Começaram a receber pessoas de todo o mundo para dormir no seu sofá, seguindo a filosofia do couchsurfing, e entre eles conheceram uma família com três crianças que viajava pelo globo. O bichinho ficou e Diana Rocha e Pedro Duarte começaram a planear a sua própria grande aventura que os levaria, com os filhos Inês, Marta e Pedro, a conhecer dezenas de países e lugares e a viver momentos que, mais do que belas fotografias, trouxeram aprendizagens para a vida.
Curiosos com o mundo que vivia lá fora e sem planos para viajar, Diana Rocha e Pedro Duarte abriram as portas de sua casa a quem precisasse, através da plataforma de couchsurfing, de um sítio para pernoitar. Os viajantes vieram de várias partes do globo e “trouxeram o mundo para dentro de casa” em “experiências muito enriquecedoras” que lhes permitiram “absorver a cultura de outros países”. Uma dessas estadias ficou reservada para uma família australiana que com os seus três filhos viajava de país em país coleccionando momentos e memórias. “A partir daí, plantou-se o bichinho em nós”, conta Diana Rocha. A ideia foi “amadurecendo” e o sentimento de que o dia-a-dia “não os preenchia” foi crescendo. “Não passávamos tempo suficiente com os nossos filhos, as exigências da vida profissional eram muitas, não estávamos presentes da forma que queríamos; então decidimos dar o salto”, revela. Um bocado “empurrado” pela esposa, Pedro Duarte embarcou nesta decisão e os dois começaram a ler, a pesquisar e a planear aquela que seria a maior viagem das suas vidas.
Tudo começou com o exercício de desprendimento das coisas, das pessoas, dos empregos. “O mais complicado foi o desprendimento da parte profissional. Eram muitos anos a trabalhar em cargos de responsabilidade, uma rotina fixa muito exigente, e pus-me a pensar como seria o futuro, ia deixar aquilo e depois? Será que conseguia voltar? Foi o primeiro embate do desapego”, diz Pedro Duarte. Deixar a família custou menos porque já vivem longe dos pais e acabaram por conseguir arranjar uns cuidadores temporários para a cadela Luna, um casal de amigos que tinha acabado de perder o seu animal. “Fomos com o alívio de que quando regressássemos a Luna estaria à nossa espera”, afirma Pedro Duarte. A preparação demorou, no total, cerca de um ano. “Começámos a pensar a nisto a sério no início de 2017 e fixámos a data de ida para Abril de 2018”, refere. O itinerário, esse, foi mudando. “Queríamos começar por África, até porque tínhamos muitos contactos de couchsurfing, mas quando vimos as dificuldades de transporte, o risco, mudámos de ideias e acabámos por fazer todos os continentes menos África”, conta Diana Rocha.
As preocupações eram muitas – estar longe da família e amigos, tirar os filhos da escola, o dinheiro preciso para viajar – mas esta última foi um factor decisivo na escolha dos locais e visitas. “Os motivos das escolhas foram sobretudo economicistas, escolhemos destinos em que as viagens de avião para cinco pessoas fossem acessíveis e nos levassem para outros continentes, e onde tivéssemos a possibilidade de alojamento a nível de couchsurfing”, explica Diana Rocha, brincando com o facto de ser muito “Tio Patinhas” e poupar cada cêntimo para investir naquilo que gosta de fazer. “As pessoas pensam que somos ricos para nos metermos numa aventura destas, mas não, somos pessoas remediadas, que vivem do seu trabalho, sem heranças, sem suporte familiar. Somos muito poupados”, diz. Pedro Duarte conta que definiram um orçamento diário e dentro dele estabeleceram prioridades. “Os países do primeiro mundo são mais caros, mas aí tínhamos muitas famílias que nos queriam receber, porque tínhamos um perfil com boas avaliações, e poupámos dinheiro no alojamento; nos outros países, não arriscámos tanto em couchsurfing, mas os preços são mais acessíveis do que aqui na Europa. Conseguimos, por exemplo, uma refeição para cinco pessoas a 15€ ou uma noite num hotel de quatro estrelas por 20$. Compusemos o nosso orçamento com este equilíbrio”, salienta.

