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Uma gravidez difícil, um parto atribulado, uma criança de sorriso aberto. Assim se pode descrever o percurso pela maternidade de Inês Morais de Alarcão que se lembra em pormenor de cada momento passado desde que soube que dentro de si carregava a pequena Margarida. Mais conhecida no Instagram como Say Yes to Mammy, resolveu partilhar com as futuras mamãs os altos e baixos de ser mãe para assim esclarecer dúvidas e concretizar sonhos.

Inês Morais de Alarcão sempre foi daquelas meninas que “adorava brincar às bonecas e às casinhas”. Tinha o sonho do príncipe encantado e a vontade de criar a sua própria família. “Aos 17 anos, escrevi uma lista de desejos e um deles era ser mãe aos 21 anos, porque a minha mãe teve-me aos 20 e eu também queria ser uma mãe jovem, queria replicar a relação próxima que tinha com ela”, revela. Não aconteceu aos 21, mas sim aos 25. “Nos primeiros meses, fiz muitas pesquisas sobre pedagogias, ensinamentos que queríamos transmitir à Margarida para que tivesse um desenvolvimento saudável. Havia coisas que eu achava que eram de uma maneira e depois comecei a ler e mudei a minha perspectiva, como por exemplo quando via uma criança a chorar na rua e o pai ou mãe impávidos, perguntava-me porque é que não estavam a fazer nada. Depois de ser mãe, percebi que aquele progenitor provavelmente estava mais certo do que outro pai ou mãe que gritam com a criança”, relata, confessando que “tem aprendido muito sobre a maternidade e sobre si própria”.

Sente-se uma pessoa diferente? “Sim e não”, diz Inês, entre risos. Acredita que está mais “consciente e focada naquilo que faz sentido. Depois de sermos pais, não podemos perder tempo porque o tempo que gastamos com coisas que não interessam é tempo que temos a menos com os nossos filhos”, salienta. Continua, no entanto, a ser a Inês que “adora ir a jantares, divertir-se, dançar. Não quero que aos 12 anos a Margarida olhe para mim e não veja quem eu sou. Muitas vezes, por circunstâncias da vida, as mães perdem certas características, a sua identidade, já não são tão divertidas porque estão preocupadas em ser as mães perfeitas. Perdem a essência”, afirma. Por isso, faz questão de continuar a fazer as actividades de sempre com a filha, “dançar, brincar, levar a Margarida para jantares e almoços. Isso é o que somos e não queremos perder. A pandemia já nos tirou tanto. Ela tinha 11 meses quando tudo começou e é importante abrir-lhe horizontes”, realça.

Ambos já sabiam que a Margarida estava a caminho

Lembra-se do dia exacto em que soube que estava grávida: 26 de Agosto de 2018. “No dia anterior, estávamos na praia e eu disse ‘estou com um feeling que é desta’ e o Gonçalo olha para mim e atira ‘estás grávida’. Mas eu desvalorizei. Já tinha feito alguns testes, negativos, tinha sido sempre eu a ir comprá-los. Na manhã daquele dia, decidi pedir ao Gonçalo para ir ele à farmácia. Ele foi, voltou com o teste, comprou dos mais caros que já dizem as semanas, e eu só gostava de ter gravado para ver a minha cara quando soube. Ainda tentei fingir quando entrei no quarto, mas ele disse logo ‘eu já sei, não precisas de me dizer’. Ambos estávamos a sentir”, conta. Quando fez o teste, “não tinha a mínima consciência do que vinha aí, ficou simplesmente feliz porque era algo que queria muito: embarcar nesta viagem desconhecida”. Tão feliz que nem esperou o tempo recomendado para contar à família. Uma hora depois, a irmã já sabia. “Entrámos os dois a rir. Não conseguíamos dizer nada e o Gonçalo pôs a mão na minha barriga. O impacto foi grande”, recorda.

Uma felicidade afectada por uma gravidez difícil. “Vomitei até ao último dia. Ficava mal-disposta, vomitava e no segundo a seguir estava a comer. Nunca tinha passado por aquilo, antes quando ficava mal-disposta e vomitava, não conseguia comer nada a seguir. Mas virou rotina. Se passava três horas sem comer, vomitava, era a Margarida já a impor-se”, diz, entre risos. Mesmo no seu trabalho de actriz, a nova “rotina” não a abalava. “Num espectáculo, vomitei antes de entrar em cena e mesmo assim entrei em cena. O meu corpo já estava habituado”, afirma. Trabalhou até às 32 semanas até que o terceiro trimestre trouxe uma asma que a obrigou a parar. “Comecei com contracções às 34 semanas e tive de ficar em repouso absoluto”, diz. Apesar de tudo, “adorou estar grávida. Estava sempre a tentar desvalorizar os problemas. Quando soube que ia ter de ficar em casa, pensei logo que podia passar a ir ao yoga todas as semanas. Arranjava forma de contornar os problemas”, refere.

