Já diz o velho ditado ‘lixo de uns, tesouro de outros’. Torna-se difícil falar de um tema em que estamos do lado feliz da balança, o lado em que temos mesas fartas e armários cheios de mais comida do que precisamos. Não conseguimos sequer imaginar, aqueles de nós que sempre assim viveram, o que será para quem (sobre)viveu durante a 2.ª Guerra Mundial ou quem procura trocos nos bolsos das calças para comprar um pão ou uma peça de fruta.
Deitámos muita coisa fora, porque já não nos apetece, porque deixámos passar o prazo, porque nunca há-de faltar dinheiro para a comida. Não pensamos, porém, que os restos que não guardamos nem reaproveitamos, muitas vezes por pura ignorância e desconhecimento das alternativas, seriam a única refeição quente de alguém naquele dia. Não pensamos no que os outros podem estar a precisar e descartamos.
Felizmente, a realidade do desperdício alimentar começa a ganhar cada vez mais visibilidade e os portugueses e o mundo desenvolvem a cada dia uma consciência e um sentido ético, que se sobrepõe largamente ao sentido económico e ambiental segundo os estudos, de não conseguir ver comida no lixo. Hunter Halder, o fundador da Refood, contava que ficou feliz quando as pessoas se indignaram quando viram o caixote do lixo nas traseiras de uma grande padaria de Lisboa cheio dos bolos que não se comeram naquele dia. “Há uns anos ninguém se indignava, é sinal que as pessoas agora se importam”, dizia-me, e com razão.
As pessoas começam a deixar de olhar para o seu umbigo, no que a este tema diz respeito, e há cada vez mais voluntários nas trincheiras da Refood e de outros projectos nacionais de combate ao desperdício alimentar, mas todos serão sempre poucos para as necessidades destas associações que vivem de parcerias e do tempo que cada um tem para dar. Há tantas formas de ajudar, ser voluntário, levar excedentes de comida a um ponto de entrega, comprar cabazes de frutas e hortaliças ‘feias’ em vez da fruta resplandescente e cheia de químicos muitas vezes encontrada nas superfícies comerciais, partilhar e divulgar informação e criar consciência sobre a realidade do desperdício. Aqui na Magafone, fizemos a nossa parte, estamos a alertar-vos para o problema e a munir-vos de soluções para as pequenas mudanças que provocam grandes impactos. Agora, está nas vossas mãos.
Daniela Castro Soares
Directora editorial Magafone