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Contactou com várias artes mas foi a cerâmica que lhe roubou o coração. Mané Pupo vivia de exposições até à grande crise de 2008, que obrigou os artistas a virar-se para o artesanato contemporâneo. Num processo muito natural, as peças ganharam notoriedade e acabou por fundar a marca Rosa Malva, um nome que nasceu de uma “discussão com uma parede” por causa da cor. São peças que contam histórias reais da vida da artista e que agora podem ser compradas também no novo espaço que abriu este mês na Rua do Rosário, no Porto.

Os pais deram-lhe a oportunidade de experimentar tudo o que quisesse no mundo artístico e por isso Mané Pupo fez ballet, teatro, teve aulas de música, de canto, e fez formações em pintura e escultura. “Tivecontacto com todas as artes e pratiquei uma vida artística polivalente durante quase toda a minha vida… até ter de ser eu a pagar as minhas contas”, diz, brincando. De sorriso no rosto e um ar sempre bem-disposto, vai contando a sua história e de como “a escultura, a componente de trabalhar os materiais a três dimensões, foi o que mais a atraiu. Acabou por condicionar as minhas escolhas e orientar-me para uma formação mais dedicada”, diz. Surpreendentemente, preteriu a Cerâmica pela Educação de Infância na altura de escolher um curso superior, porque alimentava o sonho de abrir uma escola dedicada à Educação pela Arte. Trabalhou alguns anos na área da Educação, mas sem descurar a formação em Cerâmica com a sua mestra francesa que acabou por lhe proporcionar as bases necessárias para que Mané Pupo pudesse viver bem fazendo algumas exposições de pintura e escultura durante o ano.

Acontece, então, a crise de 2008 que “mudou a vida de muita gente, sobretudo dos artistas, que se agarraram ao artesanato contemporâneo”, diz Mané Pupo, obrigada a “transformar o que fazia e vendia por centenas e milhares de euros em produtos que pudessem ser comprados por um público com menos capacidade financeira. Deixei de fazer peças grandes de cerâmica e passei a fazer peças pequeninas para vender em feiras de artesanato”, conta. Surge assim a Rosa Malva? “A Rosa Malva foi um acontecimento daqueles que é a vida que provoca”, comenta, lembrando que numa dessas feiras ficou amiga de outras quatro artesãs e andaram “dois, três anos a percorrer o país de Norte a Sul”. A certa altura, decidiram aproveitar que a Baixa do Porto estava “abandonada, não havia nada de interessante e as rendas estavam baixíssimas, para abrir uma loja” onde pudessem vender as peças. No meio do caos das montagens e do brainstorming para decidir o nome, Mané Pupo entrou numa “discussão com uma parede” porque “não atinava com a cor” até que a conjugação de duas tintas solucionou tudo. “Juntei dois tons, gostei, olhei para as tintas e disse ‘acertei na cor, uma lata de rosa, uma lata de malva, Rosa Malva não era um nome bonito?’. O Pantone da Rosa Malva que toda a gente conhece veio da luta com uma parede”, afirma, rindo.

Histórias reais em cada peça

Todas as peças são, de certa forma, autobiográficas. “A inspiração para as peças é a minha vida, as imagens são reais, cada abraço daqueles é um abraço que existe. O abraço da mãe e filha sou eu e a minha filha, é exactamente assim que nos abraçamos. As peças contam a minha história, os meus valores, e descobri que os meus valores são também os valores da esmagadora maioria do povo português. O sucesso tem vindo daí, as pessoas identificam-se”, explica. Já são muitas peças modeladas e torna-se “difícil” eleger uma preferida mas Mané Pupo desenvolveu uma ligação especial ao Candeeiro ‘Infância’. “Estou especialmente contente com uma peça que criei no ano passado, o Candeeiro ‘Infância’, porque consegui resumir naquela peça muitas das minhas histórias. O pé daquele candeeiro é a conjugação de três árvores que me viram crescer, árvores de família, nas quais vejo muita gente, primos, irmãos, amigos da família, muitos acontecimentos, muitos segredos”, conta, revelando que “fica ainda mais contente” quando quem compra diz que também tem uma história própria que as liga à peça. “Enche-me o coração”, confessa.

Todas as peças têm uma embalagem diferente mas são sempre acompanhadas por uma frase ou texto muito pessoais para Mané Pupo. “Quem coleccionar essas frases, conhece-me de cor, é a minha história contada aos bocadinhos”, diz. De todas as peças encomendadas, os best-sellers são as peças da colecção Ternura, especialmente os abraços. “Os abraços mãe-menina, menina-menina e os raminhos têm uma saída incrível, vendemos várias unidades todos os dias. São peças que podem ser muita coisa, o que nós chamamos abraço mãe-menina pode ser irmã mais velha-irmã mais nova, tia-sobrinha, professora-aluna, só diz que é um abraço, as pessoas podem pegar neste trabalho e adaptá-lo às suas próprias vidas”, refere. Os abraços foram, aliás, “um sucesso durante a pandemia. Vendi muito essa peça porque as pessoas perceberam a falta que um abraço físico faz, a manifestação do amor”, afirma.