Indo eu, indo eu a caminho do mundo inteiro
O dia da partida acabaria por ser a 27 de Julho de 2018 com destino a Toronto, Canadá. “Quando desistimos da ideia de começar por África, pensámos que se não íamos arriscar em algo completamente diferente, então íamos começar por algo parecido com o continente europeu e iríamos desbravando depois”, diz Pedro Duarte. As crianças estavam entusiasmadas mas, inicialmente, preocupadas. “Notámos a diferença no comportamento delas. Nas primeiras vezes, tinham medo, nas viagens de carro perguntavam ‘e se nos fazem mal? não conheces estas pessoas de lado nenhum’. Batíamos à porta e eles ficavam na expectativa, a olhar, depois entravam e ficavam quietos no canto da sala. Passado um mês, as pessoas abriam a porta e eles entravam logo, descalçavam-se, ocupavam a casa, era tudo deles”, conta Pedro Duarte. A filha mais velha do casal aprendeu a falar inglês durante a viagem para comunicar com quem ia conhecendo. “Aprendeu a falar inglês fluentemente. No início, as crianças usavam o telemóvel para falar com as pessoas, para traduzir, mas depois chegou uma altura em que ela já falava directamente com as pessoas”, conta Pedro Duarte.
Achavam que não ia ser “nada fácil” arranjar alojamento em couchsurfing para uma família com três filhos mas “foram surpreendidos. No Canadá, ficámos duas semanas em couchsurfing com uma família com filhos numa casa onde só havia uma casa-de-banho. De manhã, era uma fila à espera para usar a casa-de-banho…”, diz, entre risos, frisando: “Eram pessoas com empregos que se predispunham a receber-nos porque gostavam de viajar e estavam habituadas”. Diana Duarte garante que no estrangeiro “viajar desta forma com crianças e tirar anos sabáticos em família é perfeitamente natural. É a diferença de abrir horizontes”, aponta. Os filhos, “fora do ambiente deles e habituados a uma vida familiar pacata”, viram-se embrenhados numa rotina contínua de mudança de casas, mas mostraram-se mais resilientes do que os pais estavam à espera. “Alinharam em tudo, levaram as mochilas, carregaram as coisas. Nestas pequenas aventuras é que vemos a fibra dos miúdos. Um dia fizemos 18km em Nova Iorque, estamos a falar de crianças que na altura tinham 10, 8 e 6 anos. Reagiram com entusiasmo e ao longo da viagem acumularam recordações fantásticas. Nem tudo foi fácil, mas desenvolvemos neles resiliência e capacidade de adaptação à mudança”, diz, orgulhosa, Diana Rocha.
Havai, o Paraíso na Terra
Foram do Canadá para os EUA por via terrestre e o plano era partir daí para a Austrália. Ainda em Portugal, a par do bilhete para o Canadá, tinham comprado um bilhete de Honolulu (Havai) para Melbourne (Austrália) e reservado a caravana Jucy que seria a sua casa durante dois meses no continente australiano. “Vimos um bilhete baratíssimo a partir de Honolulu e pensámos que seria fácil ir dos EUA para o Havai. O bilhete do Havai para a Austrália era económico, mas ir dos EUA para o Havai não era nada económico”, revela Diana Rocha. Ainda assim, não se arrependem da escolha que lhes pesou no orçamento porque o Havai, descreve Pedro Duarte, “é o Paraíso na Terra. Toda a gente devia ir pelo menos uma vez”, afirma. “Só de lembrar a sensação de estar naquelas ilhas… Valeu a pena”, recorda Diana Rocha.
Tantos sítios que fascinaram, como “os parques nacionais dos EUA – Bryce Canyon, Yellowstone, Yosemite” ou a Nova Zelândia pelas “magníficas” paisagens. “A beleza natural do país é excepcional, mas confesso que fiquei desiludido pela maneira de ser das pessoas na Nova Zelândia. Sempre tive o sonho de conhecer a Austrália e a Nova Zelândia, mas este último é extremamente caro e não tratam bem os turistas, os serviços são fracos, aluga-se, por exemplo, um bungalow caríssimo e não tem lençóis, tudo é pago à parte”, aponta Pedro Duarte. “Foi o país que nos fez exceder o nosso orçamento diário”, revela Diana Rocha. Em outros países, conseguiram compensar esse peso na balança, por vezes à custa de alguns sacrifícios. “A travessia de barco para a Tasmânia demora 10 horas e eu achei que não valia a pena reservarmos cabine para dormir porque é muito caro, dormiríamos nos assentos. Mas foi uma viagem tão agitada, mal conseguíamos caber nos assentos e com três crianças em cima de nós… Os miúdos dormiram bem, mas nós não pregámos olho. Quando chegámos à Tasmânia, exaustos, a primeira noite na caravana, tentámos abrir a tenda que tinha por cima, mas estava uma ventania tal que tivemos de dormir os cinco dentro do carro”, conta Diana Rocha.

