer tudo o que gostaria.


