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Rita Branco fez o caminho inverso dos pais portugueses que rumaram ao Brasil em busca de melhores condições de vida. À procura das suas origens, viajou até ao Porto em 2005 no que era para ser uma viagem de meses, mas que a agarrou pelo mistério da cidade e pelo “portuga” a quem hoje chama marido. Apaixonou-se de tal forma que criou um blogue em homenagem à cidade e começou a estudar para poder apresentá-la a outros turistas brasileiros. Com tours de vários tipos, do vinho do Porto ao azulejo, é fácil dizer que ‘O Porto Encanta’.

“O meu marido diz que me encantei mais pelo Porto do que por ele”, conta Rita Branco, em tom de brincadeira. A autora por trás do blogue ‘O Porto Encanta’ chegou a Portugal em 2005 à procura das suas raízes. Os pais, um de Miranda do Douro e outro de Viseu, tinham feito, muitos anos antes, o caminho inverso, até ao Brasil, deixando o Portugal empobrecido da ditadura. Quando Rita Branco aterrou na Invicta, “não tinha nada a ver com o que é hoje. Nem todos se encantariam pela cidade, mas tinha um mistério a ser desvendado e eu encarei aquilo como um desafio, um diamante por lapidar”, diz. O plano era ficar no Porto alguns meses e depois, quem sabe, rumar a Barcelona. “Mas conheci o meu portuga e acabei por ficar. As raízes cresceram e já vai fazer 17 anos que estou aqui”, afirma.

Rita Branco encontrou um Porto “desconhecido para a maioria dos brasileiros. Eu achava tudo muito bonito, mesmo estando degradado e com construções abandonadas. Queria saber porque estava assim, como o Porto chegou àquele ponto, e fui estudando e ficando cada vez mais apaixonada pela cidade”, relembra. Tudo o que sabia sobre Portugal não correspondia ao que veio a descobrir. “Enquanto estudante, no Brasil, a imagem que se passava de Portugal era muito negativa. Mesmo os portugueses que foram para lá apagavam Portugal da memória porque as recordações não eram boas”, conta. Querendo ver com os seus próprios olhos, as suas descobertas, aliadas à experiência de publicitária e ao trabalho de fotógrafo do marido, acabariam por resultar num blogue inteiramente dedicado à cidade do Porto.

Brasileiros gostam de ser recebidos por brasileiros

A ideia partiu dos amigos. “Queria fazer algo diferente e os amigos que vinham visitar diziam-me ‘Rita, porque não trabalhas com turismo? Conheces o Porto e os turistas brasileiros gostam de ser recebidos por outros brasileiros’. A ideia era boa, mas para isso era preciso colocar o Porto na rota dos brasileiros e eu precisava de me profissionalizar”, explica. Nasce, então, ‘O Porto Encanta’, onde Rita Branco começou por falar da cidade e que coincidiu com uma altura em que o Turismo de Portugal e o Turismo do Porto e Norte investiram fortemente no mercado brasileiro. “Começámos a chegar aos brasileiros, eu ia estudando a cidade e dois anos depois de criar o blogue, em 2014, recebi os primeiros contactos de pessoas interessadas em que eu lhes apresentasse a cidade à minha maneira”, conta. Desenhou um roteiro e partiu com os primeiros clientes num passeio guiado pela cidade que a encantou.