Van Life, uma experiência enriquecedora
Os momentos de Van Life são alguns dos mais marcantes do seu álbum de fotografias e memórias, especialmente aqueles passados na Austrália. “Foi das melhores experiências que tivemos, por exemplo, parar a caravana e cozinhar à beira da estrada. A Austrália tem em muitos sítios parques para as caravanas pararem, com grelhadores, mesas, casas-de-banho, muito boas condições, tudo gratuito. É um país muito preparado para pessoas que estão a viajar”, explica Diana Rocha. A experiência de viver em caravana não acabou, contudo, com a viagem à volta do mundo. Regressados da Suécia, o último país na rota, aterraram em Portugal exactamente 10 meses depois do início desta grande viagem, no dia 27 de Maio de 2019. Tendo deixado tudo para trás, inclusive a casa onde tinham vivido, decidiram enveredar por “uma experiência ainda mais radical do que viajar pelo mundo. Como não tínhamos casa para onde voltar e conhecíamos algumas comunidades, resolvemos ir viver para uma comunidade em Nisa. Instalamo-nos lá, vivíamos dentro de uma caravana, enquadrada dentro da comunidade, um sítio sem água quente, em que se cultivava os próprios alimentos, e sem o conforto da vida moderna”, lembra Diana Rocha.
A intenção era “viver em consonância com a Natureza” e usufruir da “entreajuda entre famílias”, continuando a levar a cabo o ensino doméstico a que tinham habituado os filhos durante a viagem. “Ficámos seis meses, mas não nos adaptámos, a comunidade era demasiado radical. Viver de forma sustentável não tem de querer dizer viver mal”, salienta Pedro Duarte, e a esposa complementa: “Havia uma total ausência de conforto que eles quase faziam questão que não existisse. Uma coisa é produzirmos a nossa própria energia, outra é não termos qualquer tipo de energia, nem água quente. Optámos por vir embora e regressar à vida que tínhamos antes”. Voltaram a Aveiro e à rotina apartamento-trabalho/escola mesmo a tempo do início da pandemia. “Quando voltámos à vida tradicional, rebentou a pandemia. Fizemos a viagem num timing perfeito. O mundo mudou muito, houve uma reformulação na forma de viajar. Hoje já não poderíamos ficar no Canadá naquela casa com nove pessoas e apenas uma casa-de-banho”, diz Pedro Duarte.

Saudades do ensino doméstico
A readaptação correu bem para Diana e Pedro, menos bem para as crianças – Inês (14), Marta (11) e Pedro (9) – que sentem falta do ensino doméstico. Inicialmente foi difícil para o filho mais novo do casal, que ainda nem tinha entrado na escola quando os pais decidiram embarcar, aprender a ler e escrever. “Tínhamos boas intenções, queríamos manter o ritmo de ensino e pensei que ensinar o meu filho a ler e escrever seria estimulante e que ele ia adorar aprender, assim como as irmãs, mas ele odiou, foi uma luta difícil. Com as meninas foi mais fácil porque já sabiam ler e escrever e tinham o hábito do estudo”, diz Diana Rocha, explicando que não ensinavam “segundo o plano curricular, mas ensinavam outras coisas que ambos valorizam. Resultou muito bem com o meu filho, agora é um apaixonado por História e guerras, se calhar fruto de ter visitado tantos museus, monumentos, e vivenciado momentos que lhe acenderam a chama da curiosidade”, afirma.