Violência obstétrica

Mas se a gravidez foi difícil, o parto foi uma verdadeira montanha-russa de emoções. Nascida no Hospital S. Francisco Xavier, em Lisboa, Inês Morais de Alarcão traçou a meta de ter a Margarida no mesmo espaço. Já tinha ido várias vezes às Urgências do hospital durante a gravidez por causa dos problemas associados que enfrentou, mas no dia 10 de Abril de 2019 a sensação era diferente. “Estava sozinha em casa, o Gonçalo estava a trabalhar, e liguei ao meu pai a dizer que estava com muitas dores e que a bebé ia nascer. Chegámos ao hospital às 12h30, eu já estava a sentir contracções desde as 8h00. Fazem-me o toque, dizem que não estou com dilatação e dão-me paracetamol para as contracções acalmarem e, supostamente, para ir fazer a dilatação em casa. Ainda assim, fizeram análises porque não se compreendia tantas contrações sem dilatação”, recorda. Ficou no Hospital S. Francisco Xavier das 13h00 até às 19h00, hora na qual o médico lhe dá um diagnóstico que Inês sabia estar errado. “Diz-me que não estou em trabalho de parto, mas sim com uma infecção urinária e receita-me antibiótico. Eu tentei explicar-lhe que durante toda a gravidez tinha estado com os níveis sempre fora do normal e muitas vezes pensaram que era infecção urinária, mas nunca era. Ele continuou a insistir e eu pedi-lhe para fazer uma ecografia para ver se estava tudo bem com a bebé. Ele perdeu a calma, começou a gritar, bateu com a mão na parede, a dizer que eu estou a duvidar dele. Eu, gravidíssima, começo a chorar. Fiquei chocada”, lembra, replicando a emoção do momento.

O curso de acção escolhido por Inês foi ligar à obstetra que lhe disse para rumar imediatamente ao Hospital de Cascais. “Foi a melhor coisa que fiz. Depois de um dia inteiro no Hospital S. Francisco Xavier, eu estava esgotada. Entro nas Urgências de Cascais e a senhora diz-me ‘a menina está em trabalho de parto’ e respondo ‘eu sei’ e começo instantaneamente a chorar porque eu sabia, desde que tinha acordado naquela manhã, que a Margarida ia nascer”, conta Inês Morais de Alarcão, com os olhos embaciados. Chama-se violência obstétrica. “É horrível que existam médicos como aquele. Há muitas mulheres a sofrer com isto. Toque invasivo, falta de educação…”, lembra. Chegada ao Hospital de Cascais, encontrou por fim uma “enfermeira incrível” com quem esteve até às 4h30 num trabalho de parto com “bola de Pilates, música, animação. A Margarida estava a demorar, ou seja, eu estava a demorar a fazer a dilatação. Às 4h30, a enfermeira vem ao meu quarto para me desejar sorte porque ia sair do turno. Eu não queria acreditar. Tínhamos feito juntas o plano de parto. Ela sai, eu adormeço cinco minutos e acordo com imensas dores, a epidural começa a perder o efeito, chamamos a enfermeira de volta e ela começa a pedir para baixarem a música. Deixámos de ouvir o coração da Margarida”, lembra. Os próximos 15 minutos foram de grande reboliço. “Foram os piores 15 minutos da minha vida. Lembro-me de ter 10 profissionais de saúde à minha volta, cada um gritava uma coisa diferente, o Gonçalo foi mandado sair no último minuto porque tinham de cortar. Não tive qualquer controlo, tinha tudo planeado e nos últimos 15 minutos… Ela quando saiu não chorou, nasceu desmaiada, eu só gritava ‘Gonçalo vai ver a Margarida’”, lembra Inês Morais de Alarcão. Desde o dia anterior, a bebé estava a perder líquido amniótico. “Eu tinha uma ruptura superior da bolsa e por isso estava a perder líquido. Comecei a ter perdas às 8h00 de dia 10 e as águas rebentaram por completo às 19h00. A Margarida nasceu às 5h de dia 11. Das 19h00 às 5h00, 10 horas, ela estava a ficar sem ar. Quando finalmente a reanimaram, tudo ao meu lado, puseram-na no meu colo durante duas horas a fazer contacto pele a pele para recuperar”, revela.

Missão cumprida: Margarida chegou ao mundo

A sensação, depois de tudo, foi de “missão cumprida. “Não parecia real tê-la nos meus braços, eu só conseguia rir, estava tão feliz, lembro-me de me sentir completa. A espera tinha acabado, ela estava aqui, era o realizar de um sonho”, confessa. Nessa primeira noite, “praticamente não dormiu. Tive um pico de adrenalina tão grande que fiquei sem dormir. No dia a seguir, as visitas diziam que não parecia que eu tinha tido o trabalho de parto que tive porque estava em alta, deixava toda a gente pegar na bebé, estava extasiada”, recorda. Já em casa, a parte mais complicada foi a amamentação. “Ela tem a boca igual à minha, o maxilar inferior retraído, não conseguia fazer sucção. Para ajudar à festa, eu tenho os mamilos pouco saídos. Queria mesmo muito amamentar e não estava a conseguir, tínhamos de dar leite adaptado, foi um processo”, conta, revelando que “por causa da amamentação teve picos de tristeza no pós-parto. Achava-me impotente, pensava ‘consegui parir esta criança mas não a consigo alimentar’. Custou-me tanto”, diz. Ainda pediu ajuda a uma enfermeira que no consultório proporcionava as explicações mas “chegados a casa voltava tudo ao mesmo. Amamentei até aos 6 meses, aleitamento misto. Ela foi crescendo saudável, é o mais importante”, refere. Tudo o resto, garante, foi “intuitivo. Estávamos a aprender mas saía natural. Lembro-me que nos primeiros banhos, o Gonçalo só dizia ‘não sei como consegues ser tão prática’. Era quase um instinto animal, eu sabia manusear”, afirma.

