Desabituei-me de centros comerciais quando a pandemia rebentou e nos obrigou a resguardar da vida normal. Agora, com o renascer do normal da vida, com o regressar à rotina, ao trânsito, ao consumismo – infelizmente – os centros comerciais estão já barrigas gordas a empurrar botões para fora, que é como quem diz, gente a circular desnorteada já sem respeitar setas de circulação.
Durante a pandemia, fiz-me sócia das compras online. Abandonei as grandes superfícies e apostei nas lojas pequenas, nos centros comerciais mais desamados da cidade.
Esta semana, já no aproximar do normal, vi-me, por comodismo, obrigada a ir a um grande shopping da zona norte do país. Precisava de umas botas para a minha filha. Estava sem armas contra a chuva. Só o uso de máscara denunciava a época Covid, de resto o frenesim do consumismo, da vida normal, do corre-corre típico deste prenúncio de Natal, estava intocável depois do famosíssimo #vaificartudobem.
Confesso que quando estalou a novidade da pandemia, bateu um sentimento de confiança por uma nova Era. Visualizei o cenário de um tempo de menor julgamento, de maior humanismo. O olhar pelo Outro como prioridade. O cuidar uns dos outros. Acreditei que no horizonte do futuro se aproximava um respeito pela Natureza. Atravesso agora um túnel de neblina. As minhas esperanças esfumaram-se. Realmente, está praticamente tudo encaminhado para o normal. Ao normal do trânsito, ao normal das compras desenfreadas, ao normal da rotina que não nos faz parar e seguir pelos dias, obedecendo somente aos ponteiros do relógio e do que eles querem que façamos.
Também faço parte do rebanho, claro que sim. Fazemos todos.
E todos, juntos, somos (os) únicos a poder afastar a neblina de modo a olhar o horizonte do futuro.