Com formações complementares – Pedro Duarte da engenharia, Diana Rocha das Ciências Sociais – acharam que tinham “o leque de ensinamentos” necessários para ensinar, mas cedo descobriram que a “parte motora, como aprender a ler e escrever, exige rotina e em viagem não se consegue providenciar rotina. Se tiverem filhos com 5/6 anos mais vale fazerem primeiro a primária e pensarem na viagem depois”, aconselha Pedro Duarte. Já Inês e Marta, as duas filhas, “perceberam que ter dois professores dedicados só para elas as beneficiava e aproveitaram todos os momentos para evoluir. A nossa filha mais velha, quando chegámos, fez exames de equivalência ao 6.º ano, 8 exames em 2 semanas, e tirou 4 e 5 em todos. Já não sabemos o que é forçá-la a estudar, ela estuda sozinha, tem notas excelentes. São as duas são completamente autónomas”, referem, orgulhosos.
Por terem tido uma educação tão diferente durante quase um ano das suas vidas, pedem constantemente aos pais para regressar ao ensino doméstico. “A Marta revolta-se, como eu própria me revolto, com o actual currículo escolar. O nosso método de ensino está estagnado, aquilo que ensinamos às crianças é obsoleto e ela sente-se frustrada porque sente que não está a aprender o que precisa para o futuro, é uma miúda que gostava de aprender outras coisas e de outra forma”, afirma Dia Rocha. “A escola não é muito eficiente em termos de ensino. Aqui em casa, ensinamos numa semana mais do que eles aprendem num mês ou dois na escola”, diz Pedro Duarte, e a esposa acrescenta que “não os preparam para a vida. Há tanta coisa para explorar e a escola ficou cristalizada a servir o propósito da revolução industrial do século XIX”, atira Diana Rocha. O bom da escola? “A socialização. As nossas filhas dizem-nos constantemente que querem voltar a ensino doméstico, é como elas gostam de trabalhar, com autonomia, mas neste momento não temos essa possibilidade a achamos que elas têm de conviver e reforçar a parte social, fazer amigos”, diz Pedro Duarte.
Necessidade de um bom planeamento
Para trás ficou uma viagem “maravilhosa” que recomendam a quem tenha espírito de aventura. Para isso, deixam alguns conselhos, realçando a necessidade absoluta de um bom planeamento. “Senti uma grande tranquilidade ao longo de toda a viagem porque fizemos um bom planeamento. Por exemplo, fizemos um seguro de saúde que dava para qualquer país. Quando estávamos nos EUA, a minha filha teve uma infecção de pele e tivemos de ir ao hospital. Lá, a saúde é muito cara, submetemos os papéis ao seguro e não houve problema. Ela esteve 10 minutos no hospital e pagou 360$, um absurdo”, alerta Diana Rocha. Além do seguro de saúde, fizeram um seguro das viaturas que alugavam. “Aconteceu uma pedra vir projectada numa auto-estrada nos EUA e estilhaçar o pára-brisas todo. Accionámos o seguro e cobriu tudo”, revela. Ainda, dois utensílios essenciais: um cartão que não cobra taxas de câmbio, como o Revolut, e Internet assegurada. “A fantástica caixinha mágica Skyroam que nos permitia ter Internet em qualquer país do mundo foi fantástica e evitou que andássemos a comprar cartões SIM em todos os países. Ter Internet é uma rede de segurança permanente, fez-me sentir segura e confortável”, refere Diana Rocha.
Ponderaram aquilo que “podia complicar a viagem ou fazer gastar muito dinheiro” e delinearam soluções para os quatro principais problemas que poderiam acontecer: doença, acidentes, comissões e Internet. Esta última foi muito útil especialmente para manter o contacto com a família que ficou em Portugal. “Fazíamos videochamadas no carro quando íamos de um sítio para o outro. Vivemos longe dos nossos pais aqui em Portugal, portanto até acabamos por falar mais vezes com eles enquanto andávamos em viagem”, diz Diana Rocha. “No dia-a-dia é sempre a correr, chegámos a casa cansados. Na viagem sentíamos essa necessidade de manter aquele elo. Em todas as oportunidades, ligávamos aos avós”, complementa Pedro Duarte. Ao longo da viagem, iam também partilhando no blogue e na página do Instagram Becoming Travellers o registo das suas aventuras. “As pessoas que nos seguiram deixavam recomendações”, conta Diana Rocha, admitindo que era mais uma forma de partilha com a família e amigos do que propriamente uma maneira de alcançar novas pessoas.