No processo de adaptação de cuidar de uma bebé, ajudou sobretudo a aceitação nas fases mais duras. “A partir do momento em que eu aceitei que estava a fazer o meu melhor e não me podia culpabilizar constantemente – em vez de estar sempre a sentir que estava a falhar e a errar, que é uma característica minha, o querer cumprir as coisas correctamente e se não o faço fico magoada comigo mesmo – tudo se tornou mais fácil. Desde que fui mãe, tive de aprender a aceitar e as coisas começaram a fluir. Temos de acreditar que somos as melhores mães do mundo, que aquilo que fazemos por aquelas crianças é o melhor, se outros fazem de outra maneira é indiferente, deixei de me preocupar com o que faziam os bebés dos outros”, afirma. O mais desafiante em ser mãe? “Só vais saber se fizeste um bom trabalho daqui a 20 anos. Ao longo do percurso, vais vendo pequenas conquistas, como no outro dia numa reunião da escola em que o director nos disse que a Margarida estava muito desenvolvida, tinha um nível de comunicação acima da média, era muito expressiva. Isso é uma vitória para nós enquanto pais, mas eu só vou saber se o que eu estou a fazer foi bem feito quando ela for uma adulta consciente, com compaixão, uma pessoa extraordinária. Todos desejamos que os nossos filhos sejam melhores do que nós fomos”, confessa Inês Morais de Alarcão, determinada a dar à filha as “ferramentas” necessárias para lidar com qualquer situação. “O nosso objectivo enquanto pais é que ela consiga digerir as coisas menos boas que a vida sempre vai ter e tentar não lhe passar fardos nossos, inconscientes, que muitas vezes nem nos apercebemos do impacto que têm no crescimento de uma criança. Elas são pura inocência. Cada vez vemos mais crianças e cada vez mais novas com problemas psicológicos a serem acompanhadas. Gostava que a Margarida conseguisse criar as suas próprias ferramentas para lidar com qualquer situação”, salienta.

Say Yes to Mammy: uma comunidade companheira

Toda esta viagem foi documentada praticamente desde o início na página de Instagram Say Yes to Mammy. “Criei-a quando estava de três meses de gravidez. Sentia-me muito sozinha. Eu era a primeira grávida das amigas, da família, a primeira em tudo. Continuei a tradição porque também tinha sido a primeira filha, neta, sobrinha. A única pessoa com quem eu falava era com a prima do Gonçalo que já tinha um filho. Comecei na minha página de Instagram pessoal a seguir algumas pessoas, mamãs, mas a distância era grande e, mais do que isso, eu sentia que tinha algo a dizer”, revela. Ouvia as amigas que queriam ser mães a colocar-lhe “um mar de questões” e predispõe-se a “desmistificar bichos-de-sete-cabeças impostos culturalmente. Quando me põem muitos problemas, eu encaro-os como desafios. Queria falar, fosse para 50, 500 ou 5000 pessoas, sentia que tinha muita coisa para dizer. Já em miúda escrevia muito, especialmente quando estava triste, era a minha forma de me expressar, o meu escape. Ainda lidei com a questão de expor a criança ou não, mas decidi avançar. Queria responder às dúvidas e inspirar mulheres e jovens”, afirma.

E de uma ideia para combater a solidão e apoiar outras mamãs nasceu uma comunidade. “Trouxe-me companhia, passei a ter companheiras de gravidez, mães de primeira viagem, com quem eu partilhava, tinha uma comunicação directa estavam a passar o mesmo que eu, era fantástico”, diz, explicando que “a página tem um crescimento evolutivo face ao tempo que lhe dedica. Gosto muito da comunidade que criei, tenho aprendido muito. No outro dia, estava a reflectir sobre o Instagram, a pensar porque vale a pena continuar e lembrei-me das pessoas que me tornaram uma mãe melhor. Mais do que inspirar, é sobre ter impacto. Se eu sou a mãe que sou hoje é graças a essas pessoas e há muitas mães que sentem isso em relação a mim porque viram algum post que mudou a sua perspectiva sobre um assunto, e é esse o impacto que desejo ter. Não quero ser mais uma página de mamãs que mostra uma bebé gira. Tenho em mim sempre a função de informar e educar”, sublinha.

Para as recém-mamãs, deixa três conselhos simples: “Aproveitar. Descomplicar. Está tudo certo”.

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