Quando confrontados com a finitude da vida, começamos a apreciar as pequenas coisas que nas nossas rotinas desenfreadas tomávamos como garantidas. A lição não é nova mas é reforçada, uma e outra vez, por cada doente que, em determinado momento, recebeu um diagnóstico desfavorável. Como se, de repente, o mundo desacelerasse e tudo o que era urgente deixasse de ter importância.
Há muito a aprender com estas histórias de vida mas mais do que os sinais de alerta ou a consciência de que podemos ter um prazo mais curto do que inicialmente antecipávamos, o essencial é redefinirmos prioridades e aprendermos a relativizar obstáculos. Afinal, uma briga no trânsito é crucial? Alguém que nos respondeu torto vale um dia desperdiçado a remoer o assunto? Chateamo-nos com pouco e deixamos que o problema que vemos tão grande nos arruíne, muitas vezes, o resto do dia que temos pela frente. Talvez por isso hoje se fale tanto em mindfulness, em ioga, em bem-estar. Já não sabemos estar no momento presente, ora estamos ocupados a relembrar cada pormenor do passado, ora estamos preocupados com tudo o que pode vir no futuro.
Nesta edição, exploramos uma das doenças que mais afecta as mulheres: cancro da mama. Não quisemos exaltá-las como guerreiras, até porque, nas suas próprias palavras, não pediram nenhuma batalha e não é justo para aquelas que não sobreviveram. Quisemos sim desmitificar o “bicho” do cancro, cada vez mais comum mas também cada vez menos mortal, para que numa sociedade em que tudo é temporário, os valores essenciais se tornem permanentes.
Daniela Castro Soares
Directora Editorial Magafone