Miguel Sarzedas começou o caminho da Rise Clan em 1996 ao imprimir as suas primeiras três t-shirts com mensagens alusivas à abstinência de álcool e drogas, ao veganismo e ao racismo. Desde então, a marca sofreu várias transformações, a loja física foi preterida pela venda on-line e a oferta de produtos foi-se ajustando às circunstâncias e oportunidades. São 25 anos a lutar por um planeta mais sustentável através do comércio justo, mensagens marcantes e uma filosofia cujo objectivo final passa por não serem necessárias este tipo de marcas.
Imprimiu a primeira t-shirt em 1996 baseada numa “urgência em partilhar as suas convicções e ideias com o mundo. A Rise Clan sempre foi muito mais do que uma marca de roupa”, diz o fundador Miguel Sarzedas. Na altura, ainda não se falava muito em sustentabilidade ambiental nas televisões e nos cafés, mas no meio que o empreendedor frequentava, o “Underground do Punk Hardcore e do Hip-Hop, sempre se debateu este e muitos outros tópicos. As ideias e objectivos sempre estiveram presentes e foi nos concertos e ao ler letras de bandas, livros, fanzines e panfletos que aprendi muito sobre os mais variados temas sociais”, revela, salientando que “todas as lutas pela liberdade individual são dignas e necessárias para a libertação total”. Aquela primeira t-shirt foi dedicada à Straight Edge, uma “subcultura do Punk Hardcore surgida nos anos 80 que promove a abstinência total do uso de drogas, tabaco e álcool”. A mensagem escrita: “Poison Free Youth”.
Seguiram-se outras duas, uma abordando o tema do Veganismo, com “a cara de um porco, vaca e galinha na frente e a frase ‘Vive e Deixa Viver’ nas costas”, e outra apelando à luta contra o racismo. “Hoje em dia, já perdi a conta às t-shirts e designs diferentes que imprimi. Naquela época, em Portugal, era difícil encontrar t-shirts ou qualquer outra peça de roupa de algodão orgânico, cânhamo e ‘climate neutral’ mas sempre imprimi Comércio Justo. Com a evolução do tempo, mal tive oportunidade, passei a vender roupa e acessórios de Comércio Justo, algodão orgânico, têxtil reciclado e/ou reutilizado, tudo produzido em fábricas que utilizam apenas energias renováveis e sem emissões de CO2”, diz Miguel Sarzedas, acrescentando que para a produção manual houve ainda um cuidado especial na escolha dos produtos de serigrafia e na impressão com tintas ecológicas à base de água. Tanto em 1996 como agora, a missão é a mesma, as preocupações são as mesmas, a atitude é a mesma”, garante o empreendedor.
Designs originais e artistas convidados
Começou por vender a amigos em concertos de Punk Hardcore e noutros eventos do meio e ficou feliz quando viu “várias T-shirts impressas por ele em concertos em Lisboa”. Deu-lhe força para “continuar”, até porque “em Portugal não havia assim tantas pessoas a vender este tipo de roupa com mensagens tão específicas. Hoje em dia, envio encomendas para o mundo inteiro. São tempos muito diferentes”, compara. As ideias para as impressões surgem “naturalmente” mas todas têm em comum “mensagens importantes. Tudo o que a Rise Clan lançou e lança tem uma mensagem forte, clara e o objectivo é questionar tudo e todos”, explica. Muitos dos designs são do próprio Miguel Sarzedas, mas o empreendedor também convida outros designers para experimentarem trabalhos nas suas t-shirts de acordo com os temas promovidos pela marca. “Felizmente, tenho imensas amigas e amigos que são verdadeiras e verdadeiros artistas. Quando encomendo designs, a ideia é minha. Imagino o cenário, alguns pormenores, mas também dou muita liberdade criativa”, conta. A Rise Clan chegou a ter loja física mas agora a venda faz-se exclusivamente através do site. “Depois de fechar a loja física no Marquês de Pombal, reduzi os produtos à venda e voltei a focar-me na roupa. Com o passar do tempo, a Rise Clan tornou-se numa loja vegan, vendendo os mais variados produtos de outras marcas, mas mantendo sempre a linha original de roupa e acessórios. Hoje em dia, podem encontrar roupa, acessórios, calçado e a minha música”, enumera Miguel Sarzedas. 2021 trouxe para a Rise Clan duas novas marcas de roupa: Dedicated (Suécia) e Bleed (Alemanha). Ambas marcas de streetwear que têm o objectivo de melhorar o mundo. Todos os produtos são ecológicos, de Comércio Justo, ‘climate neutral’ e obviamente… vegan”, afirma. Marcas que “se preocupam. Têm basicamente os mesmos sonhos do que eu e os mesmos objectivos”, revela.
Os produtos mais procurados da Rise Clan continuam a ser as t-shirts, embora Miguel Sarzedas admita que “depende muito do sítio e do evento em si. Na loja, vendia maioritariamente comida, em festivais e outros eventos vende-se maioritariamente roupa”, afirma. O importante é manter a filosofia da marca, mesmo com os desafios que isso acarreta. “O material em si, onde este é produzido, a quantidade de água necessária para o cultivo das plantas em questão, a dimensão da área usada para agricultura ou permacultura, como e com que tintas o têxtil é tingido e/ou impresso, se existe reciclagem ou reutilização de produtos já existentes, que género de energia usam nas respectivas instalações ou fábricas e se existe mão-de-obra infantil ou exploração de trabalho escravo adulto envolvido… São muitos os factores que se devem ter em conta [numa produção sustentável] mas a ideia é darmos o nosso melhor consoante a informação e o poder que temos como participantes integrantes de uma sociedade capitalista. Cabe a nós ‘votarmos’, com o nosso dinheiro, todos os dias, ao compramos qualquer que seja o produto que precisamos para a nossa vida” afirma. E nesta luta, já passaram 25 anos. “O meu objectivo a médio/longo prazo é continuar a marcar a diferença, a fazer pensar, questionar, na esperança que, um dia, a Rise Clan não tenha de existir, pois isso significaria que o Planeta Terra está bem, que a Natureza está radiante, que os seres humanos aprenderam a interagir uns com os outros, que respeitam os outros animais e que não existe discriminação de qualquer tipo. Até lá, continuaremos a lutar por um mundo melhor, livre de exploração animal, opressão, preconceitos e drogas”, refere, deixando um alerta: “Cabe a nós, comerciantes, vendermos produtos de qualidade que tenham o mínimo impacto negativo na vida dos outros em particular e do planeta em geral. E cabe a quem compra exigir isso da nossa parte. Existem muitos desafios, mas o maior desafio de todos é que os seres humanos entendam que precisamos deste mundo saudável e forte para nós também o sermos”.