Nunca gostei de escrever a minha opinião, sobre nada, mas discutir tudo sempre foi a minha forma de vida. Em conversas apaixonadas e muitas vezes até demasiado alteradas, lá vou debitando a minha perspectiva que considero sempre importantíssima, mesmo que seja um ponto de vista gasto. Até perceber que, um, a minha opinião sobre a maioria dos assuntos é desinformada e, dois, já ninguém quer de facto entender a ideia do outro. Nas redes, utilizando a linha do videoárbitro para engavetar os que conhecemos e as figuras públicas, vamos estando atentos às posições sobre determinado assunto para avaliar quem escutamos, os que concordam connosco, e quem decidimos logo que “é só parvo”, independentemente do investimento que determinada pessoa possa ter feito para alicerçar a sua opinião em factos, em conhecimento, em reflexão. Antes que desistam, deixem-me só resumir o objectivo destas linhas: Não estamos obrigados a tomar posição sobre absolutamente tudo. É um pensamento que pode ser tão libertador como a respiração na meditação e dou exemplos: quando se noticia a horrível suspeita de que uma estrela do futebol violou uma menor, podemos não tecer considerações, podemos não saber, não desconfiar, não julgar, enfim, podemos lamentar o facto e esperar que se chegue à verdade e se faça justiça.
O mesmo quando um político resolve assumir a sua homossexualidade, podemos ouvir um pormenor sobre a sua vida íntima, que não o define, e que é legítimo que não o defina, e seguir as nossas vidas sem considerações sobre os mil e um porquês de o ter feito agora. E com isto não defendo uma espécie de alienação para encontrar a felicidade e ver vídeos de gatinhos no Youtube, é só uma atitude. É que ainda no outro dia, numa dessas conversas apaixonadas, alguém me disse: “É legítimo que as pessoas tenham uma opinião” e surpreendentemente dei por mim a questionar “É?” As opiniões são assim tão legítimas? Todas? Se o meu carro avariar tento encontrar um cirurgião, ou o escritor que adoro, ou um comentador político? Acho que não, acho que vou ao mecânico e espero que ele não me cobre muito. E nem me façam falar sobre as vacinas…