Rita Branco acredita que a sua paixão pelo Porto, o conhecimento que teve e, claro, a família “tripeira” do marido, “naturais da zona das Antas e portistas ferrenhos”, ajudaram-na a ter a base necessária para se lançar nesta aventura. “Sou muito pés na terra e não teria coragem de falar da cidade só por falar. Tinha de fazer algo diferente e acrescentar valor à cidade que me recebeu e para isso fui estudando”, afirma. Desenvolveu, então, vários tours, de entre os quais se destaca, pela procura, o que dá a conhecer o centro histórico do Porto, a pé ou de Tuk Tuk, a quem vem pela primeira vez. Mas também há mais específicos, como o do Vinho do Porto ou o Passear e Azulejar, que “faz um apanhado dos azulejos na cidade com contexto histórico e artístico” e oferece ainda a possibilidade de o visitante pintar o seu próprio azulejo, com orientação de uma ceramista, para que possa levar de recordação. “Na grande maioria, sou procurada por turistas brasileiros, mas neste tour do azulejo já tive portugueses a participar. O meu blogue tem um grande alcance junto dos portugueses e dos portuenses que o lêem com regularidade, comentam, encontram-me na rua e vêem falar comigo. Foi o primeiro blogue a escrever sobre o Porto de uma forma apaixonada pela cidade”, refere.

Tours personalizados à medida de cada cliente

Rita Branco faz ainda tours personalizados, para quem vem a Portugal com frequência e quer conhecer mais do Porto, levando-os a zonas identitárias como o Bonfim, a Casa da Música, a Fundação Serralves, a Foz, o Estádio do Dragão; ou até além da Invicta, em cidades do Norte de Portugal que transportam consigo uma forte componente histórica. Já teve, inclusive, pedidos caricatos, como um cliente que quis passar por todos os sítios por onde passou o escritor Camilo Castelo Branco. Seja qual for o tour, a brasileira faz questão de ter elementos diferenciadores. “O Vinho do Porto, por exemplo, não é só visitar uma cave e fazer uma prova. Tem uma história muito bonita com pessoas icónicas e que merece ser contada com mais profundidade. Devemos ir a várias caves porque cada uma mostra uma vertente e nessas visitas complementar com a história de como tudo começou, como interferiu na vida da população, como é importante para o país, é um cartão-de-visita, merece uma atenção maior do que falar só dos tipos de vinho”, salienta, não esquecendo a rolha de cortiça que assim como “fecha vinhos no mundo todo”, fecha também este tour que é um dos seus preferidos.

Os tours são uma mistura entre o que apaixona Rita Branco e o que procuram os turistas brasileiros. “Incluo coisas que atraem os brasileiros e tento mostrar que o que se aprendia de negativo no Brasil sobre Portugal não era bem assim, há uma história diferente e eu quis mostrar essa história nos meus tours que nós, brasileiros, não conhecíamos. Ainda ontem estive com turistas do Mato Grosso e quando contei a história do Pedro I ficaram de queixo caído porque nunca imaginaram que ele tivesse uma importância tão grande aqui no Porto, muito menos sabiam que o coração dele está aqui”, exemplifica. Mesmo aqueles que já conhecem a cidade ficam surpreendidos com o conhecimento que Rita Branco transmite. “Na semana passada, recebi uma mãe e uma filha que vivem em S. Paulo mas conhecem bem o Porto porque a mãe é portuguesa e a filha viveu aqui na cidade, fizeram o tour comigo e descobriram coisas que não sabiam. Isso é muito gratificante, mostrar coisas novas até para as pessoas que já conhecem o Porto”, refere. A autora do blogue ‘O Porto Encanta’ consegue até surpreender o marido e a sogra de 86 anos. “O meu marido é o meu melhor cliente e quando levei a minha sogra pelas ruelas da Ribeira ficou encantada”, garante.

Novidades, não, conhecimento, sim

No início do blogue, Rita Branco tentava manter-se actualizada com as novidades que iam acontecendo na cidade, à medida que ela ganhava a vida que perdeu, mas agora, com o ritmo frenético que o Porto adoptou, típico de uma cidade em crescimento, prefere focar-se nas ofertas que tem disponíveis e aprofundar conhecimento. “Já não consigo manter-me actualizada. Fico uma semana sem andar numa rua, quando volto tem algo novo. Mostrar as novidades já desisti, é muita coisa, tenho de me aprofundar nas coisas que são importantes para os meus leitores. Na época em que criei o blogue, abria algo, eu ia e mostrava tudo. Hoje tem muita coisa, lembro-me da Rua da Flores que era difícil de andar, degradada, hoje tem tudo. Faz parte do crescimento turístico da cidade, abre coisas, fecha coisas, é o ciclo de uma cidade que se está a moldar e um destes dias vai estabilizar”, comenta. Continua a alimentar o blogue, um ou dois posts semanais, um hábito que não consegue deixar apesar do fluxo crescente de clientes porque sente que “falta algo” quando não escreve. “O blogue é o mais importante do projecto, é de onde vêem os principais clientes. Às vezes a inspiração vem num transporte público, vejo uma construção, e quero escrever”, conta.

