Lugar de casas mágicas e jardins deslumbrantes, Sintra ganha, este mês, mais um para acrescentar a uma longa lista de imóveis de fazer inveja a qualquer município. O Palácio Biester abre no dia 30 de Abril ao público, um edifício do século XIX que contém pedaços da história da família que lá habitou mas também de vários estilos de arte conjugados num só espaço. Com elementos cativantes no interior e exterior, será certamente paragem obrigatória para os turistas e portugueses que passem pela cidade.
Edificado na última década do século XIX, o Palácio Biester apresenta-se como um exemplar ímpar da arquitectura romântica. Residência da família Biester, que o encomendou ao arquitecto José Luiz Monteiro, conflui vários estilos com as assinaturas de Luigi Manini, Leandro Braga e Paul Baudry, artistas que deixaram uma marca indelével na essência vanguardista e eclética deste palácio localizado na vila de Sintra. Um esforço de preservação do espaço permite que, agora, fique disponível pela primeira vez para visita do grande público, com as portas a abrir no dia 30 de Abril.
A integração do imóvel nos parques e monumentos sintrenses representa uma oportunidade única para se conhecer um palácio histórico essencialmente intocável no que diz respeito à arquitectura, decoração e às obras de arte seculares nele incluídas. O Palácio Biester insere-se perfeitamente na fascinante e misteriosa paisagem de Sintra graças à exuberância detalhista do trabalho arquitectónico e à decoração plena de entalhamentos minudenciosos e frescos vivíssimos, convergindo um espírito historicista e religioso heterogéneo que comunga com o misticismo transversal à família Biester e a Sintra. O mesmo misticismo que levou Roman Polanski a escolher o Palácio Biester para filmar a sua longa-metragem de 1999, ‘A Nona Porta’, com Johnny Depp e Frank Langella.



Visita por um palácio cheio de curiosos e simbólicos detalhes
A porta de entrada do palácio é a introdução a um universo rico em influências neogóticas, inglesas e alpinas, em que a arte que adorna as paredes denota uma transição entre os estilos Queen Anne e Arts and Crafts e introduz vislumbres precoces do Art Nouveau francês. Um sentido de novo e antigo, com detalhes de mística simbologia e curiosos elementos como a colectânea de medalhões neoclássicos que invocam a Eneida de Virgílio. A circulação pelos diversos espaços do Palácio Biester dá a conhecer a vida doméstica da família que o habitou, além de testemunhar o fulgor de uma época em que a sensibilidade artística era idealizada e executada em cada ponto visível.
Para lá da extraordinária Galeria de Entrada, o trabalho de estuques na Sala da Música é apenas um prelúdio do surpreendente esforço decorativo que cada recanto do imóvel tem para descobrir. Na Sala de Estar e no Salão de Festas, entre as estonteantes boiseries e as pinturas naturalistas de Luigi Manini, podem ser encontradas duas grandes lareiras adornadas com os inconfundíveis azulejos de Raphael Bordallo Pinheiro. Um percurso pela Escadaria Principal, entre frescos e vitrais, encaminha os visitantes para o primeiro andar, onde a passagem para um alpendre em pedra guarda uma vista privilegiada do imponente Castelo dos Mouros.



Elementos templários e um jardim exuberante
O Átrio dos Aposentos, no andar cimeiro, é a entrada social para uma das divisões mais singulares do Palácio: a capela neogótica, profundamente ligada à herança deixada pela Ordem dos Templários em Sintra. No tecto, destaque absoluto para a pintura do mestre francês Paul Baudry. São também protagonistas os singulares vitrais, demonstrando que a religiosidade está na essência da concepção do Palácio Biester. Ainda sob influência templária, encontra-se a Câmara Iniciática, uma pequena e austera divisão em pedra, invocativa dos santuários da antiga Jerusalém, cujo elogio à modéstia contrasta com a abundância da Capela. A Biblioteca, embora de forma mais misteriosa, também participa nesta espiritualidade através das pinturas aí presentes, que acompanhavam o acervo literário da família Biester e abrangem temas místicos como o paganismo e as criaturas fantásticas.
A riqueza do Palácio Biester estende-se para o seu exterior, com um parque de exemplar da exuberância natural com uma grande variedade de espécies exóticas, como cameleiras originárias da China e do Japão, Faias verdes e vermelhas da Europa Central, Acácias da Austrália e Abetos norte-americanos. Sobressai ainda a Gruta da Pena, uma formação natural inserida numa reentrância rochosa do Parque. Com assinatura do paisagista François Nogré, o jardim do Parque Biester é organizado numa lógica de declive, em que os diferentes patamares oferecem diferentes vistas, produzindo um espectáculo enaltecido pela monumentalidade do imóvel que lhe dá nome, sempre em pano de fundo.
