A grande maioria de nós tem, pelo menos, um telemóvel e uma televisão em casa. Alguns terão mais, outros terão ainda tablets, computadores e consolas de videojogos. Uma das psicólogas citadas neste artigo diz que hoje em dia uma família pode ter até 10 ecrãs. No corre-corre do nosso dia-a-dia, nunca paramos para pensar no espaço que estas máquinas ocupam nem nos impactos que têm sobre nós e sobre as pessoas que vivem connosco. Estar conectado tornou-se tão importante que se desenvolveu o fenómeno FOMO (Fear of Missing Out), uma vulnerabilidade do cérebro humano que procura sempre manter-se actualizado com a informação mais recente.
Ora, se nós, adultos, com o cérebro desenvolvido, estamos tão susceptíveis às novas tecnologias, e às dezenas de padrões negros que nem conhecemos implementados pelas multinacionais para nos manter agarrados aos ecrãs, que hipótese têm as crianças, que estão num processo activo de construção do mundo e de si próprias, de lidar com tudo isto? Não se pretende, com esta reportagem, e seguindo a filosofia dos mentores do projecto ‘Agarrados à Net’, cujo trabalho meritório e ainda inédito está a dar aos pais as ferramentas que tanto precisam sobre esta problemática, qualquer tipo de culpabilização. Sabemos que os pais, hoje em dia, têm a tarefa impossível de equilibrar uma vida profissional mais exigente do que nunca com a cuidadosa gestão familiar que implica estar atento a todos os riscos que actualmente sabemos influenciar as crianças.
No entanto, é impossível fazer vista grossa às consequências de uma falta de acção sobre a exposição excessiva aos ecrãs. Os impactos cognitivos e físicos são demasiado graves para a inércia. Fala-se em atrasos de linguagem, motricidade, visão afectada, diminuição da capacidade pulmonar, isolamento social, depressão e ansiedade, falta de empatia, entre tantas outras palavras assustadoras associadas a estes dispositivos que parecem tão benéficos e inofensivos mas sobre os quais é imperativo traçar limites. Começar pelas directrizes da American Academy of Pediatrics é um bom ponto de partida, mas acabando de pesquisar sobre o tema e, acredito, chegando ao fim da reportagem, tendemos fortemente a pender para a via do neurocientista Michel Desmurget que nos parece impraticável mas, ao mesmo tempo, um vislumbre do que serão as indicações futuras. As crianças precisam de voltar à rua, de brincar livremente sem agendas impostas pelos adultos, apanhar sol, conviver com os pares, correr, inventar jogos, usar os recursos que têm à mão. Aos pais, deixo as evidências, os estudos, os factos, do que acontece quando os ecrãs substituem as pessoas.
Daniela Castro Soares
Directora Editorial Magafone
Carlos -
Excelente!
Depois de estes 2 anos de COVID ainda piorou esta situação em que miúdos e graúdos se “agarraram” mais a PC’s, tablets, consolas….etc, tanto no contexto trabalho ou estudos. Mas há que aproveitar ao máximo na aprendizagem que pudermos tirar destes “instrumentos!
Bjinhos
Carlos Vieira