A pandemia permitiu-lhe explorar a escrita com as ideias a surgirem-lhe em caminhadas a ouvir podcasts pelo Porto. “Conheci a história do general Humberto Delgado e apaixonei-me. Escrevi um post enorme sobre ele, o relacionamento que teve com uma brasileira que foi sua secretária e morreu na mesma emboscada que ele. É maravilhoso”, lembra, revelando que “tem como meta escrever sobre todas as caves” de vinho do Porto. O último post que escreveu foi sobre a exposição imersiva dedicada à pintora Frida Kahlo que está patente na Alfândega do Porto e garante que mesmo que surja um pedido de parceria publicitária tem de ser algo que “encante” ou então “não faz sentido. Se não encantar, não cabe no blogue”, diz. Os clientes, essem, agradecem. “Lembro-me que um cliente uma vez me disse ‘até o que é feio você consegue mostrar beleza’. Isto acontece porque mesmo que seja uma casa degradada, gosto de perceber o porquê, a história dela. Tudo isso tem de ser contado com encantamento e paixão e eu ainda não perdi isso. Quando perder, já não vale a pena”, atira.

Sé do Porto e Estação de São Bento, espaços de eleição

Sobre espaços preferidos, Rita Branco confessa que “se existirem outras vidas, sente que viveu no morro da Sé na época medieval. Olho para aquelas paredes, lugares e ruelas e parece que já lá estive. E como foram as primeiras ruas da grande viagem da minha vida, o Caminho de Santiago a partir do Porto, são especiais”, confessa. Ainda, a Estação de São Bento. “O meu pai, quando foi para o Brasil, apanhou o comboio em Sendim, atravessou o átrio da Estação de São Bento e foi para Matosinhos ver o navio que ia sair. Encontrar os meus clientes ou chegar ao Porto e passar pela estação por que o meu pai passou naquela altura… A minha história está ali, todos os dias estou no lugar que o meu pai passou para começar a vida dele”, conta. Histórias que a emocionam ainda mais nos dias correntes quando parece que o que lemos nos livros está novamente a acontecer. “Tenho-me emocionado muito nestes últimos dias a contar a história da cidade porque vejo a história a repetir-se agora na Ucrânia. Eu falo de guerras civis, mundiais, do cerco do Porto e dos refugiados, dos judeus que entraram em Portugal, e ao falar lembro-me que vi aquilo na noite anterior no telejornal. É assustador”, aponta.

Sobre projectos futuros, as ideias não param e Rita Branco gostava de se desafiar e apostar em tours literários. “As pessoas querem conhecer o que toda a gente conhece para a foto do Instagram, mas o meu sonho são tours mais profundos, tours literários, temos vários escritores do Norte com casas-museu: José Régio, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, este último com um espaço, a casa onde viveu nos últimos anos, que é um dos sítios mais incríveis que já conheci. As pessoas que fazem visita guiada mostram a casa declamando poemas”, diz. Rita Branco gostava também de tornar os seus tours mais sustentáveis. “Mais a pé e de comboio. O meu objectivo é convencer as pessoas a fazerem um turismo mais sustentável até porque o meu Caminho de Santiago ensinou-me que a melhor forma de viajar é a pé, é assim que verdadeiramente se conhece os sítios”, salienta. Há sempre muito para ver. “Portugal é um país que pode-se vir todos os anos e tem sempre coisas para ver”, conclui.

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