Cristiana Silva, 20 anos, natural de Paços de Ferreira, representou Portugal no último Miss Universo, que decorreu nos Estados Unidos da América. No mundo dos concursos desde tenra idade, a estudante de Solicitadoria entrou pela curiosidade mas ficou pela defesa das causas e mostra-se orgulhosa do percurso que fez.
Tinha apenas 17 anos, “tão jovem”, quando decidiu ficar a conhecer por dentro o mundo das Misses. “Despertava-me curiosidade. Quando entrei no Miss Portuguesa Gaia, não sabia bem o que fazia uma Miss, a que se dedicava, quais os parâmetros. Entrei de paraquedas e fui aprendendo e aprimorando as causas que queria defender”, conta Cristiana Silva, estudante natural de Paços de Ferreira. Passou por semi-finais, finais, estágio, em que teve de vencer provas de talento, desporto, elegância. “A final foi em Gondomar e fiquei classificada como 1.ª Dama de Honor do Miss Portuguesa 2019. Assim comecei a fazer parte desta grande família que é a Miss Portuguesa”, refere.
Com o título, veio a responsabilidade. “Dediquei-me e dedico-me a causas como a violência doméstica e a violência no geral”, diz. Uma escolha originada por um motivo muito pessoal. “Fui vítima de bullying durante quatro anos e quando passamos por algo assim, podemos falar melhor sobre isso, apoiar outras jovens que talvez estejam a passar pelo mesmo e aconselhá-las. Posso partilhar com o mundo aquilo por que passei e estou orgulhosa do meu percurso porque consegui ultrapassar tudo, tornar-me uma mulher forte, sem medo, que já não é insegura; isso para mim é uma grande conquista e espero inspirar outras meninas e mulheres a fazer o mesmo”, afirma.
Mais do que beleza
As Misses, diz Cristiana Silva, são mais do que caras bonitas. “Achei que ia entrar num mundo em que apenas a beleza era valorizada, mas é mais do que isso. Uma Miss tem de ter beleza, elegância, ser afável, mas acima de tudo tem de ter causas para lutar, tem de saber falar em público, exprimir as suas ideias. O papel de uma Miss é alertar para as causas sociais que defende e que muitas vezes são ignoradas e precisam de alguém que fale sobre elas e desperte consciências”, salienta a jovem de 20 anos, que ultrapassou o medo de falar em público que a atormentava em criança “Sempre tive muito receio, talvez por causa do bullying, que nos deixa inseguros, sempre a questionar o que os outros vão pensar ou dizer. Mesmo quando tinha de fazer stories nas redes sociais e falar para o telemóvel era uma dor de cabeça, tinha vergonha, perguntava-me sempre o que iam pensar do que eu estava a fazer. Mas superei esse medo cedo, aos 12 anos, quando participei num sarau de poesia. Fiquei em 2.º lugar e desde aí percebi o potencial que exprimir-me tinha em abrir portas na minha vida”, diz.
Com a sua experiência como 1.ª Dama de Honor e a defesa das causas que assumiu, começou a trabalhar ainda mais este “à vontade” e “já nota uma grande diferença. Antes de mais ninguém, temos de acreditar em nós próprios, nós temos capacidade e eu sei que sempre fiz o melhor trabalho possível”, afirma. A sua dedicação valeu-lhe, no ano passado, em pleno pico da pandemia, a conquista do título de Miss Universo Portugal 2020. “Na altura, estava tudo incerto, não sabíamos se haveria concurso ou não, em que moldes seria, foi muito desafiante. O concurso realizou-se este ano, de 5 a 16 de Maio, nos Estados Unidos da América, e a organização planeou tudo ao pormenor: fizemos três testes à Covid-19, não podíamos estar todas reunidas, usávamos máscaras, cumpríamos as distâncias… Correu bem e estou muito feliz por ter ido e ter representado Portugal”, revela. Qual a sensação de carregar a bandeira de um país às costas? “É incrível. Não estamos conscientes dessa responsabilidade até lá chegarmos e, quando chamam pelo nome do nosso país, somos nós que vamos. Quando eu ouvia “Portugal”, invadia-me um orgulho tão grande… Saber que estamos a representar uma nação é um sentimento único”, revela.
Convívio com candidatas de todo o mundo
A melhor parte, para Cristiana Silva, foi o convívio com as candidatas de vários pontos do globo. “Tinha algum receio porque algumas Misses partilharam comigo que não tiveram uma boa experiência, mas eu adorei conhecer as culturas de cada país e criar amizades por todo o mundo não tem preço”, diz. A grande diferença entre os concursos nacionais e internacionais, além desta multiculturalidade, é a rede de segurança. “Quando estamos aqui, sentimo-nos em casa, estamos perto de tudo, podemos sempre ligar a alguém se precisarmos de alguma coisa. Lá fora, estamos completamente sozinhas, a representar um país, aconteça o que acontecer temos de estar no nosso melhor. Lá, somos Portugal e temos de deixar uma boa impressão”, explica.
A “boa imagem” ficou mas a classificação no Top20 não. Portugal não conseguiu um lugar cimeiro na competição, mas Cristiana Silva continua satisfeita com os passos que deu no seu percurso. “Nos anos anteriores, era obrigatório escolher-se cinco candidatas da Europa; este ano não foi por áreas geográficas e éramos todas contra todas. Portugal não se classificou mas estou orgulhosa do meu percurso”, afirma. A família Miss Portuguesa diz, assim, um até já a Cristiana Silva, que vai continuar a defender causas mas agora na profissão para a qual está a estudar. “Estou a terminar o curso de Solicitadoria, falta um ano, é uma área que me vai ajudar a lutar contra as injustiças e é uma área que me fascina, assim como a Moda, que também gosto muito. Continuarei sempre a fazer parte da família Miss Portuguesa, que me enche de orgulho, e quem sabe se um dia não voltarei a participar noutro concurso, como o Miss Mundo ou o Miss International”, atira.
A Miss Portuguesa encontra-se em fase de selecção de novas candidatas ao título e Cristiana Silva deixa conselhos às coroas que se seguem: “Nunca desistam de vocês mesmas, lutem, tenham autoconfiança, foquem-se nos vossos objectivos e tenham uma causa pela qual lutar. É mágico ajudar os outros”.