São pais partidos ao meio pela despedida que nunca conceberam fazer. Chamam-lhe “a maior dor do mundo” e por muito que nós, estrangeiros desta dor, queiramos empatizar, todas as palavras são poucas quando não se fala a linguagem que ninguém quer aprender. Os pais em luto são forças da Natureza que provam, segundo o psicólogo Carlos Céu e Silva, que o ser humano se adapta a qualquer coisa. Como se adapta, contudo, diz muito da pessoa e da dor que a dilacera. Não são os mesmos, “nem peçam para ser”, trocam a felicidade pelo contentamento e vivem pelos filhos, falando e sorrindo com as memórias deles, carregando a responsabilidade de terem ficado para continuar o legado. Apreciam quem os deixa falar, precisam desse espaço de partilha, e gostam que, assim como eles, também os amigos de quem partiu se lembrem de vez em quando e telefonem para recordar momentos impressos em fotografias mentais. Há exemplos abismais, de pais que não sabem onde encontraram força para continuar, depois de perderem tanto, e dedicam-se a um caminho de voluntariado em favor de ajuda ao outro, uns com práticas mais espirituais, outros com escuta atenta e abraços. Não há fórmulas para responder a “como se sobrevive a isto?”, a pergunta que todos fazemos, mas há um sentido de missão em olhar “os pequenos prazeres” da vida, cumprimentando a dor como uma companheira sempre presente e nunca esquecendo a gratidão do tempo passado com o pedaço do coração que um dia voltarão a colar.
Daniela Castro Soares
Directora editorial Magafone