Caras sorridentes e santos terra-a-terra

Há algumas características nas peças que são a assinatura de Mané Pupo. Uma é a capacidade de fazer as peças sorrirem sem precisar de lhes acrescentar um sorriso. “Todas as peças estão a sorrir, só têm olhos mas todas estão a sorrir e as pessoas notam isso, porque os olhos sorriem, a pandemia fez com que as pessoas percebessem que conseguimos sorrir com os olhos”, salienta. Não há, portanto, caras fechadas nas peças da Rosa Malva. “Quem compra as minhas peças, especialmente aquelas encomendas de peças únicas que eu chamo família consagrada, retratos de família, diz-me ‘é exactamente assim que a minha filha sorri’, mas a boca não está lá. Bastam os olhos para criarmos a imagem de todo o rosto”, afirma. Mesmo os santos, Mané Pupo recusa-se a representá-los em sofrimento. “Há alguns santos que não há forma de os representar sem ser através de sofrimento, então não os faço, não consigo, não é assim que os vejo. Não temos de marcar o nosso lugar neste mundo por termos sofrido, temos de o marcar por termos sido felizes ou termos lutado pela felicidade. Os santos que na história acabaram por ficar representados através de sofrimento foi um erro de casting”, brinca.

Outra das características do trabalho de Mané Pupo é precisamente “tirar os santos do pedestal”, uma acção que lhe foi incutida pelo pai. “O meu pai era jesuíta e ele sempre nos ensinou a tirar os santos do pedestal. Contava-nos as histórias reais da vida dos santos para nos dizer que todos nós temos não só a capacidade mas a responsabilidade de sermos santos no nosso tempo de vida, sermos felizes e fazer os outros felizes. Cada vez que fazemos alguém feliz, nem que seja por um minuto, estamos a exercer a nossa santidade. Os santos foram pessoas como nós, sofreram, riram, fizeram disparates, apenas foram distinguidos por terem conseguido fazer algo extraordinário na forma como expressaram o seu amor. É preciso tira-los do pedestal para podermos perceber que cada um de nós está encarregue de seguir-lhes as pisadas. Não são inalcançáveis”, salienta. Uma das primeiras imagens, idealizada ainda enquanto criança, que fez para a Rosa Malva foi do Santo António a brincar com o Menino Jesus. “O que é normal quando um adulto tem uma criança ao colo? Não é, como vemos aí nas imagens mais clássicas, colocar a criança virada para a frente e estarem os dois sérios, isso não é natural, o natural é o adulto brincar com a criança. A imagem do Santo António a atirar o Menino Jesus ao ar é a coisa mais vulgar, toda a gente faz isso com os bebés, eles adoram. Essa foi a primeira peça que eu reproduzi, a colecção da Rosa Malva começou por aí”, diz.

Uma inspiração que vem do poema de Augusto Gil ‘Passeio de Santo António’. “O meu pai declamava-nos poemas e eu gostava muito desse, é o poema que está no rolinho preso nas figuras do Santo António. Conta uma história ternurenta de Santo António num dos seus passeios em que o Menino Jesus baixa do céu e brinca com o capuz do frade. Eu achava aquilo delicioso e ria-me porque a certa altura o Menino Jesus diz ao Santo ‘tu não estás bom da cabeça’. Eu achava um atrevimento uma criança falar assim com o Santo António”, conta Mané Pupo, que enquanto o pai declamava o poema, formava na sua cabeça a imagem do Menino Jesus a brincar com o Santo António. É assim, aliás, que funciona o seu processo criativo, sem esboços nem desenhos, tudo surge no barro. “A ideia fica aqui a germinar e, de repente, aparece a imagem, como se fosse uma fotografia, e eu costumo dizer que a peça já está pronta naquele momento porque o resto é uma questão técnica, passar da cabeça para a mão e da mão para o barro. Não tenho de pensar. Com base nas técnicas que aprendi, consigo dar corpo a uma imagem que já existe dentro de mim”, explica.

Um percurso orgânico como artesã que sempre seguiu “o público que puxa por ela”. Adaptou as peças, vendeu em feiras, abriu uma loja, passou de fazer peças únicas para reproduzir algumas, pela quantidade de pedidos de pessoas que queriam comprar em quantidade para levar e oferecer nas viagens que faziam, até que sem saber como uma imagem do Santo António figurou numa página inteira da revista da TAP que era distribuída nos aviões e Mané Pupo começou a ser contactada por lojas que queriam fazer revenda das peças. Este mês, abriu um novo espaço da Rosa Malva – Galeria, Loja e Atelier – na Rua do Rosário, no Porto, com inauguração oficial marcada para 6 de Novembro às 15h00. Sempre feitas com “alegria, amor e carinho”, esses sentimentos passam para as pessoas que as compram. “Recebo feedback todos os dias e fico muito orgulhosa. Eu, como compradora, quando gosto mesmo muito e sinto necessidade de dar feedback é porque aquilo me tocou. Se eu recebo feedback diariamente é porque estou a atingir o maior objectivo da minha vida: tocar o coração dos outros e espalhar felicidade”, afirma, orgulhosa por conseguir, através das peças, passar mensagens de amor. “As pessoas não se podem esquecer de que viver o amor é manifestar o amor. Viver o amor não é só dizer ‘eu amo-te’, não chega mandar mensagem, é preciso senti-lo. A nossa missão é sermos felizes mas para sermos felizes temos de saber demonstrar essa felicidade, e isso aprende-se praticando”, salienta.

Colecção Ternura

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