Gene nómada a despertar
Dois anos depois, já sentem muitas saudades de viajar. “Quando regressámos, eu vinha cansado”, diz Pedro Duarte. “Eu não, por mim ficava”, contrapõe Diana Rocha, rindo. Foram experiências muito ricas em conhecimento que lhes permitiram contactar com o melhor e o pior do ser humano. Em Los Angeles, surpreenderam-se com a qualidade do alojamento. “Nunca imaginámos que uma senhora de uma das zonas mais ricas de LA resolvesse que era interessante para os filhos participarem no couchsurfing”, afirma Diana Duarte. No Cambódia, descobriram que “lavandaria self-service” não tem o mesmo significado em todo o lado. “Era uma lavandaria ao ar livre, aproximamo-nos e tinha uma série de máquinas. Estava uma senhora a receber o dinheiro e diz-nos para deixarmos a roupa e voltarmos daí a uma hora para recolhermos a roupa limpa e dobrada”, conta, rindo. Também no Cambódia e no Vietname aprenderam que nem toda a gente tem boas intenções. No primeiro, constataram a existência de dois menus com preços diferentes num restaurante, um para os locais e outro para os turistas; e no segundo lidaram com ofertas “envenenadas” de tirar fotografias a um preço dez vezes maior do que o estipulado. “Ficou a tristeza de sentir que o turista estava ali para usar. E nós nem sequer nos sentíamos turistas, mas sim uma família em viagem. Houve muitas situações no Vietname em que nos resguardamos por receio”, confessa Diana Rocha, acrescentando que “mal se aproximam estão com segundas intenções, de levar dinheiro ou tirar algum benefício”.
Em completa oposição, a Tailândia foi o país que mais os encantou. “Quando partimos, fomos de mente aberta para ficar onde pudéssemos encontrar um futuro. Ficámos bastante tempo em alguns países, dois meses nos EUA, dois meses na Austrália, um mês na Nova Zelândia, dois meses na Tailândia. O único sítio que me poderia levar a trocar Portugal seria a Tailândia porque gostei do modo de ser das pessoas. Não são ricos, mas são felizes. Têm objectivos bem definidos. Vendem 4/5 refeições, atingem o seu objectivo diário e fecham o restaurante e vão para a praia. As crianças brincam na rua com segurança, o clima é bom”, lembra Pedro Duarte. Ainda assim, regressaram porque a principal lição desta viagem, salienta Diana Rocha, é que “o nosso país é absolutamente maravilhoso. Vivemos num cantinho do céu, temos algum dinheiro, um sistema de saúde interessante, um Estado que nos protege. Passámos por alguns sítios em que as pessoas têm dinheiro, conforto e é tudo muito bom enquanto têm saúde, mas se lhes acontece alguma coisa é a desgraça total, como os EUA. Portugal é um país equilibrado, tem um bom clima, boas praias, é onde se come melhor e se atinge um bom nível de felicidade”, conclui Pedro Duarte.
Além desta lição de “valorizar o país que é tãodesvalorizado aos olhos dos portugueses”, sentem-se gratos por terem “praticado o despreendimento dos bens materiais e terem passado a mensagem aos filhos de que existem pessoas tão diferentes, mas tão iguais, com as mesmas dúvidas. Acho que eles são melhores pessoas por causa da experiência que tiveram, respeitam mais o outro, são mais sensíveis às dificuldades do outro, mais poupados, com mais preocupações ecológicas porque viram, por exemplo, o retrocesso dos glaciares na Nova Zelândia e o lixo nos rios da Tailândia. Há coisas que ler nos livros não tem o mesmo impacto”, salienta Diana Rocha, que sente o seu “gene nómada do Wanderlust” a despertar novamente. “Não consigo estar muito tempo no mesmo sítio”, revela. “Sei que nunca será igual, mas confesso que já começo a sentir alguma vontade de ir. Arrependo-me de alguns sítios que não fomos ver porque estava cansado. Se fosse hoje, fazia algumas coisas de forma diferente”, afirma Pedro Duarte, ao que a esposa responde: “Estávamos cansados e temos de assumir esse cansaço de andar com a casa às costas durante tanto tempo. Tínhamos a possibilidade, por exemplo, de ir às ilhas Fifi, estivemos lá perto durante um mês e apenas fomos um par de horas. Mas as pessoas não podem ter uma expectativa de viver uma experiência destas como se tivessem a passar férias, é muito diferente”